É difícil encontrar alguém que não tenha a ''música da sua vida'' gravada na memória e no coração. Às vezes é apenas um trecho que pega forte, uma única frase que tem o poder de remeter a uma série de emoções, contrapondo o ritmo normal do tempo, já que faz viver no presente algo que ficou no passado. Seja um sentimento bom ou ruim, a música nos transporta a um universo particular e marca diferentes fases da vida.
Foi pensando nesse sentido que o fotógrafo Luiz Augusto Rodrigues, 30 anos, resolveu colocar em prática o desejo de associar a arte de fotografar com a música. Nascido em Londrina (sua mãe foi a primeira aeromoça da cidade, Miriam Silva), passou a maior parte da sua vida em São Paulo. Depois de sete anos em Londres, onde estudou fotografia na Universidade de East London e realizou diversos trabalhos na área da música e catálogos de moda, ele está de volta a Londrina desde janeiro, com a intenção de se estabelecer por aqui - local escolhido por seus pais desde 2005 para morarem após a aposentadoria.
Fascinado por música, resolveu colocar em prática o ''Projeto Livro de Cabeceira'', que consiste no registro fotográfico em preto e branco de trechos musicais escritos com caneta hidrográfica preta em partes do corpo de pessoas anônimas que queiram participar espontaneamente da iniciativa. Tudo começou com um post no Facebook e agora já são mais de 250 mil acessos ao link com as 143 fotos que foram produzidas até então. Entre elas, uma do Lobão e outra do Zeca Baleiro, que aconteceram por acaso durante a captação das imagens.
O nome do projeto faz referência ao filme homônimo franco-britânico, de 1996, feito em preto e branco, que conta história de uma família japonesa em que o pai escreve frases de saudações no rosto e nuca da filha a cada aniversário.
''O foco são anônimos, pessoas que conheço em baladas ou que entram em contato pelo Face. As fotos são produzidas de forma natural, sem produção especial, e às vezes são feitas até em banheiros, conforme a parte do corpo em que a frase é registrada para garantir mais privacidade'', conta. O fotógrafo não costuma interferir na decisão da parte do corpo escolhida para o registro e nem no trecho de música selecionada, mas diz procurar ''uma verdade na relação da pessoa com a música''.
Adepto de tatuagens, a última de Rodrigues foi feita no antebraço direito, onde tem gravada de forma permanente a seguinte frase dos Beatles: ''There will be an answer... Let it be''. ''É como um mantra, gosto de olhar para ela, isso me dá força, é motivacional. Na verdade, só o compositor sabe o sentido que tinha a letra da música quando ele escreveu, mas cada pessoa vai dar um sentido próprio à mesma música, isso é muito interessante'', destaca. Além disso, ele reforça o aspecto de registro cultural do trabalho, já que de certa forma exterioriza a memória musical das pessoas. ''Muita gente tem lembrado de trechos de bandas londrinenses que não estão mais em atividade'', comenta.
Parte do seu trabalho será exposto hoje, a partir das 17 horas, no Bar.bearia, quando acontece também show da banda londrinense Hocus Pocus, com entrada franca, que irá tocar repertório inédito. Rodrigues também está finalizando projeto dirigido ao Programa Municipal de Incentivo à Cultura para viabilizar a publicação em livro dos registros fotográficos. ''A minha ideia é que o material chegue ao maior número de pessoas, principalmente às pessoas que não têm acesso à arte. Espero que esse trabalho leve emoção às pessoas e acho importante o material impresso, ele dá um valor maior neste tempo de coisas descartáveis'', acredita.
Os interessados em conhecer mais sobre o trabalho do fotógrafo ou participar do projeto podem entrar em contato pelo facebook.com/projetolivrodecabeceira.

Serviço
- Exposição de fotos do Projeto Livro de Cabeceira e show da banda Hocus Pocus
Quando - Hoje às 17 horas
Onde - Bar.bearia (R. Quintino Bocaiúva, 875)
Quanto - Entrada franca