Você tem uma carreira literária ligada ao conto, mas atualmente está escrevendo um romance. Como surgiu o desejo de enveredar pela narrativa de maior fôlego?
Sempre quis escrever um romance, mas também continuo tomando notas para contos. Outros livros de contos virão. Gosto de ambas as formas e a experiência de realizá-las é bastante diversa. Espero terminar o romance até o fim do ano e publicá-lo em 2015.

Muitos autores afirmam que vivemos um dos melhores momentos da literatura brasileira, tanto em termos de quantidade como de qualidade. Você concorda? Acompanha a produção atual?
Acompanho, na medida do possível. Concordo que vivemos um bom momento, com muitos autores novos e com perspectivas reais de publicação. Ao mesmo tempo, muitos eventos literários se sucedendo e premiações importantes. Tudo isso cria um ambiente favorável à aparição de grandes autores. O desafio é aumentar o número de leitores, para o que é necessário o investimento do Estado em educação de qualidade. Este momento da literatura brasileira coincide com um momento interessantíssimo do País, em que algumas velhas demandas foram atendidas – como a inclusão de setores importantes da população, antes marginalizados, na sociedade de consumo -, mas ainda há muito a ser feito; na verdade, percebo uma enorme frustração com o pouco que foi feito até aqui. Além disso, vivemos um período em que muitos mitos estão caindo por terra, como a ideia de que o brasileiro é cordial. A violência mostra que a ideia da cordialidade tem sido interpretada de forma equivocada. O fato é que este momento riquíssimo do ponto de vista sociopolítico tem que ser acompanhado por uma literatura que seja capaz de expressá-lo, de encontrar a forma e a linguagem mais adequadas para fazê-lo. Esse é o grande desafio. Em muitos momentos, a literatura me parece muito aquém da riqueza de conteúdos que o País propõe, mas acho também que é justamente o crescimento do mercado editorial que vai propiciar o aparecimento de obras importantes e capazes de expressar literariamente a complexidade do Brasil contemporâneo.

Vivemos uma era tecnológica, apressada e de relações "líquidas", para usar uma expressão do sociólogo Zygmunt Balman. Qual o sentido da narrativa, da literatura ou até do livro – que, em princípio, não seriam "úteis" para o dia a dia das pessoas?
A narrativa existe mesmo num mundo de relações "líquidas", assim como a necessidade de as pessoas se comunicarem. Simultaneamente a isso, novas formas de veiculação vão surgindo, de modo cada vez mais veloz. Creio que a narrativa e a literatura continuam e continuarão a ser úteis e o livro poderá assumir novas formas, sem prejuízo do seu valor intrínseco.

Você nasceu e cresceu em Curitiba, onde viveu até 1992. Que diferenças percebeu entre o ambiente cultural/literário da capital paranaense e de Brasília?
Brasília é uma cidade muito particular. É a capital política do País, mas não econômica nem cultural. As pessoas vivem confortavelmente e têm um alto poder de consumo, mas a produção local é pobre. A estrutura arquitetônica e urbanística da cidade dificulta o encontro, a não ser no seio de corporações. Há focos isolados e importantes de movimentação literária, como o centro de estudos de literatura contemporânea da UNB, mas, no geral, quando penso em Brasília, penso em carros andando velozes por uma pista larga, e, à margem dessa pista larga, outra pista, um pouco mais estreita. Uma sensação de abandono e desamparo. Já o ambiente literário de Curitiba parece ter melhorado muito nesses 20 anos desde que parti. Ao mesmo tempo que atraiu figuras importantes da crítica literária, foi capaz de manter em seu território escritores consagrados.