"Eu e a minha amiga Marilu fomos revolucionárias. Vivemos como queríamos", diz Constanza Pascolato, de 77 anos
"Eu e a minha amiga Marilu fomos revolucionárias. Vivemos como queríamos", diz Constanza Pascolato, de 77 anos | Foto: Fotos: Ricardo Chicarelli



A moda é a mais alta representação do mundo líquido que estamos vivendo em que as verdades não sobrevivem às novas informações, consumidas em tempo real. Cada vez mais, se ajusta às liberdades individuais de cada pessoa de ser e parecer o que quiser. Ao contrário, ícones como Costanza Pascolato, de 77 anos, que desde os anos de 1940 acompanha a cena fashion, permanecem sólidos, como referências de elegância.

"Eu e a minha amiga Marilu fomos revolucionárias. Vivemos como queríamos", afirma em entrevista à FOLHA. A empresária, consultora fashion e colunista da Vogue Brasil esteve em Londrina para um bate-papo sobre moda. Marilu, a quem se refere, é artista plástica argentina, amiga de Constanza há 50 anos.

A economia de palavras na afirmação revela um pouco de Costanza – por ela mesma – que estudou no Dante Alighieri, tradicional colégio paulista, pagando castigo por subir a barra da saia e usar o casaquinho ao contrário para esconder os botões dourados.

Costanza nasceu na Itália em uma família aristocrata. Mudou para o Brasil aos 5 anos de idade. O pai, Michele, fundou a tecelagem Santaconstancia.

Foi casada com Robert Hefley Blocker, teve um longo romance com o italiano Giulio Cattaneo e um casamento com Nelson Mota. Personalidade do jet set internacional, Costanza é, no Brasil, uma das mulheres mais influentes da internet com o canal "Costanza&Marilu", que rendeu o programa de TV "Sofá Chat-Show", no Discovery Home&Health.

Na atração, as duas damas falam sobre tudo, chamam o Brasil de "país do puxadinho" e classificam as piriguetes como "a nova raça brasileira", entre outras coisas.

Costanza diz que nunca se deslumbrou com o universo da moda, que frequenta desde que praticamente nasceu. Em fotografias do seu site oficial aparece no próprio baile de debutantes num modelo Christian Dior e, ainda jovem, vai ao trabalho com a mãe, Gabriella, a bordo de um legítimo Pierre Cardin.

Os apontamentos da colunista sobre a moda atual sinalizam as características desta sociedade líquida, conceito do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que morreu em janeiro aos 91 anos de idade.

"As imagens do que se vê parecem a realidade, mas não são mais do que intermediárias e as pessoas acreditam mais nisso do que no que veem", avalia.

Das passarelas ao mercado do luxo muita coisa mudou na era da pós-modernidade.

"A maneira como a pessoa compra mudou. Até o mercado de luxo não é o mesmo. Hoje, as pessoas entram em uma loja, veem o produto, saem e compram mais barato pela internet", comenta Costanza.

A geração de mulheres, como a da colunista, é responsável por grandes transformações nesta sociedade. Costanza conta que, recentemente, no evento "Elas Por Elas", promovido pelas revistas Marie Claire, Glamour e Vogue, falou sobre tantas mudanças e também de estilo.

"Queriam que a gente contasse experiências de vida. Fomos mulheres revolucionárias, mas acho que sempre o papel da mulher foi esse. Porém, hoje está mais fácil. Nos anos 70, quando fui editora de moda, muitas mulheres trabalhavam e se vestiam para se enquadrar ao lado do marido. Hoje, cada um é o que é. Não vou entrar num discurso político, mas, morei nos Estados Unidos e lá o feminismo é muito forte. Porém, acredito que hoje a gente tem mais chances", ressalta Costanza, acrescentando que, apesar da mulher ainda lidar com a violência doméstica, muitas já têm coragem de se contrapor a um marido violento.

Para além da moda que, no século 20 impôs uma ditadura, Costanza enxerga um movimento mais fluído, acompanhando uma sociedade mais porosa.

"A moda tem obrigação de transpor alguns preconceitos e paradigmas. E é justamente impossível de parar essa época de imagens porque a nossa vida mudou, principalmente por causa da internet", afirma a colunista sobre a moda transgênero, que tem o poder de inclusão.

Antigamente as misses, atrizes, modelos e mulheres como Costanza faziam a cabeça de quem curte o mundo fashion. Costanza permanece entre as que dizem o que está em alta ou em baixa no closet, mas, atualmente, basta um smartphone para uma digital influencer se transformar em fenômeno.

"Conheço um monte de meninas. Negras, altas, mesmo as meninas que não têm muito dinheiro se tornam ícones à sua maneira. A pessoas se identificam com as personagens que gostam. Acredito que essa tendência vai se pulverizar ainda mais", avalia Costanza.