Visita do Padre Kentenich ao Colégio Mãe de Deus (1947): ele é uma das pessoas mais importantes na construção dessa história
Visita do Padre Kentenich ao Colégio Mãe de Deus (1947): ele é uma das pessoas mais importantes na construção dessa história | Foto: Foto: Acervo do Colégio Mãe de Deus



"Coração de Mãe" é o mais recente livro do jornalista e cronista da Folha de Londrina, Paulo Briguet, cujo lançamento será neste sábado (9), às 9h30, no Teatro Mãe de Deus. Após dois anos de pesquisa (a partir de documentos, crônicas do colégio e a bibliografia do Pe. José Kentenich, fundador do Movimento Apostólico Internacional de Schoenstatt, na Alemanha, em 1914), o autor realizou uma narrativa literária – ao longo de 33 capítulos – sobre a fundação do Colégio Mãe de Deus em Londrina, que este ano completa 81 anos. A obra, conduzida por personagens reais, é baseada, principalmente, no modelo educacional introduzido na cidade (primeira fora da Alemanha), o Sistema Pedagógico de Schoenstatt, relatos de alguns dos quase 80 mil alunos que passaram pelo colégio, e a história da própria escola. Na ocasião, estarão presentes entrevistados que serão homenageados.

No prefácio do livro, a gestora educacional do colégio, Irmã Rosa Maria Ruthes, destaca o reconhecimento do autor em abordar a eficácia do sistema pedagógico, na obra que considera "histórica, ora romanceada, ora com termos poéticos". "Desde o início de suas atividades, esta ação pedagógica carismática do fundador exerceu e continua a se desdobrar na formação de personalidades livres, fortes, profundamente vinculadas e arraigadas na conquista da harmonia orgânica entre a natureza humana e a graça divina. No livro, Briguet também mostra o que há de novo nesta comprovada alternativa educacional que o sistema pedagógico kentenichiano oferece, como experiência concreta, frente à crise universal de nossos tempos tão agitados e confusos".

Paulo Briguet: "Eu me permiti utilizar elementos de imaginação e personagens ficcionais para ilustrar fatos comprovadamente históricos"
Paulo Briguet: "Eu me permiti utilizar elementos de imaginação e personagens ficcionais para ilustrar fatos comprovadamente históricos" | Foto: Ricardo Chicarelli



Confira entrevista de Paulo Briguet concedida com exclusividade à Folha 2:

Na apresentação do livro você diz: "este livro não é uma obra historiográfica. É uma narrativa literária inspirada nos fatos históricos de uma instituição". Qual o propósito do livro?
Não sou e jamais pretendi ser um historiador. Sou um escritor, mais precisamente um cronista. Creio que é possível partir de fatos históricos para compor narrativas envolventes, como ensinaram grandes mestres da literatura como Tolstói, Stendhal e Manzoni. Em três capítulos do livro, devidamente indicados no texto de apresentação, eu me permiti utilizar elementos de imaginação e personagens ficcionais para ilustrar fatos comprovadamente históricos. O propósito do livro é tocar o coração do leitor; não me refiro aqui ao coração apenas como sede dos sentimentos, mas no sentido bíblico do termo, definido pelo papa emérito Bento XVI: "O centro da existência humana, uma confluência da razão, vontade, temperamento e sensibilidade, onde a pessoa encontra a sua unidade e orientação interior". Este livro foi escrito com o coração nas mãos. É uma história linda e comovente, uma história de sacrifício, trabalho e persistência. Espero ter sido um cronista à altura de fatos tão miraculosos.

Para escrevê-lo, certamente, você teve de recorrer à história da cidade e da própria escola. Como foi esse processo de pesquisa e quais critérios para seleção dos fatos?
Londrina constitui a essência do meu trabalho literário. Além de novas leituras sobre a história da cidade — pois estamos sempre aprendendo sobre esta amada terra —, mergulhei na vasta obra educacional e teológica do Padre José Kentenich (1885-1968), fundador do Movimento Internacional de Schoenstatt e do Colégio Mãe de Deus. O conhecimento da espiritualidade expandiu meu horizonte intelectual e me ofereceu uma visão orgânica sobre esse milagre chamado Mãe de Deus. Outra fonte importantíssima foram as entrevistas: ouvi cerca de 40 pessoas, que tiveram diferentes papéis ao longo da história do Colégio. A par dos preciosos depoimentos, vali-me de documentos históricos, com o importante auxílio da ex-aluna do CMD Elenice Dequech e sua equipe (responsáveis por organizar o acervo da instituição). Por fim, mas igualmente essencial, as Irmãs de Maria permitiram que eu consultasse as Crônicas em que as pioneiras descrevem, desde os anos 1930, o dia a dia da instituição. Assim foi possível, por exemplo, "conversar" diretamente com a primeira diretora do Colégio, Irmã Norberta. Quando me retirei para escrever o livro, descobri que estava diante de uma história épica. Paradoxalmente, um épico da humildade, em que os heróis e heroínas são os seres mais discretos e reservados que podemos conceber.

