Nesta altura de sua carreira, iniciada aos 14 anos de idade, o ator Tony Ramos, 60, está seguro do sucesso. Um exemplo está no longa-metragem ''Se Eu Fosse Você 2'', de Daniel Filho, que se aproxima-se dos 4 milhões de espectadores.
Adepto da tese de que ''menos é mais'', Ramos diz que ''a representação está em não complicar'', o que significa que, ''além de entender, compreender e decorar, é preciso saber que você não é aquele personagem e brincar com ele''.
Ramos é, portanto, um tipo de ator avesso ao trânsito aparentemente esquizofrênico dos que ''entram'' e ''saem'' constantemente de seus personagens. ''Não consigo viver o personagem. Não há a menor possibilidade de eu levar um personagem para a minha casa!''
O que fez Tony Ramos, ou melhor, Antônio Carvalho Barbosa Ramos querer ser ator foram os ídolos que ele via nas matinês de cinema, quando garoto. ''Eu queria ser Oscarito (1906-70) e Tot• (1898-1967).'' Porém, não é exatamente à comédia que a carreira de Ramos é mais comumente associada pelo público, mas sim ao estereótipo do galã de novela. Até aqui, são 72 personagens desempenhados na TV, numa trajetória iniciada em 1964, quando Ramos despontou no programa de Ribeiro Filho ''Novos em Foco'' (Tupi) e ali chamou a atenção do diretor Cassiano Gabus Mendes.
Na recém-estreada novela das oito da TV Globo, ''Caminho das Índias'', Ramos interpreta o sisudo Opash, um conservador patriarca indiano, que procura manter a família fiel às tradições mais ortodoxas.
O ator estava na Alemanha, em julho passado, quando a autora Glória Perez lhe telefonou, com o convite para participar da novela. Mesmo de férias, após as filmagens de ''Se Eu Fosse Você 2'', ele se dispôs a ouvi-la, porque considera ''Glória Perez uma autora que respeita o folhetim''. E Tony Ramos é alguém que há muito tempo aprendeu a respeitar quem respeita o folhetim. ''Quando a gente dizia: ''Isso só acontece em novela!', dona Janete respondia: ''Cuidado, que a novela busca (suas tramas) na vida'', conta ele.
Foi numa novela de ''dona Janete'', ''O Astro'', que Ramos fez seu primeiro nu na teledramaturgia, que ele calcula ter sido também o primeiro nu masculino da TV brasileira. ''Era 1977. Havia censura. Mas dona Janete conseguiu convencê-los de que era importante'', recorda. A cena mostrava o rompimento de um filho, Márcio Hayala (Ramos), com o pai, Salomão Hayala (Dionísio Azevedo). ''Eu dizia: ''De você, nem o dinheiro que comprou essa roupa eu quero mais'. Tirava a roupa e saía'', conta o ator.
De estrangeiros e de compatriotas, Ramos ouve ''desde os anos 70'' previsões sobre ''o colapso da novela''. Mas ele é categórico na avaliação contrária: ''A novela continuará''. Para Ramos, ''a discussão sempre é sobre como fazer para manter o espectador interessado''. E a resposta, para ele, não muda nem falha: ''texto, texto e texto'' e a obediência ao tripé ''amor, paixão e suspense''.
Um recurso que pode se tornar mais comum, avalia o ator, é o da inversão de expectativas do público, como foi a escalação de Patricia Pillar no papel de vilã e de Cláudia Raia como a sofredora na trama de ''A Favorita'' (João Emanuel Carneiro), que antecedeu o folhetim ''Caminho das Índias''.
Mocinho ou vilão, Ramos habituou-se a ter uma carreira que se mantém em evidência há décadas. ''A vida já me deu muita coisa. Eu me sinto muito recompensado por esse tal do sucesso'', afirma.
Desse ''tal do sucesso'', assim como de ''dona Janete'', ele mantém distância respeitosa. ''O que o sucesso dá é mais conforto para escolher novos projetos. É muito bom a gente comemorá-lo, silenciosamente. É uma característica minha. Sou muito feliz com o hexa do meu São Paulo, mas não saio por aí gritando, ''Que venha o hepta!''.