Oigres Macedo:"O exemplo de Artigas foi muito educativo, podemos dizer que seguimos essa tradição"
Oigres Macedo:"O exemplo de Artigas foi muito educativo, podemos dizer que seguimos essa tradição" | Foto: Anderson Coelho



Das grandes construções do período colonial até atingir o posto de 12ª cidade mais verticalizada do mundo para posteriormente viver um boom de condomínios horizontais, Londrina tem passado por muitas transformações. A diversidade de estilos arquitetônicos presentes na cidade é representada por obras assinadas por mestres como o alemão Philip Lohbauer e os brasileiros Vilanova Artigas e Oscar Niemeyer, entre vários outros grandes arquitetos que transformaram seus trabalhos em verdadeiras expressões artísticas. Entretanto, os projetos que privilegiavam a beleza e a inovação cederam espaço para a funcionalidade e a padronização estética impostas pelo mercado imobiliário contemporâneo, fato que não se identifica apenas em nível local, mas nacional (leia artigo na página 2).

Segundo Oigres Macedo, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela USP e docente da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a arquitetura londrinense sofreu grande influência de arquitetos paulistanos que desenvolveram projetos na cidade atendendo a solicitação dos colonizadores. Um dos maiores representantes daquela época apontado por ele é Vilanova Artigas, curitibano radicado em São Paulo e um dos nomes do movimento conhecido como Escola Paulista de Arquitetura. "Seu exemplo foi muito educativo, não só pelas obras que realizou mas pela atuação como professor de arquitetura na Universidade de São Paulo. Quando o ensino de arquitetura começou em Londrina, a maioria dos professores arquitetos que chegaram à cidade tinham sido alunos de Artigas e da USP. Podemos dizer que seguimos essa tradição", argumenta Macedo.

Edifício Julio Fuganti (1959): um dos símbolos da verticalização de Londrina
Edifício Julio Fuganti (1959): um dos símbolos da verticalização de Londrina | Foto: Fotos: Ricardo Chicarelli



Arquiteto modernista Vilanova Artigas assinou algumas das mais importantes construções de Londrina, como o Cine Teatro Ouro Verde (1948), a antiga estação rodoviária (1950), que atualmente abriga o Museu de Arte de Londrina, a Casa da Criança (1950) e o Edifício Autolon (1953). Além de prédios públicos, Artigas construiu residências na cidade. "Um importante projeto residencial de Artigas e Cascaldi, seu sócio, se encontra na Rua Hugo Cabral, foi a casa do prefeito Milton Menezes. A cobertura da casa possui telhado invertido (ou, como dizemos, telhado borboleta), as águas correm para o centro do telhado. Essa casa de 1952 inaugurou esse conceito na cidade, e foi muito reproduzida no bairro Shangri-lá. O legado de Artigas na cidade é imenso, a antiga rodoviária é a obra mais importante e inovadora do ponto de vista estrutural e espacial, não somente para a cidade. O terminal rodoviário era um tema novo no país, e nossa rodoviária foi vanguarda no desenvolvimento desse tema", contextualiza.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina através da arquitetura



Projetados pelo engenheiro-arquiteto Américo Sato ainda sob forte influência de Artigas, o Edifício Júlio Fuganti e o Centro Comercial, ambos de 1959, tornaram-se símbolos da verticalização que a cidade atravessaria nas décadas seguintes. "Os grandes edifícios do centro da cidade nesse período mostram como o café movimentava a economia. A verticalização desse período é surpreendente, a cidade era ainda muito rural, com grandes áreas para expansão, mas Londrina escolheu a verticalização – foi um fenômeno. O Centro Comercial representava o conceito de um edifício que suprisse todas as necessidade dos moradores, uma mini cidade, assim como o edifício Copan, de Oscar Niemeyer, em São Paulo", avalia Macedo.

O docente explica que nas décadas de 1960 e 1970 outros profissionais chegaram à cidade com formações distintas da Escola Paulista. "Arquitetos de Curitiba e do Rio Grande do Sul, a exemplo de Sergio Bopp com o projeto para o Centro Cívico. Os cursos de arquitetura da UEL e Cesulon (Unifil) também produziram os arquitetos que a cidade precisava", destaca.

Após ganhar duas importantes obras nas décadas de 1980 e 1990 - a nova rodoviária, com projeto de Oscar Niemeyer, e o Shopping Catuaí, símbolo do estilo pós-moderno, de acordo com Macedo – a cidade passou atualmente a uma padronização estética e funcional que o arquiteto critica: "Os empreendimentos não trazem nada de novo, o mercado de Londrina é muito restritivo à inovação, os valores empregados são enormes, não há espaço para o risco. A aposta em um novo conceito poderia trazer um grande ganho, mas preferiram apostar no que está dando certo, mais do mesmo. O problema é que em breve estaremos saturados do mesmo. Em pouco tempo essa aposta se mostrará equivocada. Veja o caso do pé direito dos apartamentos, são todos iguais, de uma quitinete a um apartamento de milhões de reais. Se o cliente procurar um apartamento com uma espacialidade diferente, um pé direito duplo, simplesmente não vai encontrar. Um conceito mais contemporâneo como o de um loft com espaços amplos em altura, ambientes flexíveis, não existe no mercado da cidade", afirma.

Centro Comercial: edifício construído para funcionar como uma mini cidade
Centro Comercial: edifício construído para funcionar como uma mini cidade



Mistura de estilos
Diversos estilos arquitetônicos podem ser encontrados em Londrina, conforme aponta Oigres Macedo, doutor em Arquitetura e Urbanismo e docente da UEL. "O antigo fórum de Londrina, hoje Biblioteca Pública, do arquiteto alemão Philip Lohbauer foi construído no Estilo Missões, que fez muito sucesso na década de 1940 e inspirou diversas casas na cidade, principalmente na Rua Souza Naves. Era inspirado nas casas das estrelas de cinema de Hollywood, que por sua vez copiavam a arquitetura colonial espanhola da costa oeste americana", comenta.

"Existe também um único edifício de Estilo Eclético, na esquina da Rua Sergipe com Rua Mato Grosso. É bom lembrar que esse estilo remonta ao século 19, anterior à ocupação de Londrina. Depois, temos muitos exemplares de arquitetura Art Déco, principalmente nas rua Duque de Caxias ou na Vila Casoni, são pequenos armazéns comerciais com fachada de tijolos. Por incrível que pareça essas fachadas foram inspiradas nos arranha-céus de Manhattan",

Artigas projetou a casa do ex-prefeito Milton Menezes, hoje uma construção pichada no centro da cidade
Artigas projetou a casa do ex-prefeito Milton Menezes, hoje uma construção pichada no centro da cidade



O docente pontua que o modernismo apareceu na sequência, inspirado por Artigas ou pelas revistas de arquitetura da época. "O edifício da Folha de Londrina (1962) é inspirado nos palácios de Brasília. Já o edifício Julio Fuganti, por sua vez, faz referência ao edifício Banco da Lavoura, de Belo Horizonte", conclui. (M.R.)