Voz brasileira na Itália

Em parceria com cantora italiana, Tati Valle formou o duo As Madalenas e já projeta segundo disco | Foto: Saulo Ohara

Quem morou em Londrina no início dos anos 2000 com certeza já a ouviu cantar. Presença certa nos bares mais descolados daquela época e integrante de grupos marcantes para a cultura londrinense como o Projeto Quizomba e o Zazueira, Tatiana Valle - ou Tati Valle, há nove anos partiu para Itália. Com dupla cidadania, a ideia era estudar inglês em Londres durante um ano e voltar, porém quase uma década depois ela permanece em terras estrangeiras, sem data para voltar, embora não descarte essa possibilidade. De férias no Brasil depois de três anos, ela aproveitou para visitar parentes e amigos e também fazer pesquisas para futuros trabalhos.

Apaixonada por música, Tati conta que começou a cantar na igreja, mas foi durante o cursinho pré-vestibular que percebeu que a música poderia ser muito mais que um hobby, começou a cantar em bares e não parou mais. Aliás, ela diz que até tentou parar mas depois viu ser impossível, trancou a faculdade e passou a se dedicar aos palcos, em parcerias com diversos músicos, até ir para a Itália.

"Eu estava bem em Londrina, amava tocar aqui. Iniciei o ano apresentando o projeto de meu primeiro disco para o Promic e não foi aceito porque esqueci de colocar cópia do RG e do CPF. Sou fatalista, acho que não era para ser. Minha mãe perguntou por que eu não ia para lá, meu irmão já estava com ela. Acabei indo, fui com o pensamento de ficar um ano. Mas desde que eu entrei naquele avião, não fui mais eu que controlei as coisas. Passaram-se nove anos, que não passaram voando, é um continente que te arranca o couro, você fica muito duro, você chega e começa a ver qual o estereótipo do brasileiro lá fora e para a mulher não é nada bom."

Os últimos três anos também foram de descobertas profissionais para Tati. Depois de muitos anos tocando em bares, participado de shows, tendo gravado com cantores italianos famosos e participado de diversos programas nos canais de televisão na Itália, ela resolveu rever sua carreira e focar sua atuação em outras frentes.

"Em 2014 saiu meu primeiro disco autoral e aí dei um corte nos bares, parei, e comecei a investir no meu quarteto. Só me apresentava com eles, comecei a falar 'não' para todas as outras coisas que chegavam. Foi um ano difícil, mas eu precisava estruturar minha postura na música. Ou ia parar com tudo, porque chegava em casa e chorava. Na Itália se você toca em barzinho é porque a sua carreira não deu certo. Ou você faz show ou faz noite, a noite não tem esse valor artístico lá fora, não tem couvert. Se você está tocando nesse teatro hoje, amanhã você não pode estar tocando no bar ao lado", explica.

Foi nesse mesmo período que Tati conheceu a cantora italiana Cristina Renzetti, sua parceira no duo As Madalenas. Tendo morado cinco anos no Brasil, Cristina fala português fluente e também tinha o mesmo direcionamento musical, algo fora da política pop, como Tati chama. Com um show mais intimista e repertório de músicas de compositores variados elas rodaram a Itália.

"Não era nosso projeto principal, mas sem querer, foi uma coisa absurda, tivemos muitos convites. Viramos a Itália inteira sem ter feito um disco. Depois de um ano amadurecemos um som, uma característica, decidimos levar para o estúdio e fazer uma fotografia de um percurso que tínhamos feito com essas músicas. Eram desconhecidas e a gente via todo mundo cantando. Ficamos outros dois anos depois que saiu o disco girando com o show com esse repertório e o disco foi um sucesso, não esperávamos. Teve situações em que o disco ia parar em grandes rádios, sem sabermos como", descreve.

Depois de tanto trabalho a dupla fez um intervalo no ano passado, para a licença-maternidade de Cristina. Terminado o período de férias, As Madalenas já estudam o produção de um segundo disco, além de um outro projeto que ainda não pode ser revelado. "É algo que sempre quisemos fazer, acho que é um disco que vai estar aí antes do segundo das Madalenas. E nesse momento queremos fazer esse novo disco com músicas inéditas, composições nossas e de amigos. Estamos pedindo músicas para pessoas que gostamos, procurando material. A produção artística e musical do primeiro foi toda nossa, foi muito bacana, é muito nossa realidade. Agora já estamos querendo ter uma formação junto conosco, não sei se um quarteto, estamos procurando um produtor que poderia entender nosso conceito, que possa acrescentar. Estamos querendo ser guiadas, aquela pessoa que dentro do estúdio possa dar dicas. Sozinha é muito trabalhoso e duas mulheres juntas brigam horrores, já virou piada" diz rindo.