Aulas de fotografia no Colégio Estadual Professora Maria Aguiar, em Curitiba (PR), foram conseguidas através do projeto "Quero na Escola", patrocinado por dois institutos e uma fundação
Aulas de fotografia no Colégio Estadual Professora Maria Aguiar, em Curitiba (PR), foram conseguidas através do projeto "Quero na Escola", patrocinado por dois institutos e uma fundação | Foto: Fotos de Divulgação



Ana Paula de Carvalho é uma estudante de escola pública. Aos 18 anos, como qualquer jovem, gosta de ver vídeos em canais da internet. Um deles, chamou atenção especial da garota. "O vídeo falava de um projeto que achei muito interessante. Entrei no site para ver e já me cadastrei." O projeto do qual ela se refere é o portal "Quero na Escola", uma plataforma digital lançada no final de 2015 que faz a ponte entre estudante e profissional para viabilizar a necessidade dessas crianças e adolescentes. "Escrevi que queria aulas de fotografia, de programação de computador, ioga e a implantação de uma horta na escola." Pois bem, pedido feito, pedido realizado. Pouco menos de um mês, profissionais da área foram ao Colégio Estadual Professora Maria Aguiar Teixeira, em Curitiba. "Foi um bate-papo e demonstração prática. Muitos alunos se interessaram e foram atrás de mais informações."

Com o slogan "Aprenda o que você quiser - A grade curricular da escola não pode atender a todos os seus interesses, mas o mundo pode", o projeto "Quero na Escola" surge de forma a dar visibilidade ao protagonismo estudantil. E isso acontece de forma muito simples: os alunos dizem, com todas as letras o querem, ao mesmo tempo em que profissional que pode doar seu tempo e conhecimento se manifesta. Vale tudo. Aulas de fotografia, palestras sobre sexo, escrita criativa, aulas de jiu jitsu, oficinas de artesanato, grafite. Esses são apenas alguns exemplos da manifestação de estudantes de escolas de todo Brasil que já participaram. Atualmente, há pedidos de 19 Estados e, em sete, atividades já foram realizadas, totalmente gratuitas. A plataforma tem apoio do Instituto Unibanco, Instituto Natura e Fundação SM.

Aula de breaking na Escola Estadual Maria Soares, em Itapevi (SP): desejo manifestado pelos alunos e realizado graças ao projeto
Aula de breaking na Escola Estadual Maria Soares, em Itapevi (SP): desejo manifestado pelos alunos e realizado graças ao projeto



A coordenadora Cinthia Rodrigues, que idealizou o portal com as jornalistas Luciana Alvarez, Luísa Pécora e Tatiana Klix, explica que, depois de um mapeamento das necessidades dos estudantes e das escolas públicas, perceberam que, por um lado, as crianças e os jovens têm interesses de aprendizagem além das disciplinas do currículo escolar, as escolas, pelo excesso de demandas, não conseguem prestar esse atendimento. "Por outro lado, há pessoas que gostariam de colaborar com a educação pública de forma voluntária, mas não sabem como." A plataforma para pedidos e cadastros está disponível no endereço queronaescola.com.br. Já as iniciativas realizadas podem ser acessadas pelo blog.queronaescola.com.br, com notícias sobre as atividades realizadas.

"Participei do Social Good Brasil Lab, um laboratório de inovação social que promove cursos de imersão em que, a partir de um problema social, os participantes se aprofundam nos temas e depois propõem soluções práticas. Para tanto, entrevistei professores para saber as necessidades reais de suas escolas", lembra Cinthia. A partir de então, o ponto de partida para a sistematização foram entrevistas com estudantes para saber o que queriam. "Na escuta deles, uma jovem disse, entre outras coisas, que queria aprender escrita criativa. Neste ponto, éramos quatro jornalistas e pensamos: "Poxa, isso a gente podia ajudar". Aí nos tocamos que a sociedade não sabe o que cada um deles quer e como pode ajudar."

Grafite na Escola Municipal Esmeralda Duarte da Silva, Severínea (SP): alunos sintonizados com a arte urbana
Grafite na Escola Municipal Esmeralda Duarte da Silva, Severínea (SP): alunos sintonizados com a arte urbana



ESCOLA PÚBLICA
Ela explica que o site está aberto a qualquer estudante de escola pública, sem entrar no mérito de porque este pedido e não outro. Os anseios são nomeados por eles de maneira livre. "Basta pedir", diz. Depois, os pedidos são compartilhados nas redes sociais para receber a inscrição de propostas de voluntários (com dia que pode e quantas aulas/encontros/atividades gostaria de fazer). "Só então entramos em contato com a escola e dizemos 'seu aluno tal quer isso e você tem o voluntário tal que pode entregar'. Fazemos assim porque pesquisamos. As escolas são sobrecarregadas e não conseguem por alguém para lidar com novos projetos, ter trabalho de gerenciar etc. Somos principalmente este facilitador, apresentamos escola e sociedade, mas também somos a ferramenta que permite a multiplicação das pessoas que conheçam o pedido, já que cada escola tem uma "página" no site", detalha.

Os voluntários que se manifestam, por sua vez, se sentem reconectadas com seus propósitos, diz a coordenadora. "Não fazem isso por assistencialismo, mas porque curtem muito o tema que o aluno pediu (feminismo, racismo, programação, horta). São causas para estas pessoas e elas não sabiam que podia haver um adolescente querendo falar daquilo. Ao clicar no "li e aceito" do nosso site, o voluntário concorda com a lei do voluntariado. Isso é importante para não criar vínculo e tira este trâmite das costas da escola."

A grande diferença entre o resultado de um estudante de escola particular e pública, conforme ela, é o seu contexto sociocultural e não a qualidade da escola em si. "O aluno da escola particular tem mais acesso a cultura, férias, teatro e pessoas que conversam sobre tudo. Por isso, achamos importante aumentar o número de pessoas que se conectam aos estudantes das escolas públicas. Essa conexão começa pessoalmente, na visita a escola, e continua se quiserem." A coordenadora ainda lembra do viés importante da plataforma ao cumprir a constituição. "Educação é um dever do Estado, da família e da sociedade. Porém no mundo atual, muitas vezes vizinhos e comunidade fazem pouco e nem sabem por onde começar. Também qualificamos o debate sobre escola pública."

Alunos de escolas públicas que queiram fazer pedidos e profissionais que queiram se cadastrar no projeto podem se inscrever no site: queronaescola.com.br