"Você pode usar flores quando sente que sua casa está em desarmonia", diz Lucineia Sakata, da Igreja Messiânica
"Você pode usar flores quando sente que sua casa está em desarmonia", diz Lucineia Sakata, da Igreja Messiânica | Foto: Fotos: Marcos Zanutto



Coloridas, perfumadas, delicadas ou chamativas, as flores trazem alegria e uma deliciosa sensação de bem-estar a quem as contempla. No ikebana, tradicional arte japonesa de arranjos florais, flores, galhos e folhas são utilizados como forma de materializar bons desejos. "O objetivo do ikebana é levar paz e harmonia através das flores, é o sentimento de quem está fazendo e não precisa ser algo muito elaborado, pode ser simplesmente uma flor em um copo", explica Lucineia N. Rosolen Sakata, coordenadora de Ikebana da área Londrina da Igreja Messiânica.



Ela explica que existem diversos estilos de ikebana, como Ikenobo, Sogetsu, Ohara e o Sanguetsu, criado por Mokiti Okada, que acreditava que as flores deveriam estar em todos os lugares, até dentro das prisões. "Dentro da Igreja Messiânica temos três colunas, que são o "Johrei", a "Agricultura e Alimentação Natural" e o "Belo". O ikebana faz parte da coluna do Belo e acreditamos que a flor tem uma missão, ela atrai o negativo. Se você não está bem, observa as flores e muda seu estado de espírito, fica mais feliz. Você pode usar flores quando sente que sua casa está em desarmonia", diz ela.

Diva da Silva Pires de Lima, professora de ikebana, conta que a arte nasceu na China e a princípio era algo destinado apenas aos altares. "Foram os japoneses os responsáveis por aprender e difundir a técnica, popularizando-a. Hoje são mais de 3 mil estilos e o Sanguetsu tem por objetivo a harmonia", ressalta.

Semanalmente um grupo de mulheres se reúne para confeccionar os arranjos de ikebana, que depois são usados na igreja. As flores precisam estar sempre frescas e bonitas, por isso a importância de serem trocadas semanalmente. Os materiais que ainda estão em boas condições são reaproveitados em outros arranjos.

Sakata explica que cada arranjo leva as intenções de quem os faz, de acordo com o lugar que irão ocupar. "Há ikebana de recepção, que fica na entrada dos lugares. Ali são colocados os desejos de que todos que cheguem se sintam acolhidos, para que sejam recebidos com alegria, queremos tocar os sentimentos das pessoas. Há o ikebana do altar, que traz o sentimento de gratidão e assim por diante", afirma.

A coordenadora diz que além dos arranjos para a igreja, o grupo também é requisitado por pessoas que desejam ter um ikebana em casa ou em outro órgão público e nesse caso solicita ao grupo que monte os arranjos. "Também fazemos pequenos arranjos para distribuir para a comunidade. Na verdade, qualquer pessoa pode trabalhar com as flores, não é preciso um curso para isso. Basta que não faça apenas por fazer, é preciso desejar alguma coisa para outra pessoa quando está fazendo o arranjo", ensina.

Mesmo podendo ser feita de forma mais intuitiva, durante o curso o aluno aprende a harmonizar flores, folhas, galhos e também o vaso. O primeiro arranjo que um aluno de ikebana aprende é o que traz a trilogia do sol, da lua e da terra. Segundo as professoras, o sol representaria o pai em uma família, assim como a lua seria a mãe e a terra, os filhos. "Em uma escola o sol representaria o diretor, a lua os professores e a terra os alunos. Para tudo funcionar bem, eles precisam estar em harmonia. Por isso cada galho tem um tamanho e uma posição determinados", contam.

De acordo com o tipo de vaso serão escolhidos os materiais florais a serem utilizados. Sakata diz que se for algo mais forte, como a cerâmica, são usados materiais mais fortes, como espadas de São Jorge, mais rígidas. Vasos mais delicados como louça ou cristal pedem plantas mais delicadas também. O formato do vaso também influencia na forma como o ikebana será montado, com o uso de amarrações dos galhos ou de peças auxiliares, como o kenzan, que serve para prender as flores nos arranjos mais baixos.

Crisântemo é especial
Para o ikebana, a chegada da primavera tem um significado todo especial, além, claro, de muito mais flores estarem disponíveis para os arranjos. Embora ainda esteja aguardando a sanção presidencial, um projeto de lei estabelece o dia 23 de setembro como o Dia do Ikebana. "Em alguns estados já é oficialmente comemorado, estamos aguardando apenas a aprovação presidencial para que se torne uma data nacional", explica a professora Lucineia Rosolen Sakata.

Outra data marcante no calendário de setembro e que é muito importante para o ikebana é a comemoração do Dia do Crisântemo no Japão, o Kiku no Sekku, no dia 9 de setembro. "É a comemoração do Solstício do Crisântemo, um símbolo nacional. O crisântemo amarelo é o símbolo da Família Imperial Japonesa, por isso durante esse mês todos os nossos arranjos serão feitos com o crisântemo", explica Sakata.

A professora explica que geralmente as flores são compradas em lojas comuns, porém, algumas flores especiais de origem japonesa são plantadas especialmente para os arranjos de ikebana e fornecidas por um produtor especializado. (E.G.)