"Deus me deu um dom, o de ser veterinária, e procuro aproveitar esta graça da melhor maneira", diz Suelen Gobetti, de 31 anos
"Deus me deu um dom, o de ser veterinária, e procuro aproveitar esta graça da melhor maneira", diz Suelen Gobetti, de 31 anos | Foto: Ricardo Chicarelli



Quem tem um pet sempre terá muitas coisas a dizer sobre ele. Mas apaixonados por animais, como Suelen Tulio Cordova Gobetti, de 31 anos, vão além. Compartilham a experiência com outras pessoas.

"Deus me deu um dom, o de ser veterinária, e procuro aproveitar esta graça da melhor maneira", afirma Suelen, que coordena o projeto multidisciplinar "Focinhos que Salvam", com professores e alunos dos cursos de Veterinária, Psicologia e Fisioterapia da Unifil.

Suelen é de Guarapuava, no centro-sul do Paraná. Chegou em Londrina para fazer doutorado na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e adotou a cidade. "No começo, estranhava muito o clima. Saí de uma região fria e chuvosa para morar em um lugar com menos chuva e calor, além de estar grávida de gêmeos. Hoje, eu sou mais londrinense que guarapuavana", conta a veterinária, acrescentando que os filhos estão com 5 anos.



Coordenadora do "Focinhos que Salvam", Suelen dedica pelo menos três horas do dia ao projeto de Terapia Assistida por Animais (TAA), que segue uma técnica de tratamento com animais cientificamente comprovada e objetivos específicos. Ao contrário da Atividade Assistida por Animais (AAA), mais comum no Brasil, que não segue método e planejamento.

Através do projeto em que não só cães, mas gatos e até cágados visitam hospitais e asilos londrinenses, pacientes e internos têm muita coisa a dizer sobre o contato, seja pela experiência de compartilhar a companhia dos bichos ou como resposta ao tratamento médico.

Entre os companheiros de quatro patas de Suelen estão os cães labrador Lugano, o rhodesian Barack, a maltês Luna, a gata maine coon Guimera e os cágados Tuga, Tonho e Tatá Maravilha. Juntos, eles conseguem mais do que despertar a atenção das pessoas.

"Uma das experiências que mais me tocou foi o de uma senhora de aproximadamente 70 anos, entubada e sem reação em um leito de hospital. O filho contou que a mulher sempre gostou de animais. Quando recebeu a visita de um de nossos cachorros, levantou a sobrancelha e franziu a testa", lembra a veterinária, destacando que no Hospital do Câncer, por exemplo, os terapeutas de quatro patas começam o trabalho pelo setor de cuidados paliativos e depois visitam a recepção, onde quem faz tratamento e acompanhantes podem acariciar e tirar fotos com os bichos.

Os animais não estão ali somente porque são bonitos ou fofos. O treinamento que recebem para o trabalho, orientado por Suelen, faz com que Braddock, um labrador sem uma das patas, ensine às crianças que todos são capazes, apesar das diferenças. Faz também com que o spitz alemão, Micha, que pesa pouco mais de um quilo, parecendo um ursinho, desperte o afeto dos pequenos, levando-os a contarem aos profissionais de saúde o que estão sentindo. "Médicos e enfermeiros, nessas horas, se tornam coadjuvantes", explica Suelen.

O que acontece a partir daí sempre tem o objetivo terapêutico, mas vai além, quando, Bingo, um cão sem raça definida, encontra pacientes terminais. O animal de idade avançada abre as portas para Suelen e os outros terapeutas do projeto prepararem os pacientes para enfrentar a situação, conversando sobre o processo de envelhecimento ou a brevidade do tempo.

Suelen conta que ao levarem animais para pacientes que não têm mais estímulos físicos, as pessoas parecem ficar mais tranquilas. É o que acontece, quando recebem a visita do gato Vitor, que gosta de se aninhar na gente. O aconchego transmite contato emocional, principalmente para os que não recebem visitas familiares.

"Quando vamos aos asilos conversamos com os internos sobre a relação que tiveram com os animais. Deixamos que eles falem do passado, do cachorro ou gato que tinham. Internos com mais de 90 anos de idade retomam a lucidez. É interessante notar que idosos com Alzheimer conseguem lembrar que, por exemplo, levamos um cágado diferente a cada visita", conta veterinária.

Os animais seguem uma rotina, trabalhando três semanas, com uma semana de folga e carga horária máxima por dia de 40 minutos. Além dos pacientes e internos de asilos, os bichos ensinam alunos e professores do projeto.

"Os alunos aprendem a conhecer mais as pessoas, como vivem, a realidade a que pertencem. Aprendem a lidar com as divergências porque as pessoas nem sempre darão as respostas que a gente quer", afirma Suelen.

Esta semana de Páscoa, a visita do "Focinhos que Salvam" foi especialmente às crianças internadas no Hospital do Coração – Unidade Bela Suíça, especializado no atendimento de crianças. Luna, Lugano, Quimera, entre outros cães e gatos, e um coelhinho de verdade, levaram ovos de Páscoa às crianças internadas na instituição hospitalar. Como Suelen e muitas outras pessoas que têm bicho de estimação, depois dessa visita os pequenos terão muitas histórias para contar.

Imagem ilustrativa da imagem Meus amigos bichos