Imagem ilustrativa da imagem Uma história, muitas memórias
| Foto: Anderson Coelho
Apresentação de "A Princesa Errante e o Príncipe Errado": Encontro de Contadores de Histórias traz a Londrina espetáculos e oficinas, as atividades são grandes ferramentas pedagógicas
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| Foto: Saulo Ohara
O ator, compositor, dançarino e professor Christiano Meirelles em ação no último domingo: apresentações performáticas para crianças



Em algum momento da vida escolar, todo mundo já teve um professor que contou uma história marcante durante a aula. Não necessariamente com relação à disciplina, mas aquela, que, de alguma forma, tocou e despertou algum sentimento, alguma lembrança ou trouxe um sentido diferente na visão sobre o assunto ou do mundo. Isso só faz reforçar a ideia de que todo professor é um contador de histórias, ainda que pense que não. Contar história, antes de tudo, é transmitir conhecimento pela oralidade ou compartilhar experiências que têm o poder de transformar a vida de quem ouve e, também, de quem conta.
Portanto, dizer que a contação de história instiga a imaginação, criatividade e gosto pela leitura, não é novidade, apesar de extremamente importante e fundamental. Essa poderosa ferramenta vai muito além do universo da literatura; pode ser amplamente utilizada em vários campos da aprendizagem como recurso pedagógico. Prova disso é Malba Tahan, professor e autor do famoso livro "O homem que calculava", que, por meio da obra, focava no didatismo para ensinar a matemática de uma forma divertida e diferente.
Felizmente, alguns professores já se atentaram à força da contação e suas inúmeras possibilidades. E o melhor, estão usando isso em suas aulas. Lançam mão do poder da palavra falada pela narrativa para despertarem o interesse e a compreensão do aluno. Essa metodologia, entretanto, como já é chamada por alguns pesquisadores, acima de tudo, ajuda na construção do caráter e valores, contribui no desenvolvimento da personalidade e desperta o lado social e afetivo. Somente aí, há uma grande colaboração.
Desde a semana passada, a 6ª edição do Encontro de Contadores de Histórias de Londrina (Ecoh) tem movimentado a cidade com inúmeras apresentações. A programação totalmente gratuita segue até o próximo dia 14 com narrações baseadas em contos clássicos da literatura, histórias inspiradas em 'causos' populares e da cultura tradicional do Brasil, histórias de autores brasileiros, histórias musicais, histórias de palhaços, além de releituras dos contos de fadas. Várias escolas, espaços culturais e espaços públicos receberam e estão recebendo as apresentações, como "Mitofonias", de Cristiano Meirelles, que aconteceu no último domingo na Vila Cultural Kinoarte, durante o evento "Quizomba". Ator, cantor, dançarino, compositor, diretor musical e professor, Meirelles utiliza várias artes em sua apresentação que aborda música e mitologia.
Além disso, o Ecoh abre espaço para discussão e aprendizagem, com a realização de oficinas formativas para o público em geral, professores e educadores. Uma delas é voltada aos professores do projeto "Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes", que trabalham nas bibliotecas das escolas da rede municipal de ensino. O projeto foi instituído em Londrina em 2002 adotando estratégias como formação e promoção de encontros mensais com os professores da "Hora do Conto", projeto de contação de histórias, dando incentivo aos professores para a elaboração das propostas de trabalho de mediação da leitura, assim como instalação e readequação de biblioteca, seleção de temas, de autores dos livros e acervo. Até hoje, a "Hora do Conto" é desenvolvida pelo menos uma vez por semana em cada turma de 1ª a 4ª série do município.

Dos objetos à assombração
Rovilson da Silva, Doutor em Educação e idealizador do projeto diz que contar histórias e, por extensão, ouvir histórias, faz parte da constituição humana, em qualquer fase da vida. "Agora, quando se pensa na infância, as histórias contribuem mais fortemente para a formação, para o amadurecimento psicológico da criança que, por meio das histórias, entram em contato com sentimentos humanos fundamentais à nossa constituição como sujeitos. Além disso, como a criança está num período aberta à aprendizagem, com certeza, ela aprenderá ao ouvir uma história. Mas é importante compreender esse aprender, que deve ser visto de um modo mais amplo que apenas o relacionar com este ou aquele conteúdo, pois a literatura traz porções de humanidade transpostas em palavras e, isso, é essencial à formação de qualquer ser humano".
A oficina em questão, "Contando Histórias com Objetos", será ministrada pela contadora de histórias Kelly Orasi, que, no encontro, pretende mostrar outros recursos que podem ser utilizados durante a contação. "A preservação da palavra é essencial, afinal, contação é baseada na tradição oral. Mas o contador pode abordar sua performance com outros recursos e outras artes, entre eles, músicas e objetos. O intuito da oficina é dar subsídios para o aprimoramento das técnicas e, assim, o professor se aproximar ainda mais do aluno", explica. Essa aproximação, segundo ela, é capaz de criar elos e identificação com quem ouve, pois "ao compartilhar experiências, o professor pode introduzir de forma simbólica e lúdica em algo concreto". Ela também apresenta a contação "Do céu da boca aos pés do ouvido", no dia 12 de agosto, às 14 horas, na Biblioteca Infantil.
Integrante da Cia Arte Negus, Augusto Figliaggi, que vai apresentar "Historietas e Assombretas" amanhã (10) durante o Ecoh, diz que, ao contar histórias da cultura popular, como folclore e de assombração, desperta, no mínimo, a curiosidade nas crianças. "Na contação, é comum apenas o entretenimento ser visto no primeiro momento. Mas essa é apenas uma das facetas. Por mais que não atuemos diretamente com educação, interferimos no processo de aprendizagem. Assim como acontece em outros temas, é uma fagulha no interesse que surge nas crianças ao ouvirem uma história. Percebemos que muitas vão atrás do livro na sequência da contação. Já os professores usam nosso primeiro contato para introduzirem, abordarem ou, até mesmo, expandirem assuntos relativos às disciplinas", pontua.

Programação completa: www.ecohlondrina.com