Imagem ilustrativa da imagem Fábula trans é encenada no Filo
| Foto: Cacá Bernardes/Divulgação
Espetáculo será encenado pela Cia Livre, de São Paulo



Após a grande polêmica em torno da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", que por apresentar uma atriz transexual no papel de Jesus provocou um embate entre a classe artística e representantes de movimentos conservadores, a questão de identidade de gênero volta a ganhar destaque na programação do 48º Festival Internacional de Londrina (Filo). Encenado pela Cia Livre, de São Paulo, o espetáculo "Maria que Virou Jonas - ou a Força da Imaginação" fala sobre a distribuição de papéis feminino e masculino entre dois atores trans convidados para estrelar um montagem teatral. Baseada em um ensaio do filósofo francês Michel de Montaigne, a peça será apresentada hoje, às 20 horas, e amanhã, às 19 horas, na Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL.

A montagem, que tem direção de Cibele Forjaz e dramaturgia de Cássio Pires, revela um jogo cênico entre Neo Maria (Lúcia Romano) e Jonas Couto (Edgar Castro). Convidados para participar da montagem da peça "A Força da Imaginação", os dois contam a história de um homem que acaba de voltar para casa após uma aula onde conheceu a fábula de Marie, uma jovem que pela força da imaginação mudou seu sexo. Transtornado com o relato, narra a história à sua mulher – e no dia seguinte a esposa vê surgir em seu corpo um órgão sexual masculino. À mudança de sexo seguem-se mudanças na rotina e na vida a dois – eles não são mais um "casal comum", e ao final, o próprio marido sente crescer os seios e mudar o sexo.

Na peça que acontece dentro da peça, os atores contam ao público seu impasse: quem seria o homem, quem seria a mulher? A plateia participa de um sorteio ao vivo e o espetáculo tem início assim, como que desafiando a arbitrariedade das escolhas. A dramaturgia que Cássio Pires desenvolveu para o espetáculo se baseia em breve registro do filósofo Michel de Montaigne, relatado no ensaio "Da Força da Imaginação" sobre um certo Germain Garnier - habitante de Vitry, na França do século XVI, que nascido Marie, muda de sexo e é aceito socialmente como homem. No processo de criação da peça, a abordagem de Montaigne foi sobreposta a outros relatos contemporâneos sobre os marcadores de gênero (masculino e feminino), flutuações de identidade e as lutas nos campos dos direitos humanos, dos estudos feministas, da militância política e das artes cênicas.

"Maria que Virou Jonas - ou a Força da Imaginação" estreou em São Paulo, no início do ano passado. "Viajamos para várias regiões do País e a reação do público tem sido sempre a mesma. As plateias ficam desconcertadas com essa fábula que fala de uma mulher que percebe um pênis brotando em seu corpo. Neste cenário de obscurantismo e intolerância que tem avançado sobre o Brasil, é muito importante abrir espaço sobre esse tipo de debate", afirma Edgar Castro, ator da Cia Livre, companhia paulistana criada há 17 anos.

Serviço:
"Maria que Virou Jonas - ou a Força da Imaginação", com Cia Livre (SP)
Quando – Hoje (20 horas) e amanhã (21 horas)
Onde – Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL (Av. Celso Garcia Cid, 205)
Quanto – R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)