A Usina Cultural, criada em 2005, tem espaço adequado para receber espetáculos , além de oferecer projetos contínuos como oficinas e cursos, seu fechamento significaria um desperdício de investimentos
A Usina Cultural, criada em 2005, tem espaço adequado para receber espetáculos , além de oferecer projetos contínuos como oficinas e cursos, seu fechamento significaria um desperdício de investimentos | Foto: Leo Okuyama/ Divulgação



Artistas e produtores culturais aguardam ansiosos pela publicação de um novo edital do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) após o cancelamento dos 81 projetos aprovados em 2016 que seriam executados ao longo de 2017. Enquanto o impasse não é resolvido, gestores das vilas culturais lutam pela sobrevivência dos espaços destinados a abrigar cursos, apresentações artísticas e outra ações culturais. Com alugueis e custos de manutenção atrasados após o corte da verba da prefeitura, algumas atividades emergenciais estão sendo tomadas para evitar o encerramento de atividades artísticas que atendem centenas de pessoas em diversas regiões da cidade.

É o caso da Usina Cultural, primeira vila cultural do município, criada em 2005, na região central de Londrina. "Estamos numa situação extremamente complicada. A gente pode ter todas as vilas culturais da cidade fechadas se esse problema do Promic não for resolvido com máxima urgência. As vilas trabalham com projetos contínuos e os custos com aluguel, água, luz, telefone e manutenção não têm pausa de um ano para o outro", salienta a jornalista e produtora cultural Jackeline Seglin, presidente da Usina Cultural.

O Grafatório é um espaço público dedicado às artes visuais que disponibiliza laboratório de fotografia e serigrafia, atendendo centenas de pessoas
O Grafatório é um espaço público dedicado às artes visuais que disponibiliza laboratório de fotografia e serigrafia, atendendo centenas de pessoas



Ela revela que o custo médio mensal para manter o espaço gira em torno de R$ 5,8 mil. "Estamos levantando recursos junto aos integrantes dos grupos parceiros para pagar contas imediatas como água, luz, telefone e taxas da prefeitura, pois com esses débitos a vila fecharia. Além disso vamos promover em abril uma feijoada que contará com shows musicais e atividades culturais. Toda a renda do evento será utilizada para pagar alguns gastos com a manutenção do espaço", informa.

Jackeline ressalta que as medidas paliativas não são suficientes para cobrir todo o orçamento e que o risco de fechamento é iminente, caso a prefeitura não apresente uma solução para agilizar a liberação da verba do Promic. "Centenas de pessoas serão prejudicadas se a vila fechar. Ao perder a vila, perde-se todo o investimento que feito no espaço nos últimos anos. Enquanto a cidade sofre com falta de palcos, a Usina Cultural tem um ambiente todo adaptado para receber espetáculos e para diversos grupos desenvolverem seus trabalhos de pesquisa e ensaio. Atualmente atendemos 15 grupos fixos, são mais de 100 artistas que utilizam a vila toda a semana. Fora isso, temos agenda aberta o ano todo. A Usina sempre abre as portas para apresentações de grupos independentes e recebe espetáculos de grandes eventos da cidade, como o Filo, Festival de Dança e o Londrix, por exemplo", ressalta.

O Triolé Cultural, na zona oeste, tem realizado eventos semanais na tentativa de se manter até a resolução dos impasses do Promic
O Triolé Cultural, na zona oeste, tem realizado eventos semanais na tentativa de se manter até a resolução dos impasses do Promic | Foto: Fotos: Divulgação



NA CORDA BAMBA
Mantida com recursos do Promic desde 2012, a Vila Cultural Triolé também corre o risco de encerrar as atividades. "Temos um custo mensal de R$ 3 mil, que inclui gastos fixos com aluguel, água, luz e telefone. Intensificamos nossa agenda de espetáculos para tentar levantar uma verba maior e pagar as despesas do espaço. Mas mesmo realizando apresentações todos os finais de semana conseguimos levantar apenas um terço do valor devido. No final do mês vamos sentar e fazer as contas para ver se vamos conseguir continuar ou não", afirma Gerson Bernardes, gestor da vila.

