Rafaella Powidayko aposta em humanização do trabalho como diferencial de sua marca. "Eu tenho muito orgulho da minha cidade. Tenho vontade de expandir para outros locais e ser uma moda de Londrina pa
Rafaella Powidayko aposta em humanização do trabalho como diferencial de sua marca. "Eu tenho muito orgulho da minha cidade. Tenho vontade de expandir para outros locais e ser uma moda de Londrina pa | Foto: Saulo Ohara



Andar calmo, voz serena e sorriso meigo. Quem vê a estilista Rafaella Powidayko, 32, não imagina a rotina corrida à frente da empresa familiar Núbia. Desde a infância acompanhando os trabalhos da mãe na confecção de roupas femininas, a pequena teve uns períodos de rebeldia, mas hoje está centrada e orgulhosa de seu trabalho. "Escolher o curso de moda foi a melhor coisa que eu fiz."

Dividindo a administração com os pais, Powidayko passa todos os dias trabalhando em novas criações e desenvolvendo ideias na grife londrinense, onde atua sistematicamente há 11 anos, após a formação no curso de design de moda, pela UEL. Antes disso, participava como um processo de aprendizado, observando e treinando em vários setores da fábrica.

"Na verdade, eu trabalhei toda minha faculdade aqui. Eu vinha meio período todo dia. Eu passei por modelista, etiquetei, dobrei, preguei botão, eu fiz de tudo, mas eu não desenhava", explica. Durante o mesmo período, passou por alguns concursos, sendo finalista no Eco Fashion e Concurso do João Turin, do Paraná Business Collection, conquistou o primeiro e terceiro lugar no Criando Moda, promovido pela FIEP (Federação das Indústrias), além de vencer o Catuaí Collection de 2005.

Aluna aplicada no ensino médio, era cotada para o curso de medicina. Provocada por uma rebeldia, não queria continuar o trabalho dos pais, passando no vestibular de Farmácia aos 16 anos. Quando precisou definir o curso no fim do ensino médio, aos 17 anos, voltou-se para a moda, porque revoltar-se era opção irracional que os caprichos da rebeldia os fariam sacrificar desejos. Powidayko sempre amou moda.

E o amor veio um pouco com o contato desde a infância. "Minha mãe abriu a fábrica quando eu tinha 5 anos. Uma das costureiras, dona Maria, parava o trabalho para me ajudar com as roupas da minha boneca", ri. Entre retalhos, agulhas e tesouras, produzia e desenhava os modelos conforme sua imaginação infantil permitia.

Hoje, aos 32, orgulha-se da carreira e das transformações que vê acontecendo na marca. "Minha mãe sempre batalhou, é um exemplo de mulher. Ela fez as coisas de forma intuitiva. Eu cheguei com a parte científica, com metodologia projectual, linguagem, antecipação. Foram coisas que aprendi na faculdade", acrescenta.

Esse conhecimento não vem sem a gratidão. "Tenho vontade de melhorar as parcerias com as universidades. Como sou uma 'filha da UEL' eu sinto uma dívida e gratidão com a instituição", planeja. Da mesma forma, pensa sobre Londrina. "Eu tenho muito orgulho da minha cidade. Tenho vontade de expandir para outras cidades e ser uma moda de Londrina para o Brasil. Não só absorver o que vem de fora, mas a gente tem de crescer e mostrar que a gente é capaz", defende.

E o que Londrina é capaz? Como representante pé-vermelho, a estilista analisa que o comportamento social está mudando, e hoje acredita que há mais valorização do artesanal, produção local, não apenas em roupas, como nos setores de gastronomia e decoração.

Com isso, pretende mostrar a parte humana do seu trabalho. "Tudo que a gente faz é com amor, nós valorizamos as pessoas que fazem. A proposta é valorizar a autoestima da mulher, das famílias, para as pessoas se encontrarem e se sentirem valorizadas, que se sintam à vontade na loja e não serem intimidadas."

As cinco lojas da marca, duas de atacado e três no varejo, demonstram que o desejo está em processo de realização. "A intenção é expandir no varejo, valorizar a nossa cidade no Brasil. Fornecer mais empregos, formar parcerias". A médio prazo, a emergência de vendas via e-commerce gera pressa na estilista, que está prometendo esta opção já há algum tempo.

Enquanto isso, vai concretizando os planos e se enxergando neles como manequim que põe a roupa no corte e medidas ideais. "Minha história com a minha mãe foi se tornando a história da loja. Nós nos vestimos com roupa da marca. Hoje a gente atende uma geração, várias pessoas vão com a família comprar", conta, indicando seu público representado em mãe e filha.

"Vejo que é difícil mulheres de 40, 50 anos serem atendidas no mercado. A moda é muito cruel, atende meninas magras, bonitas, de passarela. A gente não pode deixar de atender mulheres que já foram assim, mas que atingiram idade, são bonitas e querem se vestir bem, confortável, que têm uma vida real", critica. Foi nesse ponto que acredita ter encontrado sua paixão. "Mulheres reais precisavam ser atendidas. Eu me encontrei, aprendi a amar isso aqui."

A boneca é um pouco criatura e criadora, não consegue se desvencilhar da marca, onde se fez e faz. "Para mim, a minha realização é ver as pessoas vestindo a minha roupa e se sentirem bonitas, valorizadas. É uma realização que ela consiga pagar por aquele produto, que não vá se prejudicar."

Antenada com as tendências, viaja e pesquisa referências para suas criações. Observando desde as mulheres em seu entorno até exposições de museus do exterior, Powidayko se diverte entre uma costura e outra com seu olhar treinado para observação e respeito pela experiência dos pais. "Eu sinto que estou fazendo uma coisa boa, dentro para meus colaboradores e também para meus consumidores. Isso tudo, para mim, é uma vida."