Em sua rápida passagem por Londrina, Thaís Faggion Vinholo diz que sonha em fazer filantropia como médica: "Pensava muito em ir para a África, mas por que não no Brasil?"
Em sua rápida passagem por Londrina, Thaís Faggion Vinholo diz que sonha em fazer filantropia como médica: "Pensava muito em ir para a África, mas por que não no Brasil?" | Foto: Fábio Alcover


A londrinense Thaís Faggion Vinholo poderia ter sido apenas mais uma entre os milhares de intercambistas brasileiros que passam uma temporada de estudos fora do País e voltam para casa após alguns meses. Mas para ela a temporada norte-americana ganhou novos rumos pessoais e profissionais. "Era para eu ficar um ano, mas já estou lá há 12 anos", conta Thaís, que esteve em Londrina na semana passada para uma rápida visita à família e amigos.

A recente viagem ao Brasil não foi a passeio, pelo contrário. Durante os quase três meses que passou em Salvador (BA), Thaís se desdobrou em atendimentos e pesquisas para o estudo sobre o surto de microcefalia associada ao vírus da zika, com orientação do professor Albert Ko. Não foi a primeira vez que Thaís esteve no Brasil para participar de pesquisas. Para seu mestrado, utilizou os dados coletados durante o período que passou em Natal, onde o brasileiro Miguel Nicolelis montou um centro de pesquisas.

"No meu terceiro ano de faculdade, conheci o Miguel Nicolelis, que é um dos top neurocientistas do mundo. Ele foi meu mentor no mestrado e minha inspiração no mundo da ciência", explica. Thaís aponta para as diferenças dos cursos de Medicina aqui e nos Estados Unidos. "Lá, primeiro tem o bacharelado de quatro anos, em que se aprende as matérias mais básicas. Depois vem o doutorado, porque lá o médico tem mesmo que ser doutor. Eu optei por fazer o mestrado antes e agora estou no doutorado. Ainda faltam três anos para terminar", aponta.

"Só contei para os meus pais que tinha aplicado para a faculdade. Ao contrário do pessoal que aplica para várias faculdades, só apliquei para uma, a de Charlotte", lembra a londrinense. "Sim, para o estrangeiro é um pouco mais difícil entrar numa faculdade americana. E foi uma surpresa porque eu já estava no Brasil há uns quatro, cinco dias e tive que voltar."

Ao eleger a medicina como profissão, Thaís seguiu os passos do pai, o cardiologista Flávio Vinholo, falecido há quatro anos. "Meu pai sempre foi minha inspiração, mas eu percebo isso mais hoje do que quando optei pelo curso. Se tem um médico que quero ser igual é o meu pai", enfatiza. "Penso em seguir a cardiologia, mas fiquei bem mexida com a neuropediatria agora", diz.

Para Thaís, as pesquisas na Bahia foram uma experiência e tanto. "Em Natal, encontrei a estrutura dos Estados Unidos. Mas em Salvador, eu estava em um hospital público, onde a revisão de prontuário é no papel e lá (nos EUA) é eletrônico faz muito tempo. Foi um choque com certeza e também um aprendizado para entender como a saúde funciona. Nunca tinha trabalhado em um surto epidêmico, aprendi muito. Tudo a gente tem que ir descobrindo. E ao cuidar das crianças a gente está aprendendo. As mães chegam com muitas incertezas e a gente ainda não tem as respostas. Isso é assustador", diz.

Durante o tempo que ficou em Salvador, a londrinense participou de uma matéria da CNN, com o correspondente médico Sanjay Gupta, o grande especialista da rede de TV norte-americana. Gupta veio ao Brasil para conhecer o projeto do qual Thaís fez parte. "Ele disse que 'quando aconteceu para vocês (brasileiros) foi uma surpresa, agora que está acontecendo com a gente, nós podemos aprender as lições com vocês'", conta.

"Meu principal objetivo é ser uma médica com hobby de pesquisa. Estou com um interesse por saúde pública, epidemiologia. E neuropediatria também, são muitos interesses", diz. Mas ela tem uma certeza, de reservar um tempo para a filantropia. "Talvez com o Médicos Sem Fronteiras. Meu sonho é trabalhar nove meses e nos outros três meses fazer filantropia. Pensava muito em ir para a África, mas por que não no Brasil?", adianta.

"Não sei o amanhã. Tem muita coisa para acontecer ainda. Deus tem colocado pessoas muito especiais no meu caminho, que cuidam de mim. Então vou indo", diz.