Há seis anos, Marielza Gomar de Rezende promove a campanha "Nanda Sempre Viva" e anualmente consegue um caminhão cheio de doações. Veja vídeo utilizando a tecnologia da Realidade Aumentada
Há seis anos, Marielza Gomar de Rezende promove a campanha "Nanda Sempre Viva" e anualmente consegue um caminhão cheio de doações. Veja vídeo utilizando a tecnologia da Realidade Aumentada | Foto: Gustavo Carneiro



Perder um filho provavelmente é a maior dor a que uma mãe está sujeita. Cada uma tem uma maneira de lidar com a perda e ajudar o próximo foi a forma encontrada pela empresária Marielza Gomar de Rezende depois da morte de sua filha Fernanda, aos 30 anos, devido a um câncer no útero, em abril de 2011.

Há seis anos ela promove a campanha "Nanda Sempre Viva", arrecadando doações de água de coco, bolachas água e sal ou de maisena, gelatina diet e copos descartáveis, que são entregues ao Hospital do Câncer de Londrina na data do aniversário da filha. Vinda de Paranavaí justamente na época em que Nanda estava doente, a empresária até hoje se diz espantada com a recepção e acolhida dos londrinenses, o que faz com que todos os anos o resultado da campanha seja excelente.

"A Fernanda veio a falecer e depois de uns seis meses que ela foi embora eu pensava que não ia chorar no aniversário dela, ela comemorava o aniversário com muita energia, muitos amigos. Pensei em fazer um almoço (para os pacientes), mas pensei que não é tudo que o doente come. Quando estava internada e conseguia tomar uma água de coco, ela avisava os amigos nas redes sociais e já pedia doação para os outros pacientes. Aí pensei: porque não dar continuidade ao que ela fazia? Mas havia pouco tempo que eu morava em Londrina, não conhecia ninguém, pensava que se eu conseguisse levar um porta-malas de carro já ficaria feliz", descreve.

A intenção era fazer a entrega das doações no dia do aniversário de Fernanda, 16 de abril. Aos poucos as doações foram chegando e Rezende conta que, quando se deu conta, viu que seria necessário mais do que um carro para fazer o transporte. "Uma amiga minha falou de levar na caminhonete, fazendo umas duas viagens. Eu não tinha noção de quantidade, aí chegou um amigo da Fernanda com 16 caixas de água de coco. Chamei meu marido e perguntei se em umas quatro viagens a gente conseguiria levar tudo e ele me disse 'Marielza, aqui na esquina tem um ponto de caminhão, vamos pegar um porque nem em 10 viagens ela vai conseguir levar tudo!'"



Desde então, todos os anos a empresária consegue levar um caminhão cheio de doações. Tudo devidamente catalogado e embalado em caixas numeradas, acompanhadas da devida descrição do conteúdo. Segundo ela, as doações seriam suficientes para atender aos pacientes até o final de agosto. Além das doações de alimentos, também são doadas quantias em dinheiro de pessoas que residem fora de Londrina, que são revertidas em produtos segundo a necessidade dos pacientes e também para complementar o almoço do Dia das Mães.

Entrar em um hospital depois da perda de um ente querido sempre é um momento de muita dor, não diferente para Rezende, que evita entrar no Hospital, se restringindo apenas ao local para entrega das doações. Alguns depoimentos, entretanto, dão forças para continuar, além da certeza da felicidade da filha. "Na segunda campanha uma senhora chegou com R$ 100. Eu sempre digo que não quero mexer no bolso da pessoa, quero que ela doe sempre. Por isso pedi que ela fosse ao mercado e comprasse uma caixa apenas e ela me disse que no ano anterior estava internada e tomou da água de coco, por isso queria que a campanha continuasse", conta.

Há dois anos Rezende começou outra campanha, realizada no segundo semestre: o Bazar do Amor. Dona de uma loja de roupas, ela ouvia as clientes comentarem sobre peças que haviam usado apenas uma vez. Surgiu então a ideia de vender essas roupas e reverter o valor para o Hospital do Câncer e o Lar das Vovozinhas.

A lição de ajudar o próximo veio da mãe, já falecida, que auxiliava pessoas em situação de rua e distribuía alimentos para os mais necessitados. "Ela sempre dizia que tinha que ajudar os necessitados e, por ter passado isso com a minha filha, vim para esse lado. E ela sempre dizia que era para fazer e ficar quieta, que você fez a sua parte. Cada um fazendo um pouquinho, a humanidade seria diferente. Tanto que eu não aceitava fazer reportagem, mas hoje acho que expondo outra pessoa pode ter a mesma ideia."

Ela faz questão de elogiar e agradecer a todos que colaboram com as campanhas, principalmente suas amigas a quem chama de "águias" e as respectivas famílias, responsáveis em separar, catalogar os produtos, consertar pequenos detalhes nas roupas, distribuir e recolher os donativos. "O Shopping Mall nos ajuda e cede uma sala. Tem que fazer a triagem e arrumação de tudo, eu tenho minhas coisas a fazer, então fazemos um revezamento e todas que vêm, querem voltar, é muito gostoso, saudável, faz bem para o coração", garante.

Ela afirma também ter certeza do auxílio de Fernanda. "Sozinha eu não teria tantas ideias. Cada trabalho que eu faço é a Nanda que está comigo. Sempre que estou sozinha penso que ela poderia estar comigo, sempre que estou com meus filhos penso que ela poderia estar conosco também. Mas em nenhum momento eu me revoltei contra Deus. Tenho meus sofrimentos, minhas angústias, minhas dores, mas pouca gente me vê chorar. Estou sempre torcendo para a campanha dar certo, é uma forma de eu seguir adiante. Eu termino e já começo a pensar em algo maior. Agora mesmo fiquei sabendo que estão precisando de cadeiras de rodas no HC e vou começar uma campanha. Também estou com novas ideias, mas é algo grande e precisarei de muita ajuda."