Vivemos um momento histórico de que a Princesa Maria Leopoldina pode ser o símbolo: o hominicídio, ou a morte do machismo. É o que dizem os números decrescentes de agressões a mulheres, inclusive os feminicídios, palavra tão recente o computador corrige como não existente.

SAMSUNG CSC
SAMSUNG CSC | Foto: Reprodução

Foram 399 inquéritos sobre violência contra mulheres em Londrina em 2018 (807 em 2017!). Mas uma em quatro mulheres sofreu algum tipo de violência nos últimos doze meses no país, ou 500 violências contra mulheres a cada hora! E os assassinatos já não são apenas por revólver, faca ou espancamento, mas até por atropelamentos!

Mais espantoso é pensar que esses números só se revelaram a partir da primeira delegacia da mulher em 1985, em São Paulo, pioneira da hoje rede de proteção às mulheres. A menos que tantas agressões sejam uma epidemia recente, o silêncio de antes era trançado por temor à “autoridade masculina”, indiferença de famílias e autoridades, temor e omissão de denúncia das mulheres, defendendo sozinhas seus filhos e a própria vida.

Mas o Estado se tocou, a polícia se preparou, a imprensa despertou, as famílias se encorajaram e hoje vemos a agonia do machismo em cada noticiário.

Por trás da maioria dos feminicídios, é o ciúme – ou sentimento de posse – que puxa o gatilho, enfia a faca, dá as pancadas. Mas o machismo morre em cada homem companheiro da mulher, parceiro na criação dos filhos e na cuidação da casa, trocando posse servil por convívio gentil.

Esperemos viver para lembrar de tantas denúncias como coisa do passado, num tempo em que mulher apanhar do marido seja raridade.

A Princesa Maria Leopoldina também apanhou do marido, o príncipe Dom Pedro I. Austríaca, aqui passou a amar o Brasil e a articular a Independência em parceria política com o conselheiro José Bonifácio – que é chamado de Patriarca da Independência. Então passemos a chamar Leopoldina de Matriarca da Independência!

Pois quando Dom Pedro, príncipe regente do Brasil Colônia, teve de viajar para apaziguar a rebelde província de São Paulo, ela, diante de crescente pressão portuguesa, reuniu o Conselho Regente e assinou o decreto da Independência, no dia 02 de setembro. Enviou mensageiro a Dom Pedro, informando do decreto e aconselhando: “O fruto está maduro. Colhe-o antes que apodreça!”

Ao ler a carta, no dia 07 no Riacho do Ipiranga, Dom Pedro brandiu a espada gritando “Independência ou Morte” – o que não se sabe se foi fato ou é lenda; certo é que cinco dias antes Leopoldina com sua caneta já tinha corajosamente decretado a Independência. E, aguardando a volta do marido para liderar a luta contra Portugal, criou a Bandeira Nacional, unindo o verde da família Bragança dele com o amarelo da família Habsburgo dela.

Depois de dar à luz Dom Pedro II, Leopoldina sofreu a humilhação diária de ver Domitila, a amante do marido nomeada Marquesa de Santos, viver na corte diante dela. Então escreveu para irmã austríaca: “Reduzida ao mais deplorável estado de saúde e tendo chegado ao último ponto de minha vida em meio dos maiores sofrimentos, terei também a desgraça de não poder eu mesma explicar-te todos aqueles sentimentos que há tanto tempo existem impressos na minha alma.”

Assim Domitila sofreu o silêncio forçado de tantas mulheres agredidas, morrendo grávida e vítima dos sofrimentos que lhe agravaram as doenças. Não merece ser a matriarca também de um novo tempo para homens e mulheres?

O patrono dessa luta é aquele sujeito que, ainda no tempo de um mundo totalmente masculino, tratou as mulheres como irmãs e defendeu a prostituta. Leopoldina e Jesus nos guiem neste momento em que, matando o machismo, vamos parindo um novo mundo.