Imagem ilustrativa da imagem Experiência que faz a diferença
| Foto: Celso Pacheco
Márcia Aversani: "A ginástica não é como no futebol que você leva um gol, corre atrás e empata. O aparelho não pode cair, a ginasta não pode cair, por isso treinam tanto"




Não serão só nas quadras, tatames e pistas que os brasileiros estarão presentes nesta Olimpíada. Além dos voluntários, árbitros de diferentes modalidades também representarão o País, entre eles a londrinense Márcia Aversani. Coordenadora do curso de Educação Física da Unopar, ela foi ginasta por 10 anos sendo cinco deles na Seleção Brasileira, se formou em Educação Física, fez especialização em Ginástica Rítmica e mestrado e doutorado também em Educação Física. Hoje divide o tempo entre a coordenação na universidade e a arbitragem de competições internacionais. Chegou recentemente da Turquia, onde participou da Gymnasíade 2016.

"Meus pais me incentivaram a fazer esportes e assim aos 9 anos entrei para o projeto de iniciação em ginástica rítmica da antiga Faculdade de Educação Física do Norte do Paraná (Fefi), hoje Unopar, que mantém esse projeto. Como tinha talento para ginástica, entrei nas equipes da professora Elizabeth Laffranchi", conta.

A ex-treinadora é vista como uma inspiração e mentora profissional para Márcia, que cresceu ao lado de Elizabeth. "Durante muitos anos ela foi a pessoa que contribuiu muito para o crescimento da ginástica no Brasil, sendo a representante brasileira dentro da Federação Internacional de Ginástica. Eu, que tive a oportunidade de aprender com ela, trabalhar lado a lado aqui na Universidade e nos eventos internacionais, acho que todo o Brasil deve muito a ela. Se hoje estamos numa situação tão boa internacionalmente foi porque ela abriu os caminhos", diz.

Como ginasta, Márcia competiu em campeonatos estaduais e nacionais, fez parte da Seleção Brasileira de conjunto em 1986, com 16 anos, onde ficou até os 20 anos. Depois decidiu transformar a ginástica em profissão e se dedicou à arbitragem. No Brasil existem apenas nove árbitros internacionais e ela é a única representante do Paraná.

"O primeiro curso é intercontinental, cada país pode levar de dois a três árbitros. Eles são avaliados em um idioma oficial – o mais próximo para nós é o espanhol e são feitas avaliações teórico e prática. A soma das notas é que vai dar a média do seu nível nos próximos quatro anos", explica.

Os quatro anos são correspondentes ao ciclo olímpico, que se inicia no ano subsequente a uma Olimpíada. Neste ano será encerrado o Rio de Janeiro e se iniciará o ciclo Tóquio. Desta maneira, no início de cada novo ciclo os árbitros são reavaliados, levando em consideração também sua atuação nos quatro anos que se passaram. "Para o árbitro internacional o que faz diferença é a experiência. O fato de eu já ter arbitrado cinco campeonatos do mundo, quatro jogos panamericanos, várias etapas de Copa do Mundo, World Games, Gymnasíade facilita que ao chegar em um evento internacional eu saiba exatamente como um árbitro deve proceder. A experiência faz a diferença", destaca.

Esta será a primeira Olimpíada que Márcia atuará como árbitro, porém não irá avaliar as atletas já que, como regra, nenhum árbitro dos países que irão competir pode arbitrar. "Vou atuar como uma oficial internacional brasileira, para dar apoio à arbitragem nos jogos olímpicos. Quando uma treinadora acha que uma nota não está correta, ela pode entrar com recurso. Para isso ela tem um determinado tempo, tem um documento que tem que preencher e ela vai fazer isso comigo. A partir dai eu faço os encaminhamentos", detalha.

Apesar da polêmica envolvendo os jogos olímpicos, realizados em meio à crise brasileira, Márcia acredita que para os atletas e outros profissionais do esporte o evento será muito significativo.

"Pela primeira vez muitos profissionais da ginástica que vão trabalhar como voluntários irão ver ao vivo um treinamento da Rússia. As ginastas brasileiras que terão a oportunidade de estar no Rio vão ver ao vivo as melhores ginastas do mundo. Os atletas vão competir em casa, isso é muito importante porque dá força, dá energia. Fora os países que virão antes, irão treinar e treinadores poderão assistir. Isso é crescimento, esse é o legado profissional que teremos – mais pessoas tendo acesso ao conhecimento. O momento político não é o ideal para a realização de uma festa tão grande, porém, para a educação física, para o esporte de uma forma geral é uma oportunidade nunca vivenciada", contextualiza Márcia.

Com vasta experiência em competições, a londrinense é cautelosa quanto à expectativa por uma medalha brasileira na ginástica rítmica. "A possibilidade sempre existe. A competição é na hora, estar nos jogos olímpicos já é uma final. Qual o desafio do Brasil? É não errar. A ginástica não é como no futebol que você leva um gol, corre atrás e empata. O aparelho não pode cair, a ginasta não pode cair, por isso treinam tanto. Aqueles dois minutos e meio são o resultado do treinamento de uma vida toda. Elas estão trabalhando para isso, para ter a chance de estar na final e disputar essa medalha", afirma.

Para quem deseja seguir qualquer carreira, Márcia destaca a importância de estar preparado. "Não é qualquer um que é treinador, não é qualquer um que é árbitro, e não é qualquer um que é atleta de alto rendimento. Mas todo mundo que se prepara tem a chance. As pessoas tem que se preparar e não se aventurar", destaca.