Kraw PenasCauby Peixoto: elogio ao público e velhas cançõesO QUE É BOM
NUNCA MORRE
Cantores da velha guarda
mostram que mercado
fonográfico aposta em
regravações de grandes mitos
Zeca Corrêa Leite
Curitiba
A onda de regravações dos grandes sucessos do passado está em alta entre os intérpretes. De pagodeiros a roqueiros, e até mesmo os veteranos, todos estão no mesmo barco. Elba Ramalho inspirou-se em Carmen Miranda para a música que entrou na propaganda de calçados, o Grupo Katinguelê revisitou Roberto Carlos e ainda neste semestre serão lançados CDs de Cauby Peixoto e Agnaldo Thimóteo cantando clássicos.
Cauby acredita que em setembro seu novo disco esteja nas lojas. Ele trará ‘‘canções românticas, caindo um pouco para a bossa nova’’, disse para a Folha2. ‘‘Terá a maioria dos títulos com nomes de mulheres, como ‘Luísa’, ‘Lígia’. Não vai faltar nem mesmo ‘Conceição’’’, comentou.
Kraw PenasAgnaldo Thimóteo: facilidade com números consagradosAgnaldo Thimóteo prepara-se para acrescentar à sua discografia um novo volume: ‘‘Agnaldo Canta Roberto Carlos’’. Serão 14 faixas que foram sucesso na voz de Roberto Carlos. A mesma trilha foi tomada ano passado pelo cantor que dedicou um disco inteiramente a Nelson Gonçalves.
‘‘Você tem que levar em consideração que há preferência das gravadoras nas regravações’’, argumentou Thimóteo. E emendou com exemplos: ‘‘Roberto Carlos tem um disco de regravações em espanhol, Julio Iglesias gravou músicas antigas (tangos), Luiz Miguel já está no terceiro ou quarto CD somente com músicas de ontem. E todos os artistas como Maria Bethânia, Joana, Zizi Possi, fazem a mesma coisa’’.
Para o cantor é ‘‘muito mais fácil’’ trabalhar números já consagrados. Porém, é preciso estar atento na interpretação. Jamais o cantor que se preza vai simplesmente regravar uma música à semelhança e imagem de seu criador. ‘‘Nunca se deve fazer isso. Quem realmente canta não pode regravar de maneira inferior à original.’’
Depois de experimentar a vida brasiliense na Câmara dos Deputados, Agnaldo Thimóteo pegou gosto pela política. Hoje é vereador no Rio de Janeiro. Daí, talvez, sua linguagem cheia de ‘‘considerandos’’ quando quer dizer que tudo está bem na carreira, apesar do boicote da televisão:
‘‘Considerando 33 anos de carreira de sucesso, considerando mais uns oito de luta para surgir, considerando as enormes mudanças que acontecem a cada instante no cenário da música brasileira, nos programas mais importantes da televisão, e considerando que sobrevivo com dignidade, acredito que Agnaldo Thimóteo pode se considerar muito feliz, muito bem.’’
Feliz e revoltado, apesar de minutos antes estar no palco do Ópera de Arame, em Curitiba, sendo ruidosamente aplaudido por uma platéia de duas mil pessoas, na gravação do programa ‘‘Noite de Gala’’. Thimóteo e Cauby Peixoto entraram em cena quando Agnaldo Rayol cantava ‘‘Sangrando’’, de Gonzaguinha.
Mas para Agnaldo Thimóteo o musical é um fato isolado no panorama televisivo brasileiro. ‘‘É preciso que a Rede Globo de Televisão, a exemplo da CNT, também abra espaço onde nós cantores, com 60, 70, 80 anos, ou com 50 como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Angela Maria. Onde todos nós possamos estar presentes, de quando em vez, para dizermos ao nosso público que está tudo bem.’’
O cantor afirma que a TV teria que ser mais generosa com os ídolos nacionais, abrir o leque e não se fixar apenas em meia dúzia de eleitos. Também não se mete a analisar os rumos da música brasileira, ‘‘porque quem determina o comportamento da sociedade é a televisão’’.
Por mais que se reme contra a maré, ainda assim os artistas levam suas vidas condignamente. ‘‘Continuamos fazendo nossos shows. Eu, Moacir Franco, Adilson Ramos, Nelson Ned, Angela Maria, Cauby Peixoto: todos temos nosso público, mas seria muito mais fácil se fôssemos programados para aparecer na tela com mais assiduidade e não a cada seis meses, indo uma vez na Hebe Camargo, outra vez na Ana Maria Braga’’, insiste Thimóteo.
Mais calmo, Cauby Peixoto, que bisou ‘‘New York, New York’’, aproveitou o entusiasmo do público para afirmar que no Brasil ‘‘ninguém tem ouvido enferrujado’’ e que essa história de que a juventude só curte barulho ao invés de música, é balela.
‘‘O jovem é também romântico e conhece a música brasileira. Aí está uma platéia como eu via na Rádio Nacional, recebendo o artista com o mesmo entusiasmo. Isso é quase que um milagre. Se fizéssemos mais publicidade da nossa cultura, se déssemos mais valor a nós mesmos, teríamos isto triplicado, se bem que o auditório está superabarrotado. Isso mostra que o povo brasileiro sabe quem é quem, gosta de quem gosta e isso é muito bom.’’