Imagem ilustrativa da imagem Celebração em dobro
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Receita típica da Ucrânia, o kutiá (doce com grão de trigo, semente de papoula, mel e nozes) não pode faltar nas festas de fim de ano


A agenda festiva entre os descendentes dos imigrantes ucranianos que se instalaram no Paraná torna evidente o apreço deles por reunir a família nesta época do ano, a ponto de fundir dois calendários, o gregoriano (seguido pela Igreja Católica no Ocidente e oficial no Brasil) e o juliano (da Igreja Ortodoxa e com uma diferença de 13 dias do gregoriano). O resultado é que entre dezembro e janeiro eles vivem uma temporada de festas que se inicia com a "ceia brasileira" do dia 24 de dezembro e prossegue com a entrega de presentes para as crianças em 6 de janeiro, dia de São Nicolau, e com a comemoração do Natal, dia 7, culminando com o Dia de Reis, que no calendário juliano é comemorado no dia 19.
Na família Bachtzen, de Curitiba, a matriarca Tetianna, de 80 anos, literalmente coloca a mão na massa para garantir o sentido dessas celebrações em dobro que marcam o período. "Comemoramos o Natal brasileiro com o peru e o nosso com o vareneke (pastel cozido), o borstch (sopa de beterraba e legumes), o holubstsy (charuto de repolho ou couve recheado com sementes de trigo sarraceno) e o kutiá (doce com grão de trigo, semente de papoula e mel e nozes). O certo na tradição ucraniana é fazer os 12 pratos, um para cada mês do ano na época do paganismo e um para cada apóstolo no cristianismo, mas nem sempre seguimos", explica. Tertianna, assim como os demais filhos e netos de imigrantes ucranianos que vieram para o Estado, fazem essa distinção entre as eras pagã e cristã porque os costumes natalinos começaram antes da conversão ao cristianismo, com a homenagem ao deus do sol, Korchuma. "O fato da Ucrânia geograficamente estar entre Oriente e Ocidente interferiu muito nos hábitos e na religiosidade do povo", acrescenta a filha de Tertianna, a psicóloga Juliana Bachtzen. "A confecção de pratos tem origem no costume vindo da era pagã de se fazer um tipo de piquenique embaixo das árvores com intenção de oferenda, pois o alimento era abençoado e a reunião servia para recordar os feitos dos ancestrais", acrescenta Juliana.
Elas admitem que para dar conta de tantos pratos, a preparação começa às vésperas ou logo pela manhã do dia 7 de janeiro, data em que se comemora o Natal ucraniano.
Em muitas regiões da Ucrânia as cerimônias religiosas duram aproximadamente 40 dias. "Para a nossa família, além de todo o significado religioso, todas essas festividades representam o término de mais um ano e a renovação da esperança que o próximo será melhor, ainda mais quando o ano que termina foi difícil, como 2016. A força do matriarcado é outra tradição na Ucrânia, e nesse aspecto fico muito feliz de ter conduzido bem a nossa família, que se esforça para estar junta nesta época do ano e por ver que minhas filhas vão repassar os nossos costumes para as novas gerações com as influências dos novos integrantes ao clã", avalia Tertiana. Ela conta que por influência do genro português, o bacalhau, por exemplo, foi incorporado ao cardápio das festas de final de ano.