Primeiro lote do tecido a vir para a América tinha o número 501, que se tornou sinônimo de um dos modelos mais clássicos
Primeiro lote do tecido a vir para a América tinha o número 501, que se tornou sinônimo de um dos modelos mais clássicos | Foto: Shutterstock


É praticamente impossível pensarmos em moda e não falarmos de jeans. Atemporal, despojado, vai do trabalho para a balada e está praticamente em todos os ambientes. Apesar do visual rústico, vai se tornando cada vez mais confortável com o passar do tempo e até "adquire" a forma do corpo de seu dono. O mais interessante de tudo isso? É que o versátil tecido começou de forma totalmente despretensiosa, na forma de uniformes de trabalho.
O estilista Anselmo Santos, mais conhecido como Mister Jeans, conta que o jeans começou com Levi Strauss – futuro fundador da Levi Strauss & Co, na época da corrida do ouro no oeste americano, em 1853. "Ele vendia um tipo de lona pesada, para cobrir barracas e ao ver a necessidade dos trabalhadores por roupas mais resistentes, fez calças com essa lona. Porém, ela era muito grossa e machucava a pele. Ele então ficou sabendo que trabalhadores do porto de Gênova, na Itália, usavam roupas de um tipo de tecido de algodão feito em Nimes, na França. Era resistente e mais macio. O nome jeans, inclusive, teria vindo de Genes, que era Gênova em francês e foi se modificando com o passar do tempo e o sotaque", explica.

O primeiro lote de tecido a vir para a América tinha o número 501, que se tornou sinônimo de um dos modelos mais clássicos de calças jeans. Vendido até hoje no mundo todo, tem a mesma modelagem e permite que uma calça comprada em qualquer lugar do planeta seja igual às compradas no Brasil.

Posteriormente, Strauss se uniu a Jacob Davis, que produzia rebites de cobre para correias de cavalo. O peso das pepitas de ouro e das ferramentas fazia os bolsos caírem e com os rebites esse problema foi solucionado. A cor azul, vinda do tingimento índigo, também chegou depois. No início as calças eram marrons, já que não existia preocupação com a estética. É justamente por causa desse tingimento, que fica apenas na superfície da peça, que o jeans vai ganhando novos tons de azul com o passar do tempo.

"As calças jeans se popularizaram nos anos 1930, quando a classe média alta passou a usá-las para andar a cavalo. Mas foi com os filmes de cowboys que elas se tornaram realmente populares. Na 2ª Guerra Mundial, o uniforme de descanso dos soldados era feito com o jeans. Já nos anos 1950 o jeans se tornou proibido em escolas e igrejas, devido à sua imagem de rebeldia", conta Santos.

Não demorou muito, entretanto, para o jeans voltar com tudo. O movimento hippie nos anos 1960, com destaque para o Festival de Woodstock, aderiu ao tecido com suas calças bocas de sino. Já o responsável pela estreia do jeans na passarela foi Calvin Klein, na década de 1970. De lá em diante o tecido foi se aprimorando mais e mais, com tecnologia agregada, o que faz com o jeans transite em quase todos os lugares.

Santos conta que os brasileiros são apaixonados pelo tecido, sendo o Brasil o segundo maior produtor mundial e o terceiro maior mercado consumidor. "No Brasil, o primeiro par de calças jeans foi fabricado em 1948, era a calça Rancheiro."

Segundo o estilista, o jeans provocou uma evolução não só no tecido mas também em termos de design. Há também todo um maquinário específico para o trabalho com o tecido. "Uma calça feita em casa nunca irá ficar igual às industrializadas, justamente por causa desse maquinário especial", destaca.

Se no início o algodão era a matéria-prima principal, hoje já são produzidas calças jeans biodegradáveis, que se decompõem em dois anos, feitas de uma mistura de linho e cânhamo. Até a seda já foi usada para a produção de um jeans mais macio e destinado ao mercado de alto luxo. Fabricado de maneira artesanal, ainda não é vendido de forma industrial, segundo Santos.

"Hoje temos do jeans com repelente de insetos ao redutor de celulite, passando por aquele com tecnologia de resfriamento do corpo, além do repelente a líquidos. Há calças em que é possível desrosquear os botões e usar em outra peça, colaborando com a sustentabilidade, uma preocupação das empresas atualmente", finaliza.