Se a queda na renda é o principal motivo que tem levado famílias a migrar da escola privada para pública, o atendimento amplo e adequado ao espaço a todos que procuram a rede e a qualidade do ensino também são reconfortantes. De acordo com o gerente de matrícula e documentação escolar da Secretaria Municipal de Educação, Junior Dias, desde 2017, o número de matrículas em Londrina nos ensinos infantil e fundamental I (do 1 ao 5º ano), cresceu em torno de 1%. "Tivemos um aumento significativo em 2018, quando passamos de 37 mil alunos para 43.791, ou seja, quase sete mil matrículas. E até hoje essa crescente se mantém, pois começamos 2019 com 43.100 e o levantamento mais recente já apontou 43.462", aponta.

Mariella Silva e a filha Clara: “Não foi uma decisão sofrida porque estudei a vida toda em escola pública e consegui uma escola na região central”
Mariella Silva e a filha Clara: “Não foi uma decisão sofrida porque estudei a vida toda em escola pública e consegui uma escola na região central” | Foto: Gina Mardones

Dias afirma também que a Secretaria observa a movimentação com atenção, mas acredita que a tendência é haver uma acomodação. Já nas escolas estaduais, houve uma redução, o que se explica por conta da evasão. “Esses alunos podem ter migrado para o EJA ou deixado de estudar para trabalhar", avalia Horácio Utiamada, coordenador do setor de logística do NRE – Núcleo Regional de Ensino.

A redução ocorreu em todas as esferas. No País em geral, entre 2014 e 2018, os registros passaram de 8.300.189 para 7.709.929. Em Londrina, também houve redução de 21.739 para 18.140.

Levando em consideração o fato de que a Educação é um direito e a matrícula um dever, as escolas públicas do município fazem o atendimento a todos os que a procuram. “O principal critério é o georeferenciamento e deixar irmãos na mesma escola, mas esses não são critérios absolutos, pois podemos levar em conta ainda a proximidade do trabalho de quem leva e busca ou alguma necessidade especial da criança e tudo isso independe de classe social”.

ALUNOS POR SALA

Em respeito à deliberação vigente, o número de alunos em sala varia. Nos últimos anos da educação Infantil, são 20 alunos por turma. Do 1º ao 3º ano, 25 e no 4º e 5º, até 35. Ou seja, os limites são respeitados. Outro aspecto positivo que Dias destaca é a qualidade da Educação. A confiança é um relato constante que recebemos. Os pais trazem esse feeeback exaltando a qualidade do ensino, principalmente os pais de séries iniciais, que nos equiparam à rede privada”. Dias afirma que isso é resultado de formação continuada e a participação de alguns formadores na elaboração do documento final da base nacional curricular. “Tudo isso resulta em qualidade e se torna um atrativo a mais para essas famílias”.

No momento em que o ano letivo já está correndo, Dias explica novas matrículas e transferências podem ser mais difíceis de serem atendidas. “Há muitos imprevistos familiares. Necessidade de reduzir despesas, mudança de município, mas atendemos a todas as famílias. O que pode acontecer é a escola almejada não comportar o aluno naquele momento, então encaminhamos para outra unidade que atenda melhor a família”.

Marília Bitencourt e os filhos Gabriel e Lais: “A questão financeira foi decisiva, não teria como manter aquela despesa fixa todos os meses”
Marília Bitencourt e os filhos Gabriel e Lais: “A questão financeira foi decisiva, não teria como manter aquela despesa fixa todos os meses” | Foto: Gina Mardones

Realidades distintas também são aprendizado

Mais do que uma vaga na sala de aula, a garantia de seguir nos estudos por meio da rede municipal é uma sensação de alívio para as famílias. A doula e estudante de Enfermagem Marilia Bittencourt, 36 anos, viveu essa experiência. Mãe de Gabriel, de 11 anos e Lais, de 8, que até 2017 frequentaram a escola particular, ela conta que as mudanças na estrutura familiar exigiram também alterações na rotina das crianças. “A questão financeira foi decisiva, não teria como manter aquela despesa fixa todos os meses. Logo que entrei em contato com a escola fui tranquilizada de que sem vaga meus filhos não ficariam. Segui todos os trâmites, prazos e o processo ocorreu como haviam me antecipado.” Filha de uma professora que leciona no Estado, Bittencourt tinha ótimas referências para seguir em sua decisão. Lais está no município, Gabriel em uma escola estadual. “Elas passam a ter contato com outras realidades e isso se reflete de maneira positiva no comportamento deles, passam a ter uma visão de mundo mais ampla e nesse momento não teria como arcar com material também. Eles elogiam muito o lanche e isso é muito bom porque aprendem a comer o que tem e o cardápio é adequado. Hoje, não teria como abir mão de algo para pagar a escola, não teria outra possibilidade e nosso orçamento ficaria prejudicado”, expõe.

Formada em Jornalismo, Mariella Silva, 33 anos, trabalha com marketing digital e edição de fotografia. Ela é mãe de Clara, sete anos, aluna da rede municipal desde 2018. Após cinco anos matriculada em uma escola particular, Silva precisou romper o vínculo e encontrou na escola pública a saída de que precisava. “Fizemos as contas e vimos que havia se tornado inviável honrar e não havia mais do que abrir mão. Conversei com outras mães e não foi uma decisão sofrida porque estudei a vida toda em escola pública e consegui uma escola na região central”. Silva conta que procurou passar segurança para Clara e como ela tem uma personalidade de fácil aceitação, foi uma transição tranquila. “No começo, eu tinha um pouco de preocupação porque foram anos em uma escola em que sabíamos o nome de todos, era um ambiente muito familiar, seguro e, logo que fui me familiarizando com a nova escola, vi que estava tudo bem e até hoje me surpreendo, principalmente com a equipe de trabalho da escola que se empenha para que tudo dê certo. Existe diferença em relação à estrutura física, falta de recursos, mas relevamos. Por meio das atividades de empreendedorismo, por exemplo, as crianças veem que precisam valorizar os professores e a serem mais participativas. O que oferecem é de qualidade, principalmente nessa idade da Clara.” Silva considera ainda que sua segurança em todo esse processo foi decisiva para que a filha entendesse a situação de modo positivo. “Não demonstrei medo, nem insegurança e as crianças se adaptam com facilidade”, reflete.