Imagem ilustrativa da imagem Facebook pretende relaxar com o nu



Finalmente parece que Mark Zuckerberg compreendeu que a censura no Facebook não convence enquanto política de moralidade e vai liberar a nudez para quem quiser fazer ou ver postagens deste tipo na rede social criando um filtro que dará ao usuário a possibilidade de escolha. O site Olhar Digital, do UOL, divulgou que na última quinta-feira (16) Zuckerberg publicou um texto indicando que mudou de ideia quanto ao funcionamento da rede sob este aspecto.
A censura ao nu que já motivou intimidações, bloqueios e ações judiciais no Brasil e no exterior, movidas por pessoas que se sentiram tolhidas em sua liberdade de expressão, pode cair pela insistência de usuários que nunca se conformaram em fingir que não existe nu na rede, apesar de toda proibição. O fato é que enquanto a plataforma censura até mesmo nus artísticos – tenho em minha lista uma censura à Vênus de Botticelli – nos espaços privados circulam nus bem menos comportados do que os ícones da arte clássica ou contemporânea.
Segundo as informações, Zuckerberg tem sentido que controvérsias como essa em relação ao nu têm crescido na rede e existe uma alta incidência de fatos correlacionados à censura que transformam o problema num fator de insatisfação que atinge milhões de usuários em todo mundo. "Avaliamos mais de 100 milhões de tipos de conteúdo por mês e, mesmo que nossas avaliações estejam certas em 99% dos casos, ainda há milhões de erros por vez", escreveu.
O que está em curso é uma nova política de uso da plataforma e a noção de maior liberalidade está implícito em seu texto: "A ideia é dar a todos na comunidade opções sobre como eles gostariam de configurar a política de conteúdo para si próprios", explicou. "Qual é a sua linha para nudez? Violência? Conteúdo explícito? Profanidade? O que você decidir será sua configuração pessoal. Vamos te fazer essas perguntas periodicamente para aumentar a participação e assim você não precisa ficar fuçando por aí (dentro do Facebook) para encontrá-las."

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O usuário que não responder aos questionários periódicos terá seus padrões ajustados de acordo com a maioria, já quem responder poderá delinear por conta própria o que deseja da rede. O fato é que a censura ao nu abrange diversas categorias que nem sempre têm a ver com o nu erótico – motivo principal de uma espécie de cruzada virtual. Na plataforma de Zuckerberg houve casos de censura que atingiram tanto tribos indígenas, postadas até mesmo por pesquisadores, passando pela censura ao nu de protesto – como nas marchas feministas – e chegando à arte, onde repercutiu o absurdo de tentar proibir na Idade Mídia uma forma de expressão que é mais antiga que a Idade Média.

ARTE
Desde a Antiguidade o nu é objeto de representação na arte e qualquer pessoa com um nível mediano de cultura – incluindo as que frequentam museus e galerias pelo mundo afora – não pode se sentir constrangida ou querer constranger quem posta nus clássicos como as majas de Goya ou a Vênus pintada por Ticiano. Da mesma forma, o nu está presente na arte moderna e contemporânea. E vergonha mesmo é negar a beleza das odaliscas de Matisse ou as mulheres nuas fotografadas pela mexicana Flor Gardunõ. Nas artes visuais o nu sempre foi tema recorrente
Tendo isso em vista, parece que Zuckerberg deixou, ainda que tardiamente, cair a ficha da percepção de que numa comunidade de quase 2 bilhões de pessoas em todo mundo, é inviável ter um único conjunto de padrões para diferentes culturas. O homem que manteve com punho de ferro a política dos bons costumes como manda a tradição conservadora norte-americana, hoje reconhece que os padrões morais em relação à nudez são muito mais liberais na Europa ou mesmo em países tropicais onde as pessoas são pouco afeitas à roupa. O fato é que no Brasil, por exemplo, o Facebook infringe a própria Constituição – que prevê a liberdade de expressão inclusive para estes casos - mantendo um código rígido e constantemente desobedecido pelas pessoas por diferentes razões, incluindo-se aí desde a liberalidade de nosso carnaval até o nu tribal dos índios. Trata-se do tipo de regra que não se adapta à cultura local e só serve mesmo para ser contrariada.
Tudo indica que os usuários do Facebook serão livres para postar o que quiserem dentro de seu universo de contatos que aceitem as mesmas regras. Na verdade, cada um deverá usar seu próprio discernimento. Trata-se, enfim, do exercício da liberdade de forma madura evitando restrições, dissabores e ações na justiça. Muitas mudanças estão previstas para acontecer ainda em 2017, mas o pacote ainda deverá incluir mudanças a serem implementadas nos próximos anos. De qualquer forma, deixaremos de ser tratados como pessoas que precisam da tutela de uma rede estrangeira para decidir o que fazer com suas próprias ideias e desejos. Não custa lembrar que o conteúdo do Facebook é gerado pelos usuários, enquanto a plataforma cede o espaço, o que implica não só em deveres, mas também em direitos.