Quem tem o aplicativo whatsApp no smartphone pode ter se deparado uma vez ou outra com um texto recheado de dicas no estilo autoajuda intitulado Manual para a Vida, compartilhado à exaustão nos grupos de amigos e familiares. Para os londrinenses, a mensagem tem um gostinho ainda mais especial, já que é assinada pelo médico e professor Paulo André Chenso, radicado em Londrina desde 1959.

Mas a verdade é que o texto não foi escrito por Chenso, que nem celular tem. "Já tive e não gostei", avisa. Foi um dos alunos que chamou a atenção para a mensagem que começava a circular pelas redes sociais. "Um dia eu entrei na aula e um aluno falou 'pô, professor, legal aquilo que você escreveu', daí eu pensei que era do jornal, mas fazia dias que eu não escrevia nada e perguntei do que ele estava falando. Foi a minha filha, que também estava no cursinho, que pegou aquele tijolinho lá e me mostrou. E eu disse a ela que tinha a mais absoluta certeza que eu jamais escreveria isso aqui. A última coisa que eu ia lembrar é em autoajuda, nunca precisei", explica.

Cerca de dois anos depois, a mensagem ainda continua incentivando as pessoas a 'sorrir e gargalhar mais', a 'passar mais tempo com pessoas acima de 70 anos e abaixo de 6' e a 'desfazer-se do que não é útil'. O Manual para a Vida tem 40 dicas divididas em tópicos de saúde, personalidade, sociedade e dia a dia. "Comecei a receber mensagens no Facebook, no e-mail, aí veio a menina da Santa Casa falar que a tia dela tinha ligado do Japão para falar sobre o negócio bacana que eu tinha escrito", lembra.

"Meu nome no Japão! Mas aí veio Estados Unidos, México e quase todos os estados brasileiros. Recentemente o diretor do pronto-socorro veio me falar que eu tinha escrito um negócio bacana e que um colega dele do Rio de Janeiro tinha ligado para saber se conhecia o médico de Londrina", conta. "O que eu fiz? Estava me incomodando com aquilo, é muito desagradável, não foi eu que escrevi. O cara que escreveu vai se sentir expropriado, pode me processar. Então minha filha advogada me disse para fazer um texto bem feitinho no Facebook para explicar. Circulou uns dias, mas sumiu. Coloquei de novo e sumiu", diz.

"Fico meia hora explicando que não fui eu e as pessoas não acreditam, cansei. Mas aí passou uns meses quieto e de repente começou de novo. Vem de tudo quanto é lugar, você não tem ideia. Como é que pode fazer tanto burburinho, qualquer um pode escrever aquilo ali. Eu escrevo tantos livros e ninguém fala nada", diz, inconformado. "Qualquer dia eu vou escrever que copiei do Paulo Coelho, então vocês se dirijam a ele, não a mim", brinca. "Nossa, tive essa ideia agora, vou fazer. Fizeram comigo, vou fazer com ele", completa, rindo.

Autor de vários livros entre títulos próprios e outros compartilhados com Agnaldo Kupper, Chenso tem na história seu tema preferido para escrever. Em 2000, quando a filha foi prestar vestibular para Direito, ele conquistou uma vaga para o curso de História. "Sempre gostei de história", conta o médico, que também fez uma pós-graduação em História da Arte.

Médico há 36 anos, Chenso faz plantões no pronto-socorro dos hospitais Santa Casa e Mater Dei, mas é na Sala de Emergência que ele prefere estar. "Ali eu sinto que estou servindo para alguma coisa", explica. "Ser médico era um sonho de criança. Com uns 10 anos já queria ser médico", lembra ele, o primeiro da família a ir para a faculdade.

Muito antes da pós-graduação em História da Arte, Chenso já fazia a sua própria arte, como ilustrador das apostilas do Colégio Universitário. Era seu trabalho antes de entrar no curso de Medicina. "Como trabalhava lá, não pagava o cursinho", conta. Já como estudante universitário, se tornou professor e desde então não saiu mais da sala de aula. Os alunos, na faixa de 16 a 18 anos, rejuvenescem o professor. "Tenho medo de parar e ficar velho", conta.