Sob nova lei, campanha eleitoral começa tímida
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sexta-feira, 02 de setembro de 2016
Edson Ferreira e Loriane Comeli<br>Reportagem Local
O Ministério Público Eleitoral (MPE) do Paraná recebeu, até agora, número consideravelmente menor de denúncias propaganda de candidatos em desacordo com lei e, em Londrina, o próprio eleitor pode constatar a escassez de material publicitário em circulação. São reflexos da atipicidade deste ano de Jogos Olímpicos no Brasil e do impeachment de Dilma Rousseff (PT), eventos que tiraram o foco das campanhas municipais. Mas, as novas regras eleitorais também contribuem para essa timidez na publicidade dos candidatos.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente ação para impedir o financiamento das campanhas por empresas e o Congresso aprovou minirreforma eleitoral, com objetivo de acabar com os gastos milionários do candidatos, foco histórico de corrupção. Entre as medidas mais significativas, estão a redução do tempo de campanha de 90 para 45 dias e o tempo dos programas de TV, onde, normalmente, se concentravam os maiores gastos dos candidatos, além de um limite de gastos igual para todos os oponentes.
Para o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, professor da Faculdade Mackenzie, de São Paulo, longe de afastar o eleitor do debate eleitoral, as novas regras tendem a fazer com que os candidatos reinventem o jeito de fazer política, que a política volte às suas origens, que é a da conversa, do diálogo com a sociedade. Sobre as críticas de que o tempo menor impede o eleitor de conhecer melhor o candidato, o professor questiona: "Quando o eleitor tinha mais tempo, ele acompanhava? Ele cobrava? E o político tinha contato com o eleitor?
Para Prando, os políticos "firmaram a ideia de que a política é só fazer campanha para o horário eleitoral", o que resultava em grandes e dispendiosas produções: "Eram grandes filmes, com personagens, atores, clipes e tudo o mais para mexer com o emocional do eleitor, mas o candidato foi se desacostumando de fazer aquilo que é o exercício da política, de dialogar com a sociedade, de conversar", avalia. "Eu acho que o político brasileiro ficou muito mal acostumado."
O professor também acredita que a nova lei vai abrir espaço para que "os candidatos se reinventem e tentem resolver o grande problema de conexão com a sociedade". "O político é visto como uma espécie que aparece de quatro em quatro anos e depois desaparece. Não há conexão após as eleições."
Para ele, os políticos deveriam estar, de fato, mais perto das pessoas, dos cidadãos e não apenas no período eleitoral. "Para mim, política tem que ser feita na rua, no contato com o eleitor que não deve ser visto como eleitor de quatro em quatro anos, mas como cidadão." Também deve-se parar de supervalorizar o período eleitoral. "A eleição é muito importante na democracia, mas não se limita a ser a própria democracia. A democracia é um processo." No entanto, em que pese a campanha mais amena, Prando acredita que em até duas semanas os candidatos intensifiquem a produção e distribuição de material publicitário e a presença em eventos políticos.