Não me lembro o ano exato, foram tantas as vezes em que o Ouro Verde foi palco de histórias que se cruzaram com as minhas... mas esta envolve duas pessoas maravilhosas: o velho e bom Ceci, figura política do antigo MDB de Londrina, e Arthur Moreira Lima, para mim o Magnífico.
Acabada a reunião no na sede do MDB, ali pertinho do Colégio Hugo Simas, Ceci se levantou depois de falar muito com Tavares e Helio Duque... se apoiou em meu ombro e disse: ''Vamos?'' Eu perguntei ''onde? Quer que te leve para casa?''
''Nada disso'', disse Ceci, ''a noite é uma criança...'' Riu e seguindo ora se apoiando em sua bengala, ora em meu ombro, fomos andando pelo Calçadão de Londrina rumo ao Teatro Ouro Verde.
''Ceci? Você tá louco? Só tem gente chique aí... olha pro povo, só terno e gravata, cara! Olha pra mim, tô de chinelo, meu! (Aqueles de couro que tinham um cheirinho bem desagradável, mas que a turma da UEL que fazia Projeto Rondon trazia do Ceará e não tirava do pé até acabar.) E ainda estou com a camiseta da Viração, sem falar desta bolsa verde do Serviço Social cheia de planfletos! Não entro aí não. Você entra e encontra alguém das altas que depois te ajuda a ir para casa.''
Ceci disse rindo: ''O que é isso, camarada? O teatro é do povo! É da classe operária também. Você não quer fazer a revolução? Então entra que o Teatro é do Povo e para o Povo, minha pequena burguesa intelectualizada''.
Bem, com o Ceci não dava para discutir. Entrei de soslaio, já estava para começar. Burburinhos... Ceci falava meio alto, o Arthur no palco, olhou para nossa direção. Abaixei a cabeça, tentei cruzar os braços para ninguém ler as frases da camiseta. Ceci seguia andando, o Arthur falou ''Boa noite''... Aplausos... Todos sentaram e o Ceci procurando o nosso lugar. Era bem na frente do palco, segunda fila.
Embriaguei-me de tamanha emoção. Nunca mais esqueci. Nem do Arthur, nem do meu amigo Ceci, muito menos do glamour daquele imenso teatro. Só me lembro de ficar estonteantemente aplaudindo e chorando de tanta emoção e alegria. Esqueci a camiseta, esqueci o chinelo e ainda na saída distribuí uns exemplares do Jornal Tribuna Operária, retirados de dentro da bolsa verde do curso de Serviço Social!

Marlene Favaro, assistente social (Astorga/PR)

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