Imagem ilustrativa da imagem Mecenato na era do jazz
| Foto: Marcos Harrison/ Reprodução
A Baronesa do Jazz com o pianista Teddy Wilson, em 1955: ela também era amiga de Thelonius Monk e Charles Mingus, entre outros



Protetor dos poetas Virgílio (70 a.C. - 19 a.C) e Horácio (65 a.C. - 8 a.C.), o romano Caio Cílnio Mecenas (60 a.C - 8 d.C.) bancou a vida de escritores e artistas. Com o passar dos milênios, seu último nome virou sinônimo para quem patrocina e investe em arte e cultura. E a prática desse ato passou a ser conhecida como mecenato pelo menos desde meados do século 19.
No universo feminino do século 20, ocupou o lugar de Mecenas a rebelde baronesa Kathleen Annie Pannonica de Koenigswarter (1913-1988), conhecida como A Baronesa do Jazz, ou simplesmente Nica.
A mulher ficou famosa por ser provedora de músicos da arte do improviso. Sua vida está descrita no livro "A Baronesa do Jazz", que tem como autora sua sobrinha Hannah Rothschild e acaba de ser lançado, no Brasil.
Nica nasceu em Londres, em uma família de banqueiros internacionais, os Rothschild. Levou vida confortável e milionária. Segundo o livro, "teve uma infância privilegiada cheia de regalias, e morava em mansões repletas de obras de arte".
A baronesa dispunha de um séquito de mordomos, governantas, chefs, lacaios, criadas da área de serviço, babás, cavalariços, jardineiros, e choferes. Havia ainda uma pessoa para passar cartolas, uma para cuidar das obras de arte, além de funcionários que apenas davam corda em relógios e despertadores e outros que só poliam as grelhas das lareiras.
Nica casou com um barão, teve cinco filhos e um castelo na França. Entre as várias façanhas de sua vida de jet-setter, pilotou o bombardeiro Lancaster na guerra, além de ter vivido em meio a verdadeiras "bombas humanas", instáveis e voláteis, como o pianista Thelonious Monk (1917-1982), o trompetista Miles Davis (1926-1991) e o saxofonista Charlie Parker (1920-1955), entre outros músicos de jazz.
Parker morreu em uma suíte do hotel Stanhope, ocupada por Nica, em Nova Iorque. A mesma cidade onde a baronesa morreu, em 1988, morando com 306 gatos, além dos "cats" (gíria para músicos de jazz) que faziam parte da população flutuante, que eventualmente a mecenas inglesa abrigava.
Nos anos 1950, cansada de viver no luxo que lhe tirava a liberdade, após ouvir a música "Round Midnight", Nica abandonou a família, saiu da Inglaterra e foi para Nova York conhecer seu autor.
Ficou amiga, não só de Monk, como também do baterista Art Blakey (1919-1990), do saxofonista Sonny Rollins e do contrabaixista Charles Mingus (1922-1979), entre vários músicos a quem deu suporte para que concretizassem shows, discos, pagassem seus aluguéis, além de presenteá-los com lembranças caras. Blakey, por exemplo, ganhou dela um Cadillac.
Mais de 20 músicas foram compostas em sua homenagem. Entre as feitas por pianistas, "Nica's Dream", de Horace Silver (1928-1914); "Thelonica", de Tommy Flanagan (1930-2001); "Blues for Nica", de Kenny Drew (1928-1993); e "Pannonica", de Monk.

VIDA ÚNICA
De acordo com sua sobrinha e biógrafa, "Nica vivia para o momento. Não era introspectiva ou didática, e não tentava soterrar as pessoas com seu conhecimento ou experiência".
Mas ela tinha uma enfadonha rotina pouco antes de morrer, que incluía passar a maior parte do dia na cama, rodeada de papéis, livros, revistas e gatos tendo como única missão completar as palavras cruzadas do jornal "The New York Times".
No mínimo curioso para quem deu um único conselho à autora do livro: "Lembre-se, só se vive uma vez".
Seu último pedido foi que cremassem seu corpo e espalhassem suas cinzas no rio Hudson, com a ressalva de que o horário teria que ser respeitado: "Round Midnight" (por volta da meia noite).

Serviço
A Baronesa do Jazz
Autora: Hannah Rothschild
Tradução: Juliana Lemos
Editora Objetiva
Quanto: R$ 49,90 (264 págs.)