"Paladar não tem gênero, nem idade ou classe social. Está sendo constantemente aprimorado a partir do acesso a novos produtos", diz Marilise de Oliveira, de 30 anos
"Paladar não tem gênero, nem idade ou classe social. Está sendo constantemente aprimorado a partir do acesso a novos produtos", diz Marilise de Oliveira, de 30 anos | Foto: Arquivo Hendrix/Divulgação


Sorver a vida em todas as suas possibilidades acreditando que o próximo gole sempre será melhor e transmitir sabedoria por meio da boa bebida e da boa comida. Esse é o propósito que desde 2016 move a beer sommelier Marilise de Oliveira, de 30 anos. Calibrando o melhor da inquietação característica da chamada geração digital e do anseio por dedicar energia naquilo que faz sentido, a também psicóloga deixou dez anos de uma carreira consolidada na área de recursos humanos de grandes empresas, como Grupo Boticário, Brasil Foods e Whirpool, para investir - ao lado do marido Douglas Kleinschmidt e do cunhado Pedro Kleinschmidt - em um empreendimento, em Curitiba, que harmonizasse todos os ideais dela e de seus sócios de entregar alegria aos clientes.

No entanto, para os dispostos a experimentar além de toda a variedade de cervejas artesanais e pratos cuidadosamente concebidos visando a harmonização, a intenção de Marilise transcende a alegria. Ela quer fazer do seu negócio – a Hendrix Brew House - um bar referência no qual a clientela possa ao som de rock ampliar seu paladar no vasto universo cervejeiro (são seis torneiras de chope e mais de 50 rótulos) e fermentar valores de justiça e igualdade em um ambiente versátil e com ares medievais.

"Paladar não tem gênero, nem idade ou classe social. Está sendo constantemente aprimorado a partir do acesso a novos produtos. Acredito muito que em um ambiente de bar esses ensinamentos do universo cervejeiro e as reflexões sobre vida e sociedade podem se dar de maneira espontânea", defende a beer sommelier.

Engajada com toda a questão do empoderamento, a ponto de participar de um grupo de coaching para lideranças femininas, Marilise revela que tanto o apreço pela cerveja quanto pela sede de um mundo mais justo e igual faz parte da personalidade dela. "Cerveja sempre agradou meu paladar, desde a adolescência, tanto que quando comecei a repensar a minha carreira e me questionar sobre o que eu gostava, veio o apreço pela bebida. Isso se somou ao fato do Douglas, meu marido, também sempre desejar ter o próprio negócio e algo calcado na missão de entregar alegria", explica.

Para a guinada profissional, Marilise investiu em capacitação e foi aprimorar seus conhecimentos como consumidora no Instituto da Cerveja, em São Paulo (SP). Lá, ela teve aula com uma entusiasta do empoderamento feminino no universo cervejeiro, a também beer sommelier Kathia Zanatta, que só ampliou a convicção da jovem empreendedora de estar no caminho certo.

"Ela é uma inspiração", elogia. Mesmo com toda a formação, no dia a dia do bar não são raras as situações em que ela testemunha o preconceito de gênero ao tentar indicar o melhor rótulo a um cliente. "Há os que chegam pedindo cerveja de homem e respondo se tratar das mesmas que são para mulheres. Existe quem simplesmente não ouve qualquer recomendação quando tento apresentar o cardápio, e pede opinião para os meus sócios", revela.

Marilise segue trabalhado na solidificação do seu negócio e, a partir dele, tentando fazer diferença na sociedade. "Além de trabalhar o gênero, ainda tenho planos de que as pessoas vejam as maravilhas da harmonização da cerveja também com pratos vegetarianos, ao invés de se restringir à carne", avisa.