Imagem ilustrativa da imagem 'Eu manteria a maioria dos secretários que tivesse interesse de ficar'
| Foto: Gustavo Carneiro
Imagem ilustrativa da imagem 'Eu manteria a maioria dos secretários que tivesse interesse de ficar'



Depois de apresentar reportagens especiais com o diagnóstico sobre áreas específicas da cidade – Educação, Saúde, Esporte, Cultura, Economia e Infraestrutura –, a reportagem da FOLHA traça um perfil histórico e político de quem pretende administrar Londrina pelos próximos quatro anos. Professor e advogado, André Trindade (PPS) está disputando um cargo eletivo pela primeira vez e admite ter entrado na campanha com o objetivo de dar continuidade à administração do prefeito Alexandre Kireeff (PSD), embora não tenha o apoio formal do chefe do Executivo londrinense.

Sem trajetória política e sem experiência administrativa, por que o senhor quer ser prefeito e como será a sua gestão, caso seja eleito?

Primeiro, porque eu tenho uma formação na área jurídica e na área de gestão que faz com que eu consiga apresentar respostas melhores para o serviço público. Com essa formação e preparação, tanto no Direito Público, onde já tenho obras publicadas, quanto na gestão, com MBA na FGV (Fundação Getúlio Vargas), eu consigo trazer conteúdo e qualidade para a gestão pública.

A sua experiência acadêmica seria suficiente para administrar a cidade, então?

Eu acho que tem uma grande vantagem, porque eu não tenho, vamos dizer assim, os vícios de mercado da gestão pública. Como não temos também a obrigação de compromissos partidários que impeçam a administração, tenho liberdade total para uma gestão voltada para o cidadão.

Mas o seu partido, o PPS, tem cargos na gestão Alexandre Kireeff (PSD) e o senhor teve a candidatura incentivada pelo prefeito, embora ele não apoie formalmente a sua campanha. Qual será a sua independência para apontar e alterar programas do atual governo que necessitem de adequações?

Total independência. Claro que no time que está ganhando não se mexe, o que estiver funcionando será mantido, mas não temos empecilho em mudar o que precisar ser melhorado.

E o que está bom e o que está precisando mudar na atual gestão?

Tem muitas estruturas fortes dentro do secretariado atual, que fez bom trabalho e, sem citar nomes específicos, eu manteria a maioria. Quem tiver interesse em ficar, claro. Tem secretários com conhecimento, empenho e seriedade. Faríamos o convite abertamente para os secretários que tivessem interesse dentro da nossa nova visão de gestão. Faríamos uma análise com cada um, com cada equipe para ver o que poderia ser melhorado.

Saberia dizer quais são os pontos negativos da atual gestão?

Eu acho que o Kireeff deveria ter feito um controle um pouco melhor na questão orçamentária. Apesar dele não ter como prever a questão da arrecadação ruim, deveria trabalhar com três cenários: o bom, o regular e o péssimo. Em cada um, eu tenho que começar a mexer nas contas e ter flexibilidade, claro que mexer na administração pública sempre é um problema, né. Vários fatores estão envolvidos...

O senhor acredita que os partidos precisam ter ideologia? Qual a ideologia do PPS e o que o atrai no partido?

Primeiro, o Brasil tem um número enorme de partidos que não sabem nem qual é a sua própria ideologia. O que me atrai no PPS é a questão do voto limpo, é uma máxima do partido, que já abriu mão de vários candidatos que não tinham ficha limpa. O partido tem posição definida, como foi no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, onde foi um dos maiores incentivadores desde o início, diferente de outras siglas que mudaram de opinião na última hora. É um partido que tem ideologia voltada para o desenvolvimento, mas garantindo os direitos sociais, como partido socialista.

Praticamente todos os recursos livres da prefeitura são usados para pagar pessoal. O senhor acha importante reduzir o tamanho da máquina? Que tipo de reforma administrativa o senhor acha fundamental para a prefeitura de Londrina?

Diminuir é difícil, temos que aumentar a captação de recursos federais e estaduais, através de projetos, onde eu consiga recursos para atividades suportadas pelo município.

