Quais são as características da literatura fantástica? O que a diferencia de outros gêneros literários?
De acordo com os estudos literários, trata-se de um gênero narrativo que lida com a realidade supra-humana, sobrenatural e inexplicável remontando a textos primordiais sobre magia e seres mitológicos, a formas primitivas de medo, a epopéias gregas. Remete também ao gótico do século 18 com seus cenários de labirintos, catapultas, catedrais, ambientes sombrios e noturnos, arcanjos e forças do bem e do mal.
O rótulo engloba sub-gêneros distintos, não?
É difícil definir e delimitar a literatura fantástica. Podemos dizer que ela abrange a ficção científica com suas viagens no espaço e no tempo; a fantasia com sua magia, elfos e dragões; e o horror com seus vampiros, zumbis e lobisomens. Mas hoje em dia existe uma tendência de misturar tudo incorporando outros gêneros de entretenimento como, por exemplo, o policial. O leque ficou mais amplo. Na verdade, rótulo é uma preocupação de mercado. Nossa preocupação é a boa literatura, o texto que faz o leitor viajar por aquela aventura e viver outros tempos e outros mundos.
Quem lê literatura fantástica no Brasil? É possível quantificar esse segmento do público?
É um público grande e cativo de leitores, não só no Brasil como no mundo todo. Basta ver a lista de livros mais vendidos dos últimos anos. Tivemos sucessivos fenômenos de vendas como ''Senhor dos Anéis'', ''Harry Potter'', ''Crepúsculo'' e agora ''Guerra dos Tronos'', da série ''As Crônicas de Gelo e Fogo'', de George R.R. Martin. Aliás, os três primeiros volumes dessa série estão entre os 10 títulos mais vendidos no País.
O curioso é que uma numerosa fatia desse público leitor é formada por jovens, contrariando a ideia de que jovem não lê.
Sim. E são livros grossos, lidos por garotos que não se intimidam diante de 500 ou 600 páginas.
Mas os autores nacionais do gênero estão encontrando público para seus livros?
Há alguns fenômenos também nesse segmento, como André Vianco, autor de cerca de 15 títulos sobre vampiros. Seus livros têm grande tiragem e vendem bem correndo por fora do mercado mainstream. Outro é o Eduardo Spohr, autor de ''Batalha do Apocalipse'', que começou publicando por editoras pequenas e atualmente lança pelo selo Verus, da Record. Há ainda uma série de editoras pequenas e médias investindo em autores nacionais do gênero, como a Tarja, a Draco e a Estronho. O nicho tem crescido acompanhando o aumento da produção. Além das obras individuais, têm sido publicadas antologias, que, apesar de não serem homogêneas, revelam material de qualidade de novos escritores.
O ''Fantasticon'', que você organiza há cinco anos em São Paulo, tem repercutido essas novidades do mercado editorial?
Tivemos, por exemplo, 140 autores dando autógrafos na edição de 2011 para um público de mais de 1.200 pessoas durante três dias de programação. Veja lá no site (www.fantasticon.com.br). As pessoas reclamam que o espaço (uma biblioteca pública na Vila Mariana) já ficou pequeno para abrigar o evento. As próprias editoras já programam seus lançamentos no gênero pensando no ''Fantasticon''.
Você pretende criar um núcleo do ''Fantasticon'' em Londrina?
Com a continuidade do ''Londrina Comic Con'', a proposta é manter atividades ao longo do ano na cidade aglutinando pessoas para troca de ideias, informações e divulgação do gênero. Minha presença esta semana é a primeira etapa desse projeto.