A Vila Cultural Triolé está instalada em um imóvel que fica entre a Vila Industrial e o Jardim Tóquio. "Somos o único instrumento cultural da zona oeste da cidade. Além de ensaios coletivos de grupos de palhaços, ministramos cursos de pintura e outras atividades para crianças, cedemos o espaço para ensaios de grupos de teatro e música. Além de outras ações realizadas em parceria com o Sesc Cadeião Cultural, que traz para cá algumas exposições de arte que são realizadas no centro e promove exibições de filmes. Muitas pessoas serão prejudicadas caso o problema do Promic não seja resolvido com rapidez", reforça Bernardes.

DESCASO
"Infelizmente, estamos sentindo um certo descaso da secretaria municipal de Cultura em tentar encontrar uma solução para esse impasse do Promic", reclama Felipe Melhado, membro do Grafatório, vila cultural destinada às artes visuais. "As vilas culturais estão numa situação mais gritante e até agora não houve nenhuma demonstração de boa vontade ou apresentação de propostas para resolver o problema de projetos que já são realizados há quase 15 anos. Tudo leva a crer que até o início do segundo semestre não vai ter nenhum investimento na área", complementa.

Enquanto o impasse continua, integrantes do Grafatório estão planejando algumas ações emergenciais para levantar os R$ 2,2 mil mensais necessários para o pagamento das despesas do espaço localizado na zona sul da cidade. "Estamos organizando uma série de oficinas para os próximos meses que serão ministradas por amigos e frequentadores da vila que abriram mão do cachê. Também pretendemos promover festas, rifas e leilões com obras doadas por artistas solidários à nossa causa. Para não sermos despejados, precisamos de, no mínimo R$ 2,2 mil mensais", informa Melhado.

O gestor salienta que o Grafatório é abriga o único atelier de uso público na cidade. "Artistas visuais e grafiteiros utilizam o espaço o ano inteiro. Esse serviço somente o Grafatório presta. Além disso, disponibilizamos laboratório de fotografia e serigrafia e temos um dos poucos espaços da cidade totalmente adaptado para receber exposições de arte. Também realizamos diversas atividades que atendem centenas de pessoas durante o ano todo, como cursos, oficinas, palestras e outros eventos", destaca.

PAGAMENTOS ATRASADOS
Completando uma década de projetos focados na literatura, teatro e música e que acumulam diversos prêmios nacionais, a Vila Cultural Cemitério de Automóveis também tem sofrido o mesmo drama vivido pelas demais vilas da cidade. "Foram sete montagens teatrais, mais de 300 shows, 60 Saraus, projetos que atendem crianças, prêmios, parcerias inúmeras e muita participação do público. O espaço precisa pagar três aluguéis atrasados", afirma Christine Vianna, fundadora do espaço localizado no centro da cidade. Ela explica que a questão do cancelamento a pegou desprevenida e sem reserva financeira, pois em dezembro a vila ficou interditada para a reforma de uma parede que estava para desabar. Assim como tem acontecido em outras vilas, alguns eventos como shows e saraus estão sendo promovidos pela Vila Cultural Cemitério de Automóveis na tentativa de levantar fundos para cobrir despesas básicas. Atualmente existentes seis vilas culturais atuando na cidade.

Vila Cultural Cemitério de Automóveis: espaço realiza lançamentos de livros, palestras com autores, além de ser a sede do Festival Literário Londrix
Vila Cultural Cemitério de Automóveis: espaço realiza lançamentos de livros, palestras com autores, além de ser a sede do Festival Literário Londrix



Prejuízo atinge 253 mil londrinenses
Em uma carta aberta à população, artistas e produtores culturais da cidade apontaram os prejuízos causados pelo cancelamento dos editais 2016 do Programa Municipal de Incentivo à Cultura – Promic anunciado em fevereiro pela Secretaria Municipal de Cultura. Segundo dados apresentados, somente no ano passado o programa foi responsável por propiciar a 253 mil pessoas o acesso à cultura e por realizar um terço de todas as atividades de contraturno escolar no município.

O documento aponta que o cancelamento dos editais do Promic é um retrocesso histórico. As Vilas Culturais de Londrina, referências para todo o país, correm sério risco de encerrar suas atividades. Isto significa que todo o recurso investido pelo município em mais de uma década do Programa Vilas Culturais (mais de R$ 2 milhões) poderá ser desperdiçado. As Vilas ainda em atividade necessitam de cerca de R$ 35 mil por mês para sua manutenção - valor incomparável ao que será perdido com o seu fechamento, destaca a texto. (M.R.)