Imagem ilustrativa da imagem COMPORTAMENTO - A missão delas é empoderar
| Foto: Fotos: Gustavo Carneiro
Integrantes do Black Divas: trajetórias de vencedoras nas suas histórias pessoais e incentivo ao protagonismo das mulheres negras e não negras na sociedade
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Ilza Almeida de Andrade, Sandra Aguillera, Juliana Barbosa e Edimara Alves: "Claro que não foi fácil, mas se nós chegamos lá, todas podem também"



No próximo dia 25, um coquetel no Pérola Eventos, em Ibiporã, vai celebrar o lançamento do coletivo de mulheres negras Black Divas. Cinco das quase 40 participantes estiveram na redação da FOLHA para falar sobre a iniciativa que já vem tomando forma há alguns anos. Com bagagens diferentes de estudo e trabalho, Juliana Barbosa, Sandra Aguillera, Edimara Alves, Maria José Barbosa e Ilza Almeida de Andrade têm em comum a trajetória vencedora. "Foi fácil? Claro que não foi fácil, mas se nós chegamos lá, todas podem também", afirma a professora Sandra.
"Na verdade muitas de nós – somos 38 – já nos encontramos há muito tempo, em momentos separados. Realizamos muitos projetos, mas agora vamos juntar todas e queremos focar nas ações. Um dos nossos objetivos é empoderar a mulher negra e não negra trabalhando os vários momentos dessa mulher na sociedade, como cidadã mesmo", resgata Sandra.
Uma dos exemplos, segundo a professora, é a qualificação profissional junto ao Conselho da Mulher Empresária (CME). "Eu e a Edimara somos conselheiras e vamos levar alguns treinamentos para a Acil. Na educação conseguimos três bolsas de graduação e sete de pós-graduação para esse empoderamento", conta Sandra

"Trajetórias muito bacanas"
Um dos critérios para participar do coletivo, segundo as integrantes, é se envolver efetivamente nas ações e trabalhar esse empoderamento. Tanto que a maioria delas tem pós-graduação, doutorado e pós-doutorado. "Há uns quatro anos, conversando com duas black, pensamos que esse grupo tinha que ter características de mulheres vencedoras. As trajetórias de cada uma são muito bacanas. Entre nós, a trupe é muito legal", revela Sandra.
As integrantes do coletivo lembram que a lei 10.639, de 2003, obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. A legislação é considerada um marcou na luta do movimento negro.
"A lei obriga o ensino, no entanto, os professores não têm essa referência para passar para o aluno porque nós não fomos formados nessa perspectiva. Então essa lei gerou uma demanda e essa demanda gerou ações na formação dos professores para a formação dos alunos. Isso deu uma visibilidade grande em termos de Brasil", considera Sandra. "Você não tem mais como correr disso. Na nossa trajetória, nós corremos atrás das oportunidades. Hoje são vários conselhos, sindicatos e representantes da sociedade civil nos convidando para fazer parte das comissões. Hoje nós somos procuradas", completa.

"Nosso lugar é onde nós quisermos"
Para Maria José Barbosa, ex-Secretária Municipal da Mulher, "a lei deu a visibilidade, mas também o governo quando cria espaços que transversalizem com as demais políticas públicas. Não adianta ter um espaço construído, mas não empoderar este lugar". Ela cita a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e o Conselho de Promoção da Igualdade Racial. "Isso nos empoderou, mas ninguém nos deu nada. É fruto dos movimentos negros, que se organizaram, se articularam e ganharam força", diz.
O trabalho do Black Divas, segundo Maria José, é inverter a lógica das minorias negras "aqui e ali". "Tiramos daquele canto e vamos colocar no seio da sociedade com direitos e acesso a tudo. Essa é a diferença que nós estamos trabalhando para fazer na vida das pessoas. Nosso lugar é onde nós quisermos."
"Uma das estratégias que a gente trabalha é a questão da valorização da cultura negra e o trabalho da Edimara entra nisso", aponta a pesquisadora e doutora Juliana Barbosa. "Vamos trabalhar a autoestima dos menos favorecidos", conta Edimara, que é professora de modelos e se prepara para produzir dois desfiles no segundo semestre com homens e mulheres negros, além de um que irá movimentar o coquetel do dia 25.

"Não queremos separar nada"
Juliana observa que o olhar das pessoas, historicamente, foi acostumado a ver o negro em determinados lugares, e quando o vê em outros lugares, estranha. "Isso é racismo. Não estou julgando a pessoa, porque é um olhar historicamente construído. Mas ele precisa ser desconstruído. E esse é justamente nosso trabalho. A partir do momento que você desconstrói esses estereótipos, as pessoas vão se liberando, vão tendo oportunidades e enxergando que podem ocupar lugares que são importantes", reflete.
"(No Black Divas) Temos uma vertente que trabalha a autoestima do negro, mas também temos que trabalhar com o não negro, não queremos separar nada. A gente quer algo mais integrado e para isso acontecer tem que vir dos dois lados. Mas desconstruindo os estereótipos negativos com os negros e com as mulheres", completa a pesquisadora.