Nascida na Hungria, a atriz Eva Todor, que morreu no domingo (10), no Rio, aos 98 anos, devido a uma pneumonia, na verdade tinha Fodor como sobrenome. Mas, para evitar cacofonia, mudou a maneira como era chamada. Aliás, quem definiu a troca foi o escritor Paulo Magalhães, de "O Imperador Galante", como Jô Soares lembra em um trecho de "O Livro de Jô - Uma Autobiografia Desautorizada" (Companhia das Letras), lançado neste ano. "Ele era o mestre de cerimônias e iria anunciar, num espetáculo beneficente, o número de Eva como bailarina", escreve Jô no livro. "Na coxia, ela na ponta dos pés, já pronta para entrar, ele pergunta: 'Como é seu nome menina?'" "'Eva Fodor'", a artista responde. "'Fodor? Não pode, você não pode ser Fodor'. Aí ele vai para o microfone na frente do palco e anuncia: 'E, agora com vocês, esta menina que é uma grande revelação, Eva Todor.' Foi assim que nasceu o nome de uma das grandes atrizes de nossos palcos", lembra. Em outro ponto do livro, Jô se recorda de quando Eva o convidou para estrelar uma peça infantil, na qual seria Pedrinho, um menino criado pelos lobos. A parceria na peça infantil nunca aconteceu.
No começo do ano, a atriz já havia sido internada, no Rio, por pneumonia. Ela sofria de Mal de Parkinson e Alzheimer, além de problemas cardíacos, e estava afastada das televisão desde 2012. Seu último trabalho foi na novela "Salve Jorge", da Globo, mas desde 2010 vinha fazendo apenas participações especiais.
Nascida em Budapeste, em 1919, a atriz Eva Todor veio para o Brasil ainda menina, fugindo, ao lado da família, da Europa após a Primeira Guerra Mundial. No Brasil, se dedicou primeiro ao balé, dança que já praticava na Hungria, antes de atuar. Aos nove anos já havia se apresentado em espetáculos de dança no Theatro Municipal de São Paulo.
Passou primeiro pelo teatro e depois começou carreira no cinema, tendo estreado em "Os Dois Ladrões" (1960), onde atuou ao lado de Oscarito. No ano seguinte, foi contratada pela TV Tupi. Em seguida, assinou com a Globo, onde esteve em diversas novelas e minisséries.

Gênero Eva
Foi escalada para participar de "Roque Santeiro" (na versão de 1975) e esteve "Sétimo Sentido", "Partido Alto" "Hilda Furacão", Top Model", "Suave Veneno" e "O Cravo e a Rosa", entre outras obras.
Sua estreia na TV, na prática, aconteceu ao dar vida a Kiki Blanche, em "Locomotivas" (1977), primeira novela colorida da faixa das 19h. "Ela era a dona de um cabeleireiro e tinha sido vedete. Eu entrei, agradou. E nunca mais saí", disse a atriz em depoimento ao site "Memória Globo", em 2009, sobre seu início de carreira, que completou 80 anos.
Na TV, sua especialidade era o chamado "gênero Eva", um humor fino, que virou sua marca registrada. Entre suas condecorações, em 1969, conquistou o Prêmio Molière, de melhor atriz, por ter atuado na peça "De Olho na Amélia", de Georges Feydeau.
Eva teve dois casamentos. Primeiro foi com o diretor de teatro Luis Iglesias, com quem ficou durante 26 anos. Depois com o engenheiro e empresário Paulo Nolding. O casamento durou 28 anos, até a morte dele. Quando ficou viúva pela segunda vez, decidiu se dedicar apenas à TV. "Depois que meu segundo marido morreu, eu fiquei muito desorientada. E a Globo, muito atenta, me chamou para fazer 'Top Model', para eu não ficar muito aflita", lembrou ao "Memória Globo".
De acordo com o Ministério da Cultura, ela se naturalizou brasileira, a convite de Getúlio Vargas. Na década de 1940, o então presidente a assistiu em uma peça, no Rio, ficou encantado e, no camarim, perguntou à atriz se ela queria ser naturalizada, o que ocorreu logo depois.
A atriz Eva Todor era viúva e não deixa filhos. O velório ocorreu na segunda-feira (11), das 9h às 11h, no Teatro Municipal do Rio. De lá, a cerimônia continuou no Memorial do Carmo, até às 16h.