Diante disso, quais fatos históricos destacaria da trajetória da escola em Londrina e como transformou tudo em narrativa? Existem "personagens" que conduzem essa história?
Sim, as personagens são os condutores da história. Eu já sabia que o livro teria 33 capítulos. É um número poderosamente simbólico: a idade de Cristo (que o apóstolo São Paulo chamada de "plenitude da idade") e o mesmo número de cantos da Divina Comédia em cada uma de suas partes. Para o antropólogo Joseph Campbell, toda história precisa ter um herói e um condutor. Virgílio conduziu Dante no Inferno e Beatriz conduziu Dante no Paraíso. Este cronista de sete leitores, que de semelhança com Dante só tem o número de capítulos, teve por condutores as pessoas que fizeram a história do Mãe de Deus: a começar pelo Padre Kentenich — um dos heróis do nosso tempo —, logo em seguida as 12 Irmãs pioneiras que vieram da Alemanha em 1936 e depois todos aqueles que ajudaram a construir o sonho de Londrina, o sonho do Colégio, o sonho do Santuário. Podemos resumir todos esses sonhos numa expressão que o Padre Kentenich utilizou quando estava preso pelos nazistas em Coblença, em 1941-42: Mariegarten. O Jardim de Maria. O Colégio Mãe de Deus é o Jardim de Maria. Em muitos momentos, eu me emocionei com a coragem e a determinação das personagens deste jardim. Elas passaram a fazer parte da minha vida.

Após as pesquisas para elaborar o livro, como definiria a participação do colégio na vida social e cultural da cidade?
Londrina teve vários nascimentos e renascimentos. Nasceu historicamente em 1929, com a primeira caravana. Nasceu politicamente em 1934, quando se tornou município. Nasceu institucionalmente em 1937, com a fundação da ACIL. Nasceu jornalisticamente em 1948, com a fundação da Folha de Londrina. Nasceu academicamente com a fundação da UEL. Renasceu em 1975, quando se reinventou a partir da Grande Geada. O Colégio Mãe de Deus foi responsável por um desses nascimentos: o nascimento educacional, cultural e espiritual de nossa cidade. Uma das teses centrais do livro é a ideia de que o Mãe de Deus — mais especificamente, o Santuário Mãe Esmagadora da Serpente — é o coração espiritual de Londrina. E o fato de estar ligado a Maria — "Bendita sois vós entre as mulheres" — não nos deixa esquecer da fundamental importância que o Colégio teve na formação das mulheres de Londrina. Embora muitos homens também tenham tido ali a sua casa do saber. Depois de escrever "Coração de Mãe", eu me considero um deles.

Qual a importância das irmãs no sistema de ensino trazido à Londrina?
Há no livro várias referências à Pedagogia de Schoenstatt. A educação baseada na liberdade e no amor é um conceito central na trajetória do Colégio Mãe de Deus. Isso desde o começo, no dia 3 de março de 1936, quando a escola começou a funcionar em uma casa de madeira situada no mesmo local onde hoje fica a sede da Acil. Para as Irmãs de Maria, o trabalho educacional está sempre guiado pelas cinco estrelas condutoras: Movimento, Confiança, Aliança, Vinculação, Ideal. Eis aí cinco palavras que ajudaram a conduzir meu trabalho.

E no ensino de música, como descreveria a educação que aqui foi iniciada?
Nem todos sabem, mas o Curso de Música da UEL nasceu dentro do Colégio Mãe de Deus; nos primeiros anos, o CMD era a sede do curso. Por ali passaram, como professores, grandes mestres da música, como Antônio Delorenzo e Hans-Joachim Koellreutter, além de muitos talentos que Londrina revelou ao mundo e estiveram em seus bancos escolares. Outro dado importante: em 1936, três Irmãs do Colégio — vindas da Alemanha — formaram o Coral Santa Cecília, grupo musical mais antigo da cidade e possivelmente o mais longevo do Brasil, em atividade até hoje. Foi também no Mãe de Deus que ocorreu a primeira apresentação teatral da história da cidade, com a participação de Maria Alice Brugin, primeira aluna matriculada do Colégio. D. Maria Alice vai estar no lançamento do livro, no Teatro Mãe de Deus — esse que é um dos mais valiosos patrimônios culturais que Londrina conheceu nos últimos anos.

Imagem ilustrativa da imagem Uma história do coração de Londrina
| Foto: Reprodução



Serviço:
Lançamento livro "Coração de Mãe"
Quando: Sábado (9), às 9h30
Onde: Teatro Mãe de Deus (av. Rio de Janeiro, 700)

"Coração de Mãe" (2017)
Autor: Paulo Briguet
Editora: Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt (400 págs.)
Preço: R$ 35,00