O Projeto Multiletramentos e Tecnologias do Centro Educacional Marista Irmão Acácio, que atende crianças e jovens no contraturno escolar, foi um dos inscritos no PR em 2016
O Projeto Multiletramentos e Tecnologias do Centro Educacional Marista Irmão Acácio, que atende crianças e jovens no contraturno escolar, foi um dos inscritos no PR em 2016 | Foto: Divulgação



Há muitas histórias bacanas acontecendo nas escolas e que precisam de espaço para emergirem. Especialmente aquelas em que os protagonistas são os próprios alunos, dispostos a transformar a realidade ao seu redor.

De olho nesses idealizadores, o projeto Criativos da Escola chega à terceira edição, com inscrições gratuitas a partir do dia 10 de abril. Para entender a amplitude deste trabalho, é preciso contar uma história antes.

Tudo começou na Índia e em pouco tempo se tornou um movimento global chamado Design for Chance. Hoje, ele ocorre em 45 países e inspira mais de 2,2 milhões de crianças e jovens.

No Brasil, o movimento chegou há dois, pelo Instituto Alana, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, que valoriza projetos que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância.

Chamado de desafio Criativos da Escola, o projeto reconhece e premia iniciativas protagonizadas por estudantes dos ensinos fundamental e médio, de escolas públicas e privadas, organizações não-governamentais e associações comunitárias.

Através de um concurso exclusivamente cultural, os alunos apoiados por seus educadores, participam com ideias que podem transformar tanto o meio escolar quanto a comunidade em que vivem.

Ao todo, são selecionados 10 projetos, além de 01 na categoria especial pela Parceria Votorantim pela Educação (PVE). Para se inscrever é preciso responder a sete questões que envolvem a motivação do projeto, a busca por soluções criativas e até como o grupo se organizou para trabalhar em conjunto.

"A gente tenta identificar se a iniciativa traz quatro pilares: protagonismo, empatia, criatividade e trabalho em equipe. Eventualmente, o professor pode propor o projeto, mas é preciso que os alunos se apropriem dele, pois percebemos que esse envolvimento genuíno ganha uma outra qualidade tanto de resultado quanto de impacto na vida dessa criança ou jovem", aponta Carolina Pasquali, diretora do Criativos da Escola e de comunicação do Instituto Alana.

Ela diz que a ideia é contaminar esses estudantes com a percepção de que eles podem atuar e fazer diferente, isto é, transformar. "O Criativos busca encorajá-los. É uma estratégia para descobrirmos onde isso está acontecendo para podermos conectá-los e dar luz à essas histórias, mostrando que isso tem valor", afirma.

Sobre a premiação, o Instituto Alana reúne alguns representantes de cada equipe e propõe a criação de algo em conjunto em três dias. "No ano passado, criamos um mini documentário sobre colaboração, que foi apresentado no evento de premiação. A cada edição escolhemos um destino diferente. Neste ano será no Rio de Janeiro", revela.

A escola dos alunos premiados, recebe R$ 1,5 mil para organizar um evento e contar sobre o projeto. "É uma intenção de contaminar outros alunos também", diz a diretora do Criativos. Além disso, o educador é premiado com R$ 500 para realizar algum curso de formação ou mesmo, para investir em alguma demanda específica do projeto.

ESCOLAS PÚBLICAS
No ano passado, o número de inscritos dobrou em relação à 2015, passando de 419 projetos para 1.014 de diversos estados brasileiros. De acordo com Carolina, na segunda edição, 81% dos projetos inscritos eram da rede pública de ensino, 7% de escolas particulares e 6% de ONGs.

"O projeto é para qualquer escola, mas nossa estratégia é uma aproximação maior das redes públicas, então acabamos fazendo uma mobilização muito maior nesse sentido", explica.

Para isso, o Instituto conta com a parceria da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) para divulgação do concurso e o apoio do Ministério da Educação "que entendeu que o projeto tinha bastante sinergia com algumas das políticas, em especial com o Mais Educação."

