Do tom irônico à força imagética
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sábado, 18 de novembro de 2017
Marian Trigueiros<br>Reportagem Local
"Estou admirado com o nível técnico desta jovem poeta, nesta geração que pensa que qualquer coisa é poesia", elogiou, nada menos que Paulo Leminski no início da década de 80, quando a escritora curitibana Luci Collin lançou seu primeiro trabalho de poesias, "Estarrecer", em 1984. Desde então, ela tornou-se um dos nomes mais respeitados da literatura contemporânea do Paraná. "A Palavra Algo", de sua autoria, acaba de ser premiado em segundo lugar na categoria Poesia na 59ª edição do Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira. A festa ocorre no próximo dia 30 de novembro, em São Paulo, quando outros paranaenses também serão premiados.
No livro em questão na qual a crítica destacou seu tom irônico, a coloquialidade de alguns poemas e a imagética que reforça a intenção reflexiva dos textos - se mantém fiel às técnicas ao longo de 122 páginas. Luci Collin é formada em Letras Português/Inglês pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), doutora em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês e pós-doutora em Literatura Irlandesa pela USP (Universidade de São Paulo). Também graduou-se no Curso Superior de Piano/Performance e Percussão Clássica pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
"A Palavra Algo' é um livro menos experimental, em termos de forma, do que os meus primeiros livros, mas se aproxima bastante, em estilo, das minhas publicações em poesia mais recentes, como o 'Trato de Silêncios' (2012) e o 'Querer Falar' (2014 Finalista do Prêmio Oceanos)", comenta a escritora, ressaltando que a obra não explora ou tem a prevalência de um tema mais marcante. "Contudo, em relação aos anteriores, possui poemas que apresentam uma tendência mais política e um olhar mais crítico sobre determinados assuntos", diz ela, que acaba de lançar o livro de contos "A Peça Intocada" (2017), pela editora Arte & Letra.
Embora suas obras de destaque sejam referências em poesia, Collin possui uma grande produção de contos e romances, além de ter escrito artigos e ensaios para jornais e revistas literárias. "Não tenho, na minha produção literária, nenhuma restrição quanto a gênero. Venho publicando, desde o início da minha carreira, poesia e prosa. Também já me aventurei pelo drama e tive algumas peças encenadas. Escrevi uns (poucos) roteiros para TV e ano passado concluí, em parceria com o compositor paulista Rodolfo Coelho de Souza, o libreto de uma ópera. Então, gosto do desafio da nova forma, sim, mas o desafio e o estímulo maiores serão sempre o estar com o outro por meio do texto literário", sintetiza.
PARANÁ EM EVIDÊNCIA
O prêmio Jabuti, sem dúvidas, volta os olhares à produção do Estado o que, segundo a escritora, ajuda a romper cada vez mais a invisibilidade que sempre marcou a produção fora do eixo Rio-São Paulo. "Temos grandes nomes de expressão nacional há muito já sedimentados, como Dalton Trevisan, Domingos Pellegrini, Alice Ruiz, Cristóvão Tezza, Laurentino Gomes e Paulo Leminski, que lograram vencer essas barreiras culturais, mas alguns outros valores como Helena Kolody, Valêncio Xavier, Wilson Bueno, Jamil Snege e Manoel Carlos Karam - permaneceram mais restritos ao público e à cena paranaense", comenta, acrescentando seu otimismo na produção literária com as próximas gerações.
Apesar de nomes consagrados, ela considera que a poesia seja pouco lida e recebe pouca atenção da crítica no Brasil, ainda que dimensionar com propriedade a questão da proximidade entre público leitor e a poesia seja bastante difícil. "Nesse sentido, as publicações em mídia virtual correspondem a uma alternativa de publicação impactante e que tem ajudado em muito na divulgação da literatura são jornais literários, revistas, sites especializados em literatura, cursos online que representam hoje o acesso a um público mais amplo e mais diversificado. Quanto às publicações em papel, vão gradualmente se tornando uma das possibilidades em meio a outras isso, ao meu ver, é muito positivo".
MULHER NA LITERATURA
A ascensão da participação feminina no mundo se deu e se dá em vários setores e, na literatura, não tem sido diferente, apesar do espaço ainda não ser compatível com a produção. "Nós mulheres, em praticamente todas as estruturas culturais das sociedades humanas, passamos por séculos de submissão ao homem e na literatura isso sempre incidiu de modo evidente". Mas para ela, aos poucos, as mulheres estão conseguindo mostrar sua produção e conquistar seu espaço. "Muitas como as surpreendentes Elvira Vigna e Maria Valéria Rezende são representantes contemporâneas de tantas outras vozes femininas que as sucederam, abalaram a hegemonia dos nomes masculinos no mercado editorial, conquistando leitores, prêmios importantes e projeção".
PRÊMIO JABUTI
Divulgado há pouco mais de duas semanas, os vencedores de outras 28 categorias no Prêmio Jabuti foram anunciados e o Estado também foi destaque com os prêmios de Cristovão Tezza, segundo lugar na categoria Romance com o livro "A Tradutora"; e Renato Forin, terceiro lugar na categoria Adaptação com o livro "Samba de Uma Noite de Verão". O designer gráfico londrinense Willian Santiago foi responsável pela ilustração de "O Sétimo Gato", de Luis Fernando Veríssimo, segundo lugar na categoria livro digital, e o livro "Ana amopö Cogumelos Yanomami", que venceu na categoria Gastronomia, foi comandado pela pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Inpa), a doutora Noemia Kazue Ishikawa, de Londrina.
Serviço:
A Palavra Algo (2016)
Autora: Luci Collin
Editora: Iluminuras (112 págs.)
Preço: R$ 35,00