"Tinha pavor de ser o filho do dono e quis sair disso, mesmo tendo aprendido muito da vida e do negócio no restaurante da família", diz Beto Madalosso
"Tinha pavor de ser o filho do dono e quis sair disso, mesmo tendo aprendido muito da vida e do negócio no restaurante da família", diz Beto Madalosso | Foto: Divulgação



Todos os sabores que temperam a existência estão postos à mesa quando o menu de reflexões leva a assinatura do chef, empresário e formador de opinião Beto Madalosso, que admite sentir "conforto no desconforto" e se encanta ao se deparar com atmosferas caóticas.

"Os lugares de fronteiras são os mais apaixonantes que conheço", diz o curitibano. Tendo corpo e mente talhados por desafios, ele admite ser aficionado por esportes radicais, no qual a motocross possui lugar especial dentre as suas preferências.

Quem acompanha as postagens dele nas redes sociais percebe a dimensão que o transporte sobre duas rodas (a bicicleta também é parte integrante dessas trilhas) pode alcançar diante da fome de transpor limites. "Eu me criei em Santa Felicidade. Saía todos os finais de semana para pedalar. Ia para Campo Magro, Bateias até começar a viajar de bicicleta. Fui para Porto Alegre (RS), depois até Buenos Aires (Argentina) e depois fiz uma até Viña del Mar (Chile), em três etapas", comenta.

A viagem mais recente foi de moto: acabou de voltar do deserto do Atacama (Chile).
A capacidade de se desvencilhar de si mesmo está entre os dons mais apurados de Beto Madalosso - registrado com o mesmo nome do pai Carlos Roberto - , que teve como um dos principais desafios desses 38 anos de vida trilhar um caminho próprio nos negócios e na gastronomia, com dois endereços curitibanos da sua Forneria Copacabana. "Tinha pavor de ser o filho do dono e quis sair disso, mesmo tendo aprendido muito da vida e do negócio no Madalosso. Até porque aos 20 anos meu pai, por problemas de saúde, precisou que eu assumisse por um tempo", recorda. Essa busca de ser exatamente aquilo que se é em nada diminui o amor e a tocante admiração que ele nutre pelos seus pais e tios, que elevaram o sobrenome Madalosso a sinônimo de excelência e tradição da culinária italiana que atrai moradores e turistas ao bairro de Santa Felicidade, em Curitiba.

O mesmo afeto se repete com os irmãos. Durante a entrevista à FOLHA, concedida enquanto almoçava na Forneria Copacabana da Itupava (primeira unidade, aberta em 2011), ele tinha sobre a mesa o livro de contos A Teta Racional, que aborda questões da condição feminina, escrito pela irmã, a roteirista e redatora Giovana Madalosso.

O apreço pela palavra escrita e por se posicionar também cativou Beto nos últimos anos, a ponto dele investir desde 2012 em um empreendimento editorial, a Revista Tutano, disponível em plataforma digital e que aborda gastronomia, temas da atualidade, entrevistas e reúne artigos de sua autoria. "Depois de toda a polêmica em torno da frase do meu cardápio – 'políticos corruptos não são bem-vindos' -, eu passei a ter que justificar isso, comecei a escrever e não parei mais. A ponto de incluir nas minhas viagens essa rotina", conta.

Pastel e beterraba
O exercício de se desvencilhar se repete no balanço das próprias conquistas. Mesmo colecionando prêmios, no dia da entrevista Beto revelou que um dos sabores que marcaram a sua memória foi do pastel que devorava ao final de cada aula de natação. "Se você perguntar para mim amanhã muda e depois de amanhã também irá mudar. Mas o primeiro sabor que vem à minha memória era o pastel do Seu Rafael, que ele servia na cantina da escola e eu saía esfomeado. Era um pastel excelente para aquele momento, que cumpria a função".

Outro ingrediente que chama atenção por cativar o chef é a beterraba. "No Brasil, as pessoas tendem a não valorizar, mas eu fiz muita salada de beterraba em restaurante francês. Adaptei uma receita para o cardápio da Forneria, mas não teve muita saída", explica. "A custo tirei do cardápio, porque eu adoro beterraba e havia clientes que só vinham pela salada e me surpreendiam pela reação, mas o cardápio e a organização da cozinha exigem isso, para um prato com mais saída entrar, outro tem que sair", revela. A referida salada de beterraba é feita com ela cozida, cortada em cubos e misturada com sementes de girassol torradas. Serve-se sobre fondue de queijo de cabra e sobre a beterraba são acrescentados brotos de rúcula.

Volta ao mundo de moto
Dar a volta ao mundo de moto e escrever sobre a aventura são desafios que Beto Madalosso pretende concretizar nos próximos anos. O que está fora do cardápio é fazer parte da política do lado de dentro novamente - ele foi presidente da Paraná Turismo por quatro meses, em 2012. "Sou um associativista desde os primeiros anos de trabalho no Madalosso, mas me frustrei na política, tanto que saí antes de me contaminar", dispara. Beto segue fazendo política do lado de fora, questionando até mesmo os que o cercam, com a certeza de que o melhor sabor é "o que está por vir".