Maureen Miranda atuou em "I love Paraisópolis" e em 2017 deve fazer mais duas novelas: "Não há outra razão que mova mais o artista do que a de emocionar, tocar as pessoas"
Maureen Miranda atuou em "I love Paraisópolis" e em 2017 deve fazer mais duas novelas: "Não há outra razão que mova mais o artista do que a de emocionar, tocar as pessoas" | Foto: Divulgação



Pense em alguém que queria ser tudo e Deus atendeu. No campo das artes, esse dom de ser tantas e de diversas maneiras foi endereçado a atriz, artista plástica, figurinista, diretora, produtora e ilustradora Maureen Miranda. Talvez por isso, nas artes plásticas, seus desenhos remetam ao etéreo, a partir do olhar desconcertante das personas desenhadas, que ela não considera autorretratos. Todavia, ela reconhece ser detentora de uma capacidade magistral de organização do tempo, que conferiu à identidade da artista a condição de ser múltipla.
Sentindo-se plena aos 40 anos, a paranaense nascida em Pato Branco e criada em Paranaguá, hoje se divide entre duas residências - uma em Curitiba e outra na cidade do Rio de Janeiro -, ambas localizadas em endereços que atendem as suas demandas profissionais. Uma delas é o Atelier Maureen Miranda, que fica na capital paranaense, de onde são produzidas as ilustrações dos livros, das telas e de tudo que irá estampar itens como carteiras, sapatilhas e blusas, que desde janeiro podem ser adquiridos na emblemática Feira de Artesanato do Largo da Ordem, que acontece todos os domingos a partir das 9h.
É o músico, sócio e marido Everton Yaros Diatchuk, que atende pelo codinome Neco, quem está à frente da rotina dominical do comércio na Feira do Largo, mas sempre que pode, ela também está presente. "A abordagem de quem me reconhece é muito respeitosa e para mim é uma enorme satisfação ser uma artista popular, ver minha obra sendo usada, vestida e contemplada. Não há outra razão que mova mais o artista do que a de emocionar, tocar as pessoas", afirma.
Esse apreço por tornar sua obra acessível, mesmo dona de um currículo repleto de produções intelectualmente sofisticadas, alcançou um novo patamar no ano passado, quando ela aceitou o convite da Rede Globo para integrar o elenco da novela "I love Paraisópolis", com a personagem Ester, secretária do vilão Gabo, interpretado pelo ator Henri Castelli. "Eu adorei a experiência, tanto que em 2017 farei mais duas novelas na emissora. Em uma vida tão incerta quanto a de artista, considero um privilégio ser extremamente bem tratada, com todo o suporte sonhado por qualquer ator e ainda receber um salário ao final de cada mês", avalia.
Recentemente, o filme "O amor de Catarina", de Gil Baroni, em que Maureen atuou, foi pré-selecionado pela curadoria do Festival de Sundance. Esse feito veio quase que simultaneamente a um convite para ela integrar o elenco do espetáculo Noés, que tem a direção de Carlos Gradim (fundador do Instituto Odeon e presidente do Museu de Arte do Rio) e estreará no dia 19 de outubro, no Rio de Janeiro. Enquanto ensaia, ela dá prosseguimento aos demais projetos, incluindo os pessoais, como a cerimônia que oficializará a união com Neco, no dia 4 de dezembro. "Somos amigos desde Paranaguá e depois de trilharmos outros caminhos nos reencontramos para uma parceria que funciona em todos os aspectos."

Devoradora de livros
A realização profissional e afetiva de Maureen vem consagrar um processo de lapidação permanente do espírito talhado na precoce observação do ser humano, pois desenha e atua desde a mais tenra idade e, antes de chegar à maioridade, já brilhava nos palcos curitibanos. Também é uma leitora voraz e disciplinada, a ponto de manter uma rotina de leitura diária de cinco livros, propositadamente escolhidos com gêneros distintos, versando entre literatura, filosofia e espiritualidade.
"Tenho um fascínio pela existência, o que acaba me tornando uma devoradora de livros. Para isso, eu me recolho perto das 22 horas para ler por mais ou menos duas horas antes de dormir", revela. Dentre os autores paranaenses, ela admite ser absolutamente apaixonada por toda a obra de Dalton Trevisan, a qual já deu vida a inúmeros personagens do escritor, mas também se identifica muito com a narrativa de Luís Henrique Pellanda.
A atriz que integrou por mais de uma década a aclamada Sutil Companhia de Teatro, grupo fundado em Curitiba em 1993, também participou de outras produções e, muito cedo, descobriu na diversificação de seus trabalhos o caminho para "viver de arte no Brasil".
"Em 1995, cheguei a ficar em cartaz com o sucesso Alice Através do Espelho e mais duas peças. Emagreci a ponto de chegar aos 42 quilos. A constatação dessa realidade e a necessidade de sobreviver de arte no Brasil me fizeram partir para a diversificação, o que considero importantíssimo, ainda mais hoje que o público se acostumou a não pagar ou pagar muito pouco para assistir a uma montagem teatral, que fica refém de patrocínio e leis de incentivo", critica.
Com vários projetos teatrais e cinematográficos na gaveta, por conta desse impasse, Maureen não abre mãe da firmeza de propósitos e da doçura natural para criar e viver o esplendor de suas escolhas.