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| Foto: Gustavo Carneiro
"As meninas sempre precisam provar que são boas", diz Ana Laura Buriolla, de 11 anos, que domina a bola com os pés desde os 5
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A sonhada medalha não veio, mas a seleção brasileira de futebol feminino saiu da Olimpíada do Rio premiada pelo prestígio da torcida. Marta, Formiga e companhia deixaram os jogos aclamadas pelo público, o que se expressou na viralização da hashtag #joguecomoumamulher nas redes sociais. A movimentação indica uma quebra de tabu em relação à paixão nacional. Ao contrário do que se acreditava há 20 anos, quando a modalidade passou a fazer parte dos esportes olímpicos nos jogos de Atlanta, futebol é sim para mulheres.
Há duas décadas, a professora de educação física da rede estadual Lúcia Felipe, que se prepara para lançar o livro "O corpo do Brasil no jogo da vida", não encontrava meninas dispostas a jogar futebol nas quadras das escolas em que dava aulas. "Elas tinham vergonha, achavam que era coisa de homem e ninguém questionava essa ideia. Hoje acredito que 10% do preconceito foi superado", diz.
A ideia do livro surgiu nessa época, quando em uma atividade da disciplina a bola ultrapassou o muro da escola. "Pedi para uma das alunas pular o muro e resgatar a bola, mas ela achou melhor passar a tarefa para os meninos. A reação me fez perceber que a vida das meninas é cheia de muros simbólicos. A quadra só reflete a vida", diz.
Desde bem pequenas, as garotas são ensinadas a serem passivas. Por isso, nas quadras das escolas, Lúcia observa nelas uma tendência de "esperar a bola" ao invés de correr atrás. "Isso reflete também em outros aspectos, como por exemplo na crença de que devem esperar um príncipe encantado", aponta.
Lúcia garante, entretanto, que essa realidade começa a mudar. "No início dos anos 2000, quando começaram a formar times de modelos que jogavam futebol, as meninas passaram a ter coragem de praticar. As modelos eram bonitas e femininas, foi como se dessem um ‘aval’. A mídia divulgou os times e ajudou a romper o paradigma", acredita.
Desde então, só aumentam os times mistos com meninas e meninos jogando juntos. "A quebra do tabu não envolve apenas o respeito à seleção feminina, mas também o investimento na base. Na escola, os professores precisam incentivar as alunas e orientar os meninos sobre deixá-las jogar", diz.
O futuro, para ela, será andrógino, com pessoas sendo reconhecidas por aptidões e não apenas pelo sexo biológico.

As mulheres e os esportes no Brasil
1941
Decreto proíbe as mulheres de realizar práticas desportivas incompatíveis com as "condições de sua natureza"

1977
Lei torna facultativa a prática de educação física às estudantes que tivessem "prole"

1986
Legislação reconhece a necessidade de estimular as mulheres a participar das modalidades esportivas do País