Bruno Mazzeo: "Já queria abordar o jeitinho brasileiro de lidar com as situações por meio da troca, do favorecimento..."
Bruno Mazzeo: "Já queria abordar o jeitinho brasileiro de lidar com as situações por meio da troca, do favorecimento..." | Foto: Globo/ João Cotta



Bruno Mazzeo se divide entre as funções de ator e roteirista, mas logo aponta que escrever é o que lhe dá mais prazer. Autor de "Filhos da Pátria", que estreia no dia 19 de setembro, na Globo, ele acumula experiência no ofício. Começou na emissora, aos 14 anos de idade, integrando a equipe de redatores da "Escolinha do Professor Raimundo", no período de 1991 a 1994. Seu talento para o humor, desta vez, poderá ser apreciado nos textos da série que conta a história de Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero), um funcionário público que se corrompe por dinheiro no ano de 1822, um dia após a Independência do Brasil.

"É curioso porque quando a gente estava escrevendo, muitas vezes, não pensávamos no hoje em dia. Fazemos alusões aos fatos de nossa política, mas não dá pra dizer exatamente um específico. Falamos do modus operandi e eu acredito que isso que vivemos hoje não começou agora, mas vem desde sempre. Então, é natural que fique rolando essa relação com a atualidade", comenta.

Na série, Geraldo é convidado por Pacheco (Matheus Nachtergaele) para participar de esquemas corruptos dentro do Paço Imperial. Após relutar um pouco, ele não apenas cede ao sistema, mas sente prazer em usufruir do dinheiro da propina para o bem-estar da família. Para Bruno, as atitudes do protagonista estão ligadas à essência do povo brasileiro, que procura levar vantagem em tudo.

"Comecei a trabalhar nessa ideia há uns três anos. Já queria abordar o jeitinho brasileiro de lidar com as situações por meio da troca, do favorecimento... Estava lendo muito sobre um 'lado B' da história e o que se ensina nos nossos colégios não é aprofundado. Juntou isso com o desejo de falar sobre a nossa essência", relata.

Filho do falecido humorista Chico Anysio (1931 - 2012), Bruno tem uma relação afetiva com a arte do riso. Apesar de assumir que o seu primeiro olhar para a vida é dramático, ele afirma que a melhor maneira de criticar alguma situação é por meio da comédia. Dessa forma, ele consegue entreter e sugerir uma reflexão ao mesmo tempo.

"Gosto muito de trabalhar com o humor! Só consigo fazer assim! Mesmo que eu sempre comece a pensar a partir do drama, o meu olhar é através do humor! Acho que é uma maneira até muito mais potente de se chamar atenção", acredita.

Homenagem ao pai
Em breve, Bruno será visto novamente no papel de Professor Raimundo, tipo cômico eternizado pelo seu pai. A terceira temporada do remake de 'Escolinha do Professor Raimundo' vai estrear primeiro no canal Viva, em setembro; e depois na Globo, em novembro. O humorista conta que, inicialmente, ficou surpreso com o alcance do programa a um público que não assistiu a versão original. Parte desses telespectadores até eram crianças na época.

"A gravação da 'Escolinha' foi igual às outras. Foi tudo em três semanas, mas num ritmo bem cansativo. O programa gera uma identificação muito imediata, é algo que está no imaginário das pessoas desde sempre. Acho que tocou no lado afetivo, muito além da graça propriamente dita", avalia.

Apesar de estar à vontade como roteirista e atuando nos projetos que julga interessantes, Bruno não descarta uma volta às novelas. O último folhetim em que atuou foi 'A Regra do Jogo' (2015 - 2016). Na trama de João Emanuel Carneiro, ele deu vida ao bem-humorado Rui, marido de Tina (Monique Alfradique).

No entanto, ele confessa que só abraçaria um papel novamente em uma obra aberta se o personagem não fizesse parte do núcleo cômico. Do contrário, ele diz que prefere continuar no processo criativo e viajar com uma peça teatral pelo Brasil.

"O que eu mais fiz na vida foi ficar à frente do roteiro. Fui atuar mais frequentemente quando fiz o 'Cilada'", conta Bruno, citando a sitcom criada e estrelada por ele, de 2005 a 2009, no canal Multishow. Antes, havia feito como roteirista, na Globo, outras comédias, como "Sai de Baixo", onde ficou de 1997 a 2000; "A Diarista", trabalhando de 2004 a 2007; e "Vida Ao Vivo Show", no período de 1998 a 1999.

"O processo criativo é o que me dá mais prazer. É ter uma ideia e tentar transformá-la em realidade com os meus colegas. A gente bolando e salvando o mundo", finaliza, aos risos.