Cibely Pacífico, psicóloga: "A criança deve aprender a identificar as emoções para saber lidar com elas"
Cibely Pacífico, psicóloga: "A criança deve aprender a identificar as emoções para saber lidar com elas" | Foto: Saulo Ohara



Qual é o papel da escola? Esse é um questionamento de partida entre especialistas das áreas de Educação, Psicologia e Neurociência em discussões a respeito da formação humana integral.

Esse movimento tem sido impulsionado especialmente pela terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que está em análise pelo CNE (Conselho Nacional de Educação) e deve ser homologada pelo MEC (Ministério da Educação) até o final do ano.

O documento é um "conjunto de atividades essenciais a que todos os alunos têm direito na educação básica, orientando a elaboração dos currículos e propostas pedagógicas da escolas públicas e privadas e também, políticas para formação de professores, produção de material didático e avaliação."

Nele, o desenvolvimento de competências socioemocionais, como empatia, cooperação e resiliência, ganha força desde a primeira etapa da Educação Básica (educação infantil). A BNCC estabelece cinco campos de experiências para as crianças aprenderem a desenvolver, sendo um deles o autoconhecimento.

"A criança pode não ter o verbal tão desenvolvido ainda, mas ela vê e explora o mundo e por isso, deve aprender a identificar as emoções para saber lidar com elas. É importante que esse conhecimento seja despertado o quanto antes", afirma a psicóloga em Londrina, Cibely Pacífico.

Especialista em Neuropsicologia, ela defende que o papel da escola é desenvolver pessoas e que para isso é preciso envolver a aprendizagem emocional. "É uma tendência", completa.

Caio Lo Bianco: "A presença dessas habilidades sociemocionais na Base Curricular vai chamar a atenção das escolas"
Caio Lo Bianco: "A presença dessas habilidades sociemocionais na Base Curricular vai chamar a atenção das escolas"



O gerente de habilidades socioemocionais da Eleva Educação, Caio Lo Bianco,
comenta que o desejo por uma sociedade com mais compaixão, empatia, com pessoas que saibam trabalhar em equipe e que tenham senso de cidadania, depende de um trabalho intencional nas escolas.

"Todas as escolas vão dizer que trabalham colaboração, empatia, perseverança, mas a questão é que esse trabalho é muito mais intuitivo que intencional. Acho que a presença dessas habilidades sociemocionais na Base é legal porque vai chamar atenção das escolas. Ela vem com esse papel fundamental", observa.

Formado em economia e arte-educação, Lo Bianco reforça que muitas pessoas enxergam o trabalho sociemocional como independente do cognitivo, das disciplinas tradicionais.

"O trabalho socioemocional influencia diretamente no aprendizado por exemplo, de matemática e português. A solução então, nem sempre está nas aulas de reforço, mas no cuidado de questões emocionais", aponta.

EXPRESSÃO
Segundo Lo Bianco, se a criança não souber identificar e lidar com as emoções, a consequência poderá ser um comportamento impulsivo. "Ela vai acabar muitas vezes brigando, chutando, gritando", comenta.

Pensando nesse processo de identificação dos sentimentos, a consultora em Educação, Tonia Casarin escreveu o livro "Tenho Monstros na Barriga", que se tornou uma ferramenta para as crianças, pais e professores.

Tonia Casarin escreveu o livro "Tenho Monstros na Barriga" que se tornou  ferramenta para professores trabalharem as emoções com os alunos
Tonia Casarin escreveu o livro "Tenho Monstros na Barriga" que se tornou ferramenta para professores trabalharem as emoções com os alunos | Foto: Fotos: Divulgação



"O livro surgiu durante meu mestrado em Educação, em Nova York. Percebi que para chegar nas crianças é preciso também educar os pais e os professores, que não sabem como fazer isso porque não receberam essa educação", comenta.

A obra conta a história de Marcelo, um menino que sente coisas na barriga. Ele não sabe o motivo, mas vai contando quando é que esses "monstros" aparecem. Em cada monstrinho contado pelo personagem, a criança é convidada a dizer como acontece com ela.

Imagem ilustrativa da imagem Educação emocional na sala de aula



"Isso ajuda a criança a expressar o monstrinho dela, a identificar as expressões faciais e corporais daquela emoção, seja nela mesma ou nas outras pessoas. O livro ajuda a criar um ambiente seguro para ela poder expressar suas emoções", aponta.

Do cantinho das emoções aos seriados
A autora do livro "Tenho Monstros na Barriga", Tonia Casarin, lembra que os professores não tiveram uma educação socioemocional e por isso, o desafio é prepará-los, ter uma formação continuada.

A psicóloga Cibely Pacífico compartilha do mesmo pensamento. Ela desenvolve um trabalho com os professores na Maple Bear Canadian School, em Londrina, auxiliando-os também na construção de ferramentas a serem aplicadas em sala de aula.

"Uma delas é o cantinho das emoções chamado self regulation. As crianças colocam suas fotos nas cores que sinalizam como elas estão naquele dia. O vermelho é irritado, bravo; o amarelo significa que algo está mexendo com ela, deixando-a confusa; o azul é tristeza e o verde mostra que está tudo bem", explica.

Outra realidade em muitas escolas, especialmente as privadas, é o LIV (Laboratório Inteligência de Vida), um programa de habilidades socioemocionais criado há três anos no Eleva Educação.

O coordenador Caio Lo Bianco explica que ao adquirir o programa, a escola precisa incluir a aula de educação sociemocional na grade curricular. "A escola precisa viver essa cultura", afirma. O programa contempla material, acompanhamento na implantação e treinamento de professores.

O LIV trabalha a inteligência emocional do ensino infantil ao terceiro ano do ensino fundamental. "Criamos um ambiente onde todas as emoções são aceitas, trabalhando com a ideia de que podemos escolher o que fazer com esse sentimento, pois é impossível evitá-los e controlá-los", conta.

Para o trabalho de alfabetização emocional, o material traz o lobinho Tomás como personagem principal. Já para os alunos do ensino fundamental II a instituição criou dois seriados, com duas temporadas cada, para desenvolver habilidades de colaboração, comunicação, criatividade, pensamento crítico, proatividade e perseverança.

"Cada episódio abre uma aula. Então, ao invés do professor ficar na teoria, o acontecimento com os personagens são levados à discussão. Os alunos ficam mais engajados, pois precisam ser atingidos de forma diversificada", explica. (M.O.)