Como?

Com escritório de projetos bem organizado ou reestruturando o próprio Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), dar um foco direcionado para os projetos e trazer investimentos estaduais e federais para obras, direcionar esse recurso, desonerando o município.

A administração depende da aprovação de um novo Programa de Regularização Fiscal (Profis) para incrementar a arrecadação neste último quadrimestre. O senhor concorda com este tipo de medida como alternativa para evitar o fechamento do ano no vermelho?

Sim, faria também, mas sempre em último caso, quando não tiver um planejamento orçamentário adequado ou quando houver uma crise, como agora, impactando na arrecadação. Não pode ser algo corriqueiro, tem que ser uma exceção, senão você acaba trabalhando tendo a previsão dele (Profis) todos os anos.

Considerando que o senhor mesmo declara não ter atuação política partidária, portanto, um novato neste universo político, quem vai indicar e montar a sua equipe de governo, caso seja eleito?

Vamos ouvir todos os setores, buscar profissionais que tenham conhecimento técnico e que tenham conhecimento dos anseios sociais. O integrante da nossa equipe tem que ser técnico, com o conhecimento específico, mas tem que entender as necessidades da população. Ouvirei com certeza os partidos que estão nos apoiando, o próprio prefeito Kireeff e a sua equipe. A ideia é manter a maioria dos atuais secretários.

O senhor seria, então, uma continuidade da gestão Kireeff? Na sua avaliação, ele foi o melhor prefeito da cidade?

Continuidade, no sentido de manter o que foi feito de bom e ampliar o que pode ser melhorado. Sim, foi o melhor prefeito da cidade. Dentro do que ele pegou, com certeza. Na gestão dele não se ouviu falar em ilícitos, ele tirou a prefeitura das páginas policiais e colocou nos trilhos, agora vamos pegar esse caminho e dar sequência.

O lançamento de candidatura própria não era a meta do PPS até o atual prefeito confirmar que não se candidataria à reeleição. A sua candidatura ocorreu apenas por isso?

Sim, posso dizer isso abertamente. Eu só coloquei o meu nome à disposição porque o Kireeff não quis tentar a reeleição, horando a palavra que deu, anteriormente.

Qual é a sua avaliação sobre o desempenho administrativo do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB)?

Errou em muitos pontos, principalmente na parte financeira, e deve dar mais atenção à região Norte do Paraná. Penso que fez gestão acertada em alguns pontos, mas em outras situações ele se equivocou, especialmente no tratamento dos funcionários públicos estaduais que questionam muito a gestão dele e acho que poderia ter feito um governo melhor.

Como prefeito, se for eleito, qual seria o seu primeiro pedido ao governo estadual?

A duplicação da PR-445, para garantir o desenvolvimento da região. A relação com o governo do Estado tem que ser de respeito, trabalhando em conjunto, mas de imparcialidade, no sentido de poder cobrar o governo estadual, assim como o federal.

Os políticos, quando ascendem ao poder, tendem a usar o poder político e econômico da publicidade para censurar a imprensa e perseguir jornalistas. Como será sua relação com a imprensa?

O gestor público tem que trabalhar com transparência, então os meios de comunicação têm que ter acesso a todas as informações que são públicas, para divulgar todos os projetos e demandas do município. Livre acesso.

Já denunciou algum caso de corrupção envolvendo serviço público?

Não.

As denúncias de corrupção envolvendo a administração pública, em geral, estão entre os principais motivos para a desilusão da sociedade com a política. Como o senhor evitaria e combateria a corrupção em seu governo?

Primeiro, transparência total em todas as decisões. Segundo, controle efetivo, principalmente, na parte orçamentária, a Controladoria tem que ter uma atuação efetiva e direta em cada uma das secretarias. Também precisamos criar meios para denúncias espontâneas dos cidadãos, dando andamento àquela denúncia, e evitar qualquer tipo de limitação à atuação do Ministério Público (MP) como fiscal da lei. O gestor público dever gerir, o controle deve ter mecanismos próprios. Desde a menor corrupção tem que ter punição para se criar política tolerância zero em todos os setores da prefeitura contra a corrupção.