Sem plano. Sem ajuda. Sem saída. Servindo como uma aperitivo da ação frenética encontrada no novo ''Missão Impossível'', a primeira cena de ''Protocolo Fantasma'' já faz o público pular da cadeira. O filme começa com uma boa sequência de ação, acompanhando a fuga do agente da IMF Hanaway (Josh Holloway, excelente no pequeno papel) de agentes inimigos. Na sequência, somos levados ao plano de resgate do agente Ethan Hunt (Tom Cruise), que atualmente é prisioneiro em uma cadeia de Moscou, e agora precisa voltar à ativa para ajudar os agentes Carter (Paula Patton) e Dunn (Simon Pegg, que já aparecia no M.I. 3) a recuperarem códigos que foram roubados por um perigoso extremista, conhecido como Cobalto (Michael Nyqvist).
Os números roubados fazem parte de uma sequência que é capaz de ativar um artefato nuclear da antiga URSS, e Cobalto planeja maquiavelicamente - aparentemente, só para cumprir sua função como vilão - lançá-lo em solo americano, iniciando assim uma guerra nuclear entre a Rússia e os EUA.
Como esperado, a vida de Hunt e de sua equipe não é nada fácil. Para evitar o pior, eles precisam invadir o Kremlin, fugir de agentes russos, escalar um prédio em Dubai, lutar com assassinos de aluguel e... respire fundo, pois é nesse ritmo acelerado que pulamos de uma situação perigosa para outra. Com esse roteiro apressado, um filme de ação longo (de quase 2h20 de projeção) acaba ficando quase sem tempo para diálogos significativos, que consigam ir além de velhos clichês do gênero. Piadinhas em cenas de alta tensão e o clássico momento-chave ''Quem está comigo?'' fazem parte de uma longa lista de situações repetitivas, que vão fazer o espectador mais atento sentir nas entranhas um inevitável ''déjà vu'' cinematográfico.
Especialmente na franquia de Missão Impossível, é interessante notar que, em grande parte, o clima de cada um dos filmes da série é definido fundamentalmente pelo papel de quem está por detrás das claquetes: o clássico de Brian De Palma, o lixo de John Woo, o interessante de J.J. Abrams. ''Protocolo Fantasma'' é assinado com autoridade pelo veterano Brad Bird, que estreia na direção de um longa com atores reais (o cineasta já ganhou dois Oscar pelas animações ''Os Incríveis'' e ''Ratatouille'').
Bird deixa sua marca - demonstrando toda a habilidade em seu trabalho com efeitos especiais - particularmente em duas cenas, que são executadas com maestria: a escalada no prédio mais alto do mundo e uma perseguição de carros em meio a uma furiosa tempestade de areia. Executadas de maneira impecável, as cenas configuram os melhores momentos do novo ''Missão''.
Filmado com câmeras de tecnologia IMAX, os cenários deslumbrantes e as sequências ousadas e surreais fazem com que ''M.I.4'' seja, sem sombra de dúvida, o mais grandioso filme da franquia. Com espetáculos explosivos e atuações competentes - em especial da dupla Jeremy Renner e Simon Pegg - o filme ainda é repleto de referências à série de TV original dos anos 70: repare, por exemplo, no velho orelhão-missão ou nas lentes de contato high-tech, que substituíram os antigos óculos com câmeras embutidas.
Infelizmente, o calcanhar de Aquiles do longa reside nas linhas de seu roteiro, e não nas imagens de sua película. A trama é fraca, cheia de furos e nunca tenta aprofundar seus personagens: nunca sabemos, por exemplo, o verdadeiro leitmoviv por detrás das ações de Hunt ou do malvado Cobalto, e esse maniqueísmo ultrapassado enfraquece a história como um todo.
Se não fosse por esse esforço em manter tudo na superfície, Ethan Hunt, herói de ''Protocolo Fantasma'', poderia até ser um substituto moderno de James Bond ou de Jason Bourne, mas, ao invés disso, acaba sendo apenas um personagem divertido e óbvio, que será esquecido pelo público assim que os créditos finais surgirem na tela. Depois de quatro filmes, o caráter de Hunt ainda é um rascunho inacabado, e a missão dramática do personagem está longe de ser um sucesso.

(O repórter assistiu à première de ''Missão Impossível 4'', no Rio de Janeiro, a convite da Paramount)

Imagem ilustrativa da imagem Missão previsível