Com um olhar infantil da guerra de desintegração da Iugoslávia nos anos 90, a companhia carioca Amok Teatro apresenta a peça "Histórias de Família", montagem que estreou ontem e tem nova sessão hoje, às 20 horas, no Cine Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã. O espetáculo encerra a trilogia sobre a guerra que inclui a abordagem do conflito no Oriente Médio, com o espetáculo "O Dragão" (2008), e realizar um mergulho no Afeganistão, com "Kabul" ( 2010), ambas já apresentadas em edições anteriores do Filo.
"Histórias de Família" estreou em junho de 2012 no Festival Cena Brasil Internacional e foi selecionado para participar da Mostra do Teatro Brasileiro nos Festivais de Avignon (França) e Edimburgo (Escócia). O grupo realiza uma montagem do texto da dramaturga sérvia Biljana Srbljanovic, que pela primeira vez tem uma produção encenada no Brasil. No texto, que foi censurado na Sérvia, a autora descreve a confusão na qual seu país mergulhou, sob a liderança de dirigentes cuja ideologia levou toda a região dos Bálcãs à barbárie e à destruição.
Nas ruínas da Iugoslávia destruída pela guerra, quatro personagens brincam de família, reproduzindo o comportamento delirante de adultos desorientados. Pouco a pouco revela-se a lógica da guerra, criada e mantida pelo poder político, que se manifesta em todos os níveis da sociedade. Por meio das brincadeiras, são percebidas fraquezas e medos. O jogo termina e logo tudo recomeça. A violência da brincadeira substitui a violência dos combates e nesse ritual, à imagem do clima político, a tensão entre todos é extrema.
Nesta "negra paródia familiar", a autora nos convida a enxergar a guerra por meio do lúdico e do derrisório e a ver o teatro como o lugar onde os adultos continuam a fazer aquilo que fazem as crianças: produzir jogo. "Histórias de família" ultrapassa as circunstâncias históricas e geográficas para apresentar um jogo repleto de humor e crueldade, que nos fala com grande atualidade. Essas histórias são, ao mesmo tempo, a imagem da situação da ex-Iugoslávia e a de qualquer sociedade.
Desde sua fundação, em 1998, a Cia Amok tem recebido os mais importantes prêmios de teatro brasileiro. Com "Cartas de rodez" (1998) recebeu o Prêmio Shell de direção, de melhor ator e o prêmio Mambembe de melhor espetáculo, além da indicação de direção. Pelo espetáculo "O carrasco" (2001) o grupo recebeu o prêmio Governo do Estado de espetáculo e foi indicado para direção e categoria especial para maquiagem e figurino, além da indicação para o prêmio Shell de melhor atriz e categoria especial para maquiagem. "Macbeth" (2004) foi indicado para o prêmio Shell de figurino e para o prêmio BR de Qualidade de espetáculo e de melhor ator. "Savina" (2006) foi indicado ao prêmio Shell de figurino. "O dragão" (2008) foi indicado para prêmio Quem de melhor ator e atriz. E "Kabul" (2010) ganhou o prêmio especial APTR.