Ainda de acordo com ela, O Paraná foi representado por 20 inscrições, sendo duas de Londrina. Um é o Programa Atitude do St. James International School, que tinha o objetivo de conscientizar e orientar os alunos do ensino médio de escolas públicas para a realização de trabalho voluntário consciente.

Outro é o Projeto Multiletramentos e Tecnologias do Centro Educacional Marista Irmão Acácio, que atende crianças e jovens no contraturno escolar. Segundo o educador de Informática Maurício Campano Cesário, o projeto envolveu cerca de 30 alunos de 14 a 18 anos do curso técnico e mais 70 estudantes de 6 a 10 anos de uma escola municipal na zona Norte de Londrina.

Cesário trabalhou em conjunto com o educador de Letras, Michael dos Santos Mendes, que ao identificar a dificuldade com a escrita e leitura em alguns alunos, propôs uma ação para auxiliá-los.

"A ideia foi trabalhar com a ferramenta do Power Point para a construção de jogos educacionais. Pesquisamos os personagens mais admirados por essas crianças e desenvolvemos jogos com questões de raciocínio lógico e de letramento", explica.

Após dois meses de construção, o projeto foi aplicado pelos próprios adolescentes. De acordo com Cesário, a ideia deu tão certo que o grupo está trabalhando na criação de um site de objetos de aprendizagem. "Vamos criar uma página para que as crianças possam baixar os jogos e levá-los para a comunidade.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto visa a construção coletiva
| Foto: Divulgação
Em 2016, o projeto premiou iniciativas de diferentes estados, como o "Solta esse Black" do Rio de Janeiro no qual estudantes promoveram oficinas e debates para a valorização do cabelo afro e da autoestima entre as alunas



De ‘cabelo black’ a plantas medicinais
A edição 2016 do desafio Criativos da Escola, reconheceu e premiou projetos de diferentes estados, como o "Solta esse Black" do Rio de Janeiro. As estudantes promoveram oficinas e debates, inclusive na internet, para a valorização do cabelo afro e da autoestima entre as alunas.

As participantes relataram ao Instituto que a iniciativa deu tão certo que o projeto já está atravessando os muros da escola, chegando à comunidade. Um encontro está agendado para maio, no Complexo do Chapadão (zona Norte) e deverá convocar todas as mulheres de cabelo crespo para participar.

Outro reconhecimento foi o trabalho "Utilização de plantas medicinais no município", de Rio do Antônio, na Bahia. O grupo entrevistou idosos e elaborou um livro com 70 plantas medicinais do município, suas recomendações e contraindicações.

Para o Instituto, o estudante Wesley Lima afirmou que "os idosos se sentiram valorizados e viram que o conhecimento repassado por eles não ia morrer ali. Viram que tinham jovens que se interessavam pelo conhecimento popular." (M.O.)

‘Protagonismo é um caminho sem volta’
A diretora do desafio Criativos da Escola, Carolina Pasquali, observa que atualmente, os jovens estão dando vazão à vontade de produzir conteúdo, "mas nem sempre eles estão sendo ouvidos dentro da escola."

Seguindo este pensamento, ela contextualiza a importância de valorizar o protagonismo dos estudantes, ainda mais nesse momento em que o modelo de educação está em plena discussão no País.

"A chave do protagonismo é um caminho sem volta. É uma proposta de repactuação dentro da escola. A ideia é que eles possam ajudar a significar essa construção de conteúdo coletivo. Com isso, eles terão ganho também na autoestima, responsabilidade, resiliência e na tomada de decisão", acrescenta.

Dos projetos que ganharam, o Instituto mantém um acompanhamento mais próximo e buscar ajudar a ampliá-los, com orientações e divulgação. "É importante que as crianças e jovens se sintam parte dessa rede e vejam que tem mais gente fazendo diferença", conclui. (M.O.)