"A equipe feminina tem mais olhares, não só nos eventos científicos mas também nos sociais", diz a acupunturiatra Beatriz Tamura
"A equipe feminina tem mais olhares, não só nos eventos científicos mas também nos sociais", diz a acupunturiatra Beatriz Tamura



As flores avisam que estamos adentrando em um ambiente mais feminino. Cuidadosamente dispostos, dois vasos de orquídea enfeitam o gabinete bem arrumado. Apesar da seriedade dos móveis, o clima é bem acolhedor, fruto das alterações feitas pela titular da sala. O barulho dos pássaros complementa o clima de tranquilidade.

Pela primeira vez em 76 anos a presidência da AML (Associação Médica de Londrina) é ocupada por uma mulher. Tranquila e muito empolgada frente à missão que deve desempenhar até 2020, a acupunturiatra Beatriz Tamura completou pouco mais de um mês no cargo e já aponta as diferenças causadas pela presença de mais mulheres na diretoria. Além dela, a chapa eleita também traz outras três mulheres ocupando cargos na Diretoria Executiva e duas no Conselho Fiscal.

"A equipe mais feminina tem mais olhares, não só nos eventos científicos mas também sociais. As mulheres pensam no contexto todo. Se vamos fazer um evento científico, elas pensam na logística de transporte, quem irá acompanhar, o que fazer antes e depois do evento. Quando é médico ele pensa só no evento científico. Também estamos trabalhando com os nossos eventos mensais, dos aniversariantes, e a visão delas também é geral: quem está aniversariando, como vai ser a logística, o tipo de alimento, de música. E nas reuniões da entidade pensamos que tem que ter alguma coisa para comer, as pessoas vão vir com fome porque vêm direto do consultório. Esses cuidados partem muito da equipe feminina. Acho que eles estão adorando, eles comentam, dá a impressão que fica mais agradável a reunião e todos acabam dando o seu parecer. Mas é mais prolongada, porque antes poucos falavam e hoje é mais participativa, elas levantam muitos questionamentos. As mulheres lidam melhor com diversas situações e ao mesmo tempo. E o fato de nós termos um equilíbrio entre médicos e médicas se adéqua muito bem, flui melhor e os próprios médicos se sentem mais inseridos em toda essa participação", diz.

Formada pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), Tamura conta que foi influenciada pelos irmãos mais velhos a fazer Medicina. Caçula, os ouvia contar empolgados sobre a faculdade. Outro fator que pode ter colaborado, segundo ela, foi o fato de sempre ter sido ligada ao esporte, tendo sido nadadora. Depois de formada médica se especializou em Medicina do Trabalho e em Acupuntura.

Atuou no Hospital Evangélico, onde junto com o setor de Recursos Humanos fez uma campanha para que todos os funcionários fossem alfabetizados. "Conseguimos que estudassem pelo Programa de Educação de Jovens e Adultos da UEL. E a partir disso tentei ter um envolvimento para questões gerais", afirma.

Na AML, sua primeira participação mais efetiva foi como diretora do Departamento de Acupuntura. "Acho que a partir daí comecei a participar mais da entidade. Da diretoria do Departamento de Acupuntura fui chamada para participar da diretoria como segunda tesoureira. Fui a primeira mulher a entrar na diretoria. Depois permaneci em uma outra gestão fazendo parte do Conselho Fiscal e depois fui candidata à presidência. Nesse período fiz uma pós-graduação em Excelência Operacional em Serviços de Saúde, que me deu uma base mais administrativa, de gerência. Isso me agregou bastante até na vontade de ocupar esse cargo e me trouxe uma base que me deu mais confiança para assumir um cargo de tanta responsabilidade", explica, acrescentando que até março também preside o Indese (Instituto de Desenvolvimento em Saúde e Ecologia), um "braço" da AML.

Entre as diversas frentes de trabalho que traçou para os próximos anos, Tamura elenca aumentar a participação das mulheres na entidade como uma delas. A dupla jornada seria um dos motivos para a até então baixa participação das mulheres, que representam 40% dos membros da AML.

"A tendência é estar aumentando, porque está aumentando o número de alunas nas faculdades de Medicina. Além de exercermos uma atividade que demanda intercorrências e nos exige estar disponíveis em horários complexos, ainda tem a responsabilidade dos cuidados com os filhos e de conduzir a casa. Participar das questões administrativas da própria AML demanda mais disponibilidade de horário. E nós médicos, se não estivermos no consultório ou no centro cirúrgico, não está entrando recurso. Você acaba deixando um lado importante que é o recurso pessoal e administrativo para doar para um outro tipo de atividade que ocorre em horários comerciais. Há várias reuniões com outras associações que ocorrem no meio da tarde ou no meio da manhã e você tem que disponibilizar esse horário que é o do consultório para ir representar."

Essa seria uma explicação para a média de idade dos membros da diretoria, todos profissionais mais experientes e mais estabelecidos. Para ela, somente depois que atingem um certo patamar na carreira e uma estabilidade familiar que os jovens podem se dedicar à entidade. Aumentar a participação desses jovens não só na instituição mas também na sociedade como um todo é outra meta da sua gestão.

"Temos desafios, estou implantando um planejamento estratégico e espero conseguir finalizá-lo com sucesso. Para minha vida pessoal, sou muito grata. Estou numa fase em que quero fazer com que o mundo seja um pouco melhor. Graças a Deus tenho capacidade para isso, eu posso contribuir, quero doar o meu trabalho, a minha posição para poder deixar coisas melhores para os outros que estão vindo, para a comunidade. Como médica, se eu faço uma palestra sobre um assunto médico e posso mudar o entendimento de como ter uma saúde melhor, acho que estou contribuindo. Se cada um que tem essas ferramentas começar a ocupar seus espaços, iremos modificar o mundo. Você estará mudando um pouquinho a vida de muita gente. Não adianta só reclamar se você não contribui."