Já imaginou percorrer um trajeto de 800 quilômetros caminhando? É o que milhares de turistas fazem todos os anos como forma de peregrinação no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. E a viagem - considerada cansativa e loucura para muitos - proporciona experiências marcantes e completamente transformadoras na vida de inúmeras pessoas.
As paisagens deslumbrantes e as construções de diferentes épocas e estilos arquitetônicos são verdadeiros convites para fortalecer a espiritualidade e buscar o autoconhecimento, independentemente de religião. Além disso, segundo a tradição, na cidade de Santiago de Compostela repousam os restos mortais de um dos doze apóstolos de Jesus, São Tiago (cuja origem do nome é São Tiago do Campo das Estrelas).
Em 1993, o caminho foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. No Brasil, o roteiro se popularizou ainda mais com o lançamento do livro ''O Diário de Um Mago'', de Paulo Coelho, em que o autor detalha a sua peregrinação pelos campos espanhóis.
Para o fotógrafo Cláudio Nonaca, de Londrina, a viagem foi um tempo precioso de louvor e meditação. Após passar por momentos difíceis, resolveu tomar uma atitude para alterar o seu estado emocional. Católico praticante, decidiu percorrer o caminho para se aproximar ainda mais de Deus. Foram 800 quilômetros de caminhada em um mês.
''Foi uma maneira de agradecer com a recusa de bens materiais e por meio de um esforço físico que jamais havia realizado'', explica Nonaca, que viajou sozinho, como mochileiro. ''Iniciei a caminhada pela França em Saint-Jean-Pied-de-Port e parei na Catedral de Santiago de Compostela.''
Ele decidiu ir sozinho pois queria ter tempo para se dedicar integralmente a si próprio. ''Além disso, quis registrar tudo com fotos e não queria ninguém me apressando ou me esperando'', diz, acrescentando que quando decidiu realizar a viagem começou a se prerapar fisicamente com caminhadas diárias. ''Foram dois anos de preparação. Perdi nove quilos durante esse período. A viagem não compreende somente os dias em que passamos no local. Começa quando sentimos o chamado e não termina nunca'', defende.
Durante a viagem, Nonaca conheceu lugares encantadores. ''Os que mais me agradaram foram os montanhosos, com trilhas apertadas e a beira de precipícios'', relata.
Disposição física
Nonaca ressalta que o tamanho do trecho que caminhava por dia variava de acordo com a condição das trilhas, clima e disposição física. ''Cheguei a caminhar 36 quilômetros em um dia. Sempre tinha em minha mochila suco, energético, água, sanduíche, frutas e barras de cereais'', revela, pontuando que levou somente o básico. ''Além dos alimentos, basicamente carregava um kit de primeiros socorros, objetos de higiene pessoal, um saco de dormir e duas mudas de roupas.''
Como existem muitas lanchonetes no percurso, ele parava para descansar sempre que sentia necessidade. ''Parava em qualquer lugar, podia ser numa sombra, na beira da estrada, em cima de pedras, em bancos de praça'', diz.
Para dormir, parava em albergues. ''Era onde tinha a oportunidade de cozinhar com peregrinos das mais diversas nacionalidades. Jamais imaginei passar por momentos tão bons na minha vida'', observa.
Nonaca afirma que muitas pessoas acham ''maluquice'' realizar o percurso e enfrentar tantas adversidades, mas na sua opinião ''é preciso acreditar na nossa força interior''. ''Para se ter uma ideia, quase 50% dos peregrinos têm acima de 55 anos. Cheguei a encontrar pessoas com mais de 75 anos. Também vi famílias com crianças e um deficiente físico que puxava sua bagagem de muletas. Tudo é possível'', defende.
Hoje, ele se sente uma nova pessoa. ''No caminho nos questionamos quem somos, quem queremos ser, onde queremos chegar, de que maneira ou com quem. Foi um desafio pessoal e de superação física. Esse feito aumentou a minha autoestima e ainda melhorou a minha condição física'', comemora.


Imagem ilustrativa da imagem Um caminho e muitas histórias
O fotógrafo Cláudio Nonaca fez o percurso em um mês: ''Jamais imaginei passar por momentos tão bons na minha vida''
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