Anésio Sitta, 80, nunca provou outro café senão o próprio, cultivado e processado em casa. Da infância, quando morava na zona rural, lembra-se dos grãos percorrendo as etapas que hoje se repetem no quintal de forma menos braçal. Sitta o faz por prazer.

São nove pés de café crescendo em ambiente urbano. Quatro que se misturam entre as flores, enfeitando a varanda. Outros cinco que nasceram por acaso na mini floresta que Sitta tem orgulho de cultivar. "A gente tem bastante coisa, horta, frutas, flores, vez ou outra um parente leva alguma coisa", ostenta.

Quem vê a casa no centro de Cambé não imagina que os fundos guardam um galpão de ferramentas em meio a tanto verde. É nesse local que o café nasce e vira pó. No primeiro processo, já é possível notar a peneira com os grãos deitada no chão. "Esse aqui está secando. Dependendo do tempo, da umidade dor ar, leva uns dez dias para ele terminar de secar", aponta.

Anésio Sitta, 80, produz o café no quintal de casa e diz que nunca provou outro. Veja vídeo utilizando tecnologia da Realidade Aumentada
Anésio Sitta, 80, produz o café no quintal de casa e diz que nunca provou outro. Veja vídeo utilizando tecnologia da Realidade Aumentada | Foto: Fotos Gustavo Carneiro



Com energia, Sitta ajeita a peneira, joga os grãos para cima e ri da confusão de cores entre eles. "Alguns não amadureceram certinho, tem uns que estão verdes e outros vermelhos, na hora de colher eu acabei pegando desigual", desculpa-se.

Dali, caminha para outra parte do quintal, local onde deixa a máquina que limpa o café, o descascador. O motor é improvisado mas trabalha bem. Joga os grãos secos na máquina e pega os que saem. "Depois a gente tem que selecionar, porque vem com a palha junto", explica. A casca tem outra utilidade, joga na terra como adubo para suas plantas.

Ao mostrar o torrador, outro improviso. Para não ficar girando a manivela, Sitta instalou um motor no cabo da ferramenta e o posiciona em cima do fogão a lenha, assim não precisa colocar fogo embaixo do equipamento e a esfera gira sem necessidade de esforço. "Aqui ele tem que ficar por uns 40 minutos, assim não cansa o braço, mas tem que ficar atento à temperatura do fogo", diz ele, com autoridade de quem já conhece o calor ideal para não queimar os grãos.

As ferramentas duram bastante, mas não para sempre. Por isso, Sitta já tem uma de reserva. "Elas não são caras e tem coisa que eu tenho há muito tempo, eu já tenho um torrador esperando caso esse meu fique muito danificado", previne-se.

Imagem ilustrativa da imagem Aroma caseiro



Ao lado do aparelho responsável por moer, um saco de 40 quilos de grãos surpreende. "Eu tenho mais uns sete desse guardados", conta com satisfação. Como não vende a produção, as colheitas dos outros anos vão sobrando e ele estoca em sacos por algum tempo. "Aguenta alguns anos sem estragar."

O pó que sai do moedor é vermelho e tem um aroma forte. Sitta e a filha, Iracema, convida a equipe de reportagem para entrar e experimentar a bebida. "Meu filho diz que prefere o meu ao comprado. Quem toma, gosta", fala com modéstia. A verdade é que todos aprovam tanto a ponto de sempre levar consigo um pouco do "café do vô".

Cultivado com prazer, Sitta afirma que o seu café não dá trabalho. Ele faz a hora que deseja, alguns dias levanta cedo como de costume e vai torrar, outro dia põe para descascar, faz o processo de acordo com seu ânimo e, na falta dele, toma um gole do café fresco para ter energia para produzir mais.

Faça você mesmo

1 - Os grãos podem ser comprados em uma casa especializada ou pode ser do próprio quintal. O cultivo é simples, não exige muito trabalho.
2 - Após a colheita, os grãos precisam secar. Em local arejado, deixe-os descansando por alguns dias, de acordo com a temperatura e umidade do ambiente.
3 - Com os grãos já secos, coloque-os no descascador, separando os grãos da casca. A palha que sobra pode ser utilizada como adubo.
4 - Limpo, o café pode ir para a torra. Gire a ferramenta para que o calor se espalhe por todos os grãos.
5 - Com os grãos já torrados, coloque na moedora e retire o pó. Pronto, agora você pode escolher o melhor processo para filtrar e saborear o seu café.

Da planta à mesa

Em Londrina há muitos lugares especializados em ferramentas que fornecem equipamentos para quem deseja processar o próprio café. Segundo Gisele Fanelli, sócia e gerente da Casa das Bombas e Ferragens, é possível ter todo o equipamento, entre descascador, torrador, moedor e o kit para filtrar, por menos de R$ 350. "São equipamentos manuais, mais simples, mas existe opções de ferramentas elétricas", explica.

Para quem deseja começar a produzir, a gerente conta que os funcionários conseguem explicar como funciona cada ferramenta, mas os conhecimentos mais aprofundados sobre a produção do café normalmente já vêm com o consumidor. "Nós não damos instruções sobre a produção, mas a respeito das ferramentas conseguimos contribuir", diz.

Quem procura os equipamentos ainda são os mais velhos, que já possuem a prática, mas Fanelli conta que alguns jovens têm buscado outras formas de provar o café. "O kit para filtro individual tem atraído os jovens, porque muitos moram sozinhos e preferem fazer uma quantidade menor da bebida", informa.

Além dos instrumentos, os itens para servir a bebida também atraem consumidores. No mercado há grande variedade de bules, xícaras e canecas para agradar a todos. De alumínio, porcelana ou esmaltados, cada um tem a sua preferência, seja para um café diário ou para servir à mesa com mais estilo. Sempre é possível tornar o ato de saborear o café um ritual ainda mais prazeroso.