Estranhou a frase, caro leitor? Pois saiba que, segundo o dicionário Aurélio, os vocábulos apresentados são todos existentes. Deixa claro, porém, que cê e ponhar são formas populares e que salchicha é forma assimilada de salsicha. Essa é uma prova de que não se devem considerar os dicionários infalíveis. Muitos são os brasileiros que não sabem exatamente qual a finalidade dos dicionários: eles servem para registrar os vocábulos usados no país, e não para indicar o que é adequado à língua padrão; não servem como gramática.
Esporadicamente pessoas que leem minha coluna ''Pegadinhas'', no UOL (http://vestibular.uol.com.br/pegadinhas) ou que acessam o meu site (www.gramaticaonline.com.br) enviam-me e-mails com o intuito de me corrigir, pois pesquisaram em um dicionário e constataram que o que informei é diferente do que lá está. Isso acontece porque trato em meus textos da gramática adequada ao padrão culto, e os dicionários registram o que a população usa. Um exemplo é o verbo assistir: O Aurélio o registra, na acepção de ''acompanhar enfermo, moribundo ou parturiente para prestar-lhe conforto moral ou material'', como transitivo indireto, ou seja, como verbo que exige preposição; no caso, a preposição ''a'': ''Assistir ao doente''. Já o dicionário Houaiss registra o mesmo verbo tanto como transitivo indireto quanto como direto, ou seja, registra-o com ou sem a preposição, facultativamente; diz, então, que é tão certo ''Assistir ao doente'' quanto ''Assistir o doente''. O cidadão comum pesquisa em apenas um dicionário e encara como verdade absoluta o que lá está registrado. Passa a ter, portanto, a informação colhida também como a única existente. É aí que ocorre o problema. É aí que os estudantes se confundem, pois, como eles mesmos dizem, ''Um fala uma coisa; outro fala outra. Assim não dá!''
DÚVIDA GRAMATICAL
Quando a dúvida é ortográfica (quanto à escrita da palavra) ou semântica (quanto ao significado dela), o dicionário dá conta disso. Quando, porém, a dúvida é gramatical (quanto à estrutura da língua) o que se deve pesquisar é um livro de Gramática, ou um bom site (mas, cuidado, pois há muitos sites não confiáveis na internet). Se assim o fizesse, o jovem estudante teria mais facilidade para aprender nosso idioma, pois quem sempre lê bons textos, acostuma-se com o escrever corretamente e com a estrutura adequada da língua e passa a escrever melhor também. Principalmente os jornalistas deveriam aprimorar-se sempre, para ter textos impecáveis e elegantes e, assim, prestar bom serviço aos leitores. O que ocorre, porém, em muitos jornais e revistas são erros que inúmeras vezes levam à falsa interpretação da frase.
Outro problema jornalístico é o uso informal da língua, na tentativa de se aproximar do leitor e, assim, conquistá-lo. Entretanto, esse uso acarreta a degeneração da língua, pois o texto pobre se torna habitual. Para o cidadão comum se transforma no que é certo, afinal, quem fala MENAS não o faz sabendo estar errado; fala por pensar que é o certo.
DA DO DO PROFESSOR
Há de haver, portanto, a consciência da importância do trabalho do jornalista e da do do professor. Por exemplo, a frase que acabei de escrever; acredito que você a tenha julgado no mínimo estranha: ''da do do professor''? Como assim? O certo não seria ''a consciência da importância do trabalho do jornalista e do professor''? Não. Trata-se de um caso de paralelismo sintático: citei a consciência DA importância DO trabalho DO jornalista e DA importância DO trabalho DO professor, sem repetir as palavras ''importância'' e ''trabalho'', substituindo-as pelos pronomes demonstrativos ''a'' e ''o'' e mantendo as preposições. OK! Exagerei no exemplo; não escreveria essa frase comumente, mas o fiz aqui para demonstrar o quanto simplificamos os textos com a intenção de torná-los mais inteligíveis e atingir mais leitores.
PREOCUPAÇÃO COM A CULTURA
O ideal seria que nós, adultos, nos preocupássemos com a cultura como nos preocupamos com o dinheiro que entra em nossa conta todos os meses. Deveríamos alimentar-nos culturalmente e incentivar as pessoas com as quais convivemos a fazer o mesmo, principalmente aqueles que têm crianças pequenas, em idade escolar. Incentivar não significa ''cobrar'', mas sim dar o exemplo. Quer que seu filho leia mais livros? Leia-os em abundância. Quer que ele estude mais? Seja um pesquisador e mostre-lhe que faz isso por prazer, não por obrigação.
O nosso legado deveria ser educativo, não somente de bens materiais. A nossa maior preocupação deveria ser o desenvolvimento cultural de nossos jovens, mas, de nada adianta somente matriculá-los em boas escolas; o ideal seria levá-los a melhorar sua visão de ''ser cidadão''.