Dolores Branco: "Paulo era artista 24 horas por dia, desenhava em qualquer suporte ao alcance, do guardanapo ao envelope de carta"
Dolores Branco: "Paulo era artista 24 horas por dia, desenhava em qualquer suporte ao alcance, do guardanapo ao envelope de carta" | Foto: Dolores Branco/ Acervo pessoal


Dolores Branco e Paulo Menten conheceram-se em São Caetano do Sul, na década de 70. A admiração pelo trabalho transformou-se em parceria profissional e de vida. Juntos, fizeram uma história em Londrina, onde conquistaram espaço e respeito pela arte que ambos produziram. "Trabalhar com Paulo é muito gratificante. Aprende-se com tranquilidade, pois ele respeita sua maneira de sentir, propicia que cada um tenha sua identidade, ao mesmo tempo em que instiga. A arte é uma forma de registrar suas emoções e sentimentos. Por isso, não é ensinada, mas, sim, as técnicas para que a pessoa busque soluções e formas de expressão para seu trabalho", diz ela sobre o companheiro, sempre no tempo presente.

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Dos mais de trinta anos em que viveram juntos, foram muitas exposições, viagens e parcerias ao longo do tempo. "Paulo era artista 24 horas por dia. Desenhava em qualquer suporte que estava ao alcance, do guardanapo ao envelope de carta. Fui muito feliz ao lado dele e aprendi muito." E quando ele deixou seu trabalho como bancário para seguir a carreira artística, na década de 60, defendia seus ideais como ideologia de vida. "Artistas são muito convictos. Paulo era desligado da questão financeira, não gostava de vender trabalhos. Numa relação, há de se fazer concessões. Tive que aceitar essa maneira dele viver a vida."

Então, ninguém melhor que Dolores - que vivenciou tudo e acompanhou o artista de perto - sabia da importância das obras e do ateliê para Paulo. E, pouco tempo antes de morrer, as condições precárias em que estava o espaço era preocupação permanente. "Cuidei da melhor forma do acervo por acreditar que era muito importante não só para ele, mas por tudo que estava ali. Ele está presente em cada fragmento daquele ateliê, suas emoções estão em cada obra. E era preciso preservar. Fiz tudo por amor, por amor ao Paulo. Os últimos anos foram muito difíceis quando tive de ficar separada dele, mas a vida nos coloca em conflitos. Agora que o neto está cuidando, meu coração está em paz", desabafa ela, que hoje vive em Santos e cuida da saúde.

Paulo Menten possui coleções permanentes em importantes locais como Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea do Paraná e Pinacoteca de São Paulo, Itamaraty, e outros países como Fairleigh Dickson University Printcoll, em Nova Iorque, e Biblioteca Lênin, em Moscou. Além disso participou de duas Exposições Bienais Internacionais de São Paulo: a IX Bienal de São Paulo em 1967 e a X Bienal de São Paulo em 1969 e recebeu diversos prêmios. (M.T.)