José Antonio Pedriali: "Este é o meu oitavo livro e demandou um quarto de século em pesquisa e quase uma década para escrevê-lo"
José Antonio Pedriali: "Este é o meu oitavo livro e demandou um quarto de século em pesquisa e quase uma década para escrevê-lo" | Foto: Fotos: Reprodução



Amurada, bombordo, barlavento, convés, costado, escotilha, estiva, fundear, garupés, joanete, mostaréu, pavilhão, quilha, popa, proa, sotavento e tombadilho. Tudo isso recheia o novo romance do jornalista e escritor londrinense José Antonio Pedriali que será lançado nesta quarta (29), a partir das 19h30, na Central de Decorados Plaenge (Avenida Madre Leônia Milito, 1700).
"O Anel do Capitão Shepherd" é um romance histórico ambientado na primeira metade do século 19, fruto de uma extensa pesquisa. Traz a história de amor entre o capitão escocês James Shepherd e jovem peruana Rosa de Martinez.

Os dois se conhecem quando Shepherd luta como tenente nas batalhas navais da independência do Peru contra império espanhol. Apesar de uma paixão avassaladora, o casal acaba se distanciando devido à profissão do James, um homem do mar, e ao estado civil de Rosa, casada com um poderoso e irascível comerciante.

Com a esperança de se encontrarem no futuro, Rosa e James realizam um pacto de amor eterno. Para ritualizar o pacto, adotam dois anéis que pertenceram a Atahualapa, o último rei inca.

Quando finalmente se reencontram, estão no meio de uma batalha dramática na foz do Rio Negro da Patagônia. Shepherd, a serviço de Dom Pedro I, luta em nome do Império do Brasil que procura manter seu território através de batalhas pela costa da América do Sul. "O Anel do Capitão Shepherd" resgata um episódio praticamente esquecido da história do Brasil: a derrota na batalha de Patagones. A seguir José Antônio Pedriali fala sobre a jornada de escrever um romance histórico repleto de aventuras marítimas.

Como londrinense vivendo longe do mar, de onde nasceu seu interesse por antigas batalhas navais?
Qual criança não sonha ser marinheiro. De preferência voltando à época dos grandes descobrimentos e, acima de tudo, ao século 19, marcado pelo avanço da engenharia náutica, grandes batalhas que mudaram o rumo da história, piratas, corsários, ilhas misteriosas com tesouros, etc. Li muito sobre o tema, mas nunca imaginei que escreveria um livro tendo como cenário o mar e navios. E como protagonistas homens que fazem do mar o seu lar e da terra o exílio a que são relegados quando não estão navegando.

"O Anel do Capitão Shepherd" resgata um episódio da história do Brasil pouco conhecido. O que impulsionou você transformar esse episódio num romance?
Deparei-me, em 1989, com duas bandeiras do Império do Brasil expostas na catedral de Carmen de Patagones, mil quilômetros ao sul de Buenos Aires e às margens do Rio Negro – que nasce nos Andes e deságua no Atlântico. A curiosidade levou-me a pesquisar sobre o motivo da presença das bandeiras naquele fim de mundo, e deu no que deu.

A narrativa de "O Anel do Capitão Shepherd"está toda fundamentada numa detalhada pesquisa histórica. Como foi realizar essa pesquisa?
Foi meu maior desafio literário. Este é o meu oitavo livro e demandou um quarto de século em pesquisa e quase uma década para escrevê-lo. Ou melhor, para reescrevê-lo inúmeras vezes. Comecei a pesquisa no Museu Histórico de Patagones, fui coletando material ao longo do tempo e, por fim, cai de cabeça. Viajei ao Chile, Peru e Argentina em busca de informações. Escarafunchei os arquivos da Marinha do Brasil na Ilha das Cobras, Rio de Janeiro, espirrei muito ao manusear as raridades da Biblioteca Nacional e Arquivo Nacional, também no Rio. Aventurei-me pelos arquivos da Royal Navy, que estão digitalizados, resgatei livros históricos e naveguei longamente pela internet, onde encontrei informações valiosas. A pesquisa histórica não foi o único desafio: estudei o ambiente naval, da estrutura e manobras de um navio de guerra aos hábitos a bordo.

Imagem ilustrativa da imagem LEITURA - Guerra e amor em alto mar



Você considera que, pelo fato da batalha de Patagones representar uma grande derrota para o Império do Brasil, o episódio foi menosprezado pela história oficial do país?
Não há dúvida quanto a isso. Não só essa, mas tantas outras derrotas na Guerra da Cisplatina, no Estuário do Prata. A guerra, ocorrida de 1825 a 1828, foi motivada pela anexação da Província Cisplatina, então pertencente ao Brasil, pelas Províncias Unidas do Rio da Prata, a Argentina de hoje. O confronto acabou empatado e dele surgiu o Uruguai. A batalha de Patagones foi uma das mais dramáticas e, seguramente, a mais humilhante delas, éramos a maior potência naval das Américas e perdemos para corsários, um destacamento de cavaleiros e negros que os corsários haviam confiscado do Brasil. E também devido à natureza, que fez o que pôde para impedir que nossa força-tarefa alcançasse o povoado.

Além de um romance histórico, "O Anel do Capitão Shepherd" é uma grande história de amor. Um amor aparentemente impossível entre um homem e uma mulher que vivem em mundos diferentes. Como foi construir essa relação amorosa dentro de fatos históricos?
Foi um problema, tenho que admitir. Pois a história de amor, intensa do início ao fim, é o fio condutor do livro. E foi ao descobri-la que decidi mergulhar nessa aventura. Rosa de Martinez é uma nativa dos Andes peruanos levada para o porto de Callao pelo marido, um homem que não estava em seus planos. Ela tem uma visão idílica do mar, enquanto Shepherd vive do lar e para o mar. Isso é a única coisa que os une, além do amor. O mar os aproxima, mas também vai separá-los e depois reaproximá-los. Ambos vivem momentos épicos e dramáticos.

A história de amor entre Rosa e James seria possível nos dias de hoje?
Dificilmente. O romantismo em voga no século 19 cedeu lugar à relação carnal e pragmática. Qual mulher e qual homem manteriam hoje a fidelidade durante cinco anos e, acima de tudo, a firme determinação de reencontrarem-se, tão distantes geograficamente um do outro?

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Serviço:
"O Anel do Capitão Shepherd"
Autor – José Antonio Pedriali
Editora – Unifil
Páginas – 324
Quanto – R$ 40