Era um dia de aula como outro qualquer. Uma conversa bem animada na sala de aula. O foco do assunto era ''Papai Noel'' e sua história. A professora percebeu que muitos tinham apenas a visão concebida pela mídia, do bom velhinho entrando pela chaminé carregando um imenso saco vermelho nas costas recheado de presentes. Muitos deles eram respostas aos infindáveis pedidos de crianças do mundo inteiro.
''Mas eu não acredito mais em Papai Noel!'' - ouviu de um aluno que estava sentado no fundo da sala. Um coro juntou-se a esse aluno, argumentando a mesma posição.
''Professora, as pessoas se esqueceram do verdadeiro sentido do Natal. Agora só pensam em comprar e comprar, sem se preocupar com os gastos. Preocupam-se com as festas, decorações. Ouvi na TV que acontecem muitos acidentes de trânsito na época dos feriados. É uma pena, já que deveriam celebrar o aniversário de Jesus, juntamente com suas famílias. Essa sim deveria ser a grande festa.'' Um súbito silêncio percorreu a sala. Identificou nos olhos dos alunos uma certa tristeza. ''Crianças pensando como adultos''.
Uma ideia, então, surgiu da discussão. ''E se escrevêssemos ao 'Papai Noel', expondo nossos pedidos e preocupações? Sabemos que sua história é antiga, mas a magia do Natal envolve a todos nesta época do ano. Poderíamos ao menos compartilhar com a turma nossas opiniões. O que acham?''
Concordaram de imediato. Como professora pensou em mais uma pilha de textos para corrigir, mas o esforço seria gratificante.
De lápis e papel à mão, discutiram o que era necessário constar numa carta. O trabalho foi realizado. ''É incrível como se concentram quando suas opiniões estão em jogo!'', pensou, observando sua turma de 4 série cuja maioria era de crianças entre 9 e 10 anos.
Um a um, entregaram os textos, com margens e ilustrações bem coloridas. O Espírito do Natal passara por ali naquele momento. Pediu aos alunos se poderia levar os textos para casa e ler, fazer algumas correções que fossem necessárias e no dia seguinte traria para serem lidos e divididos com o restante da classe.
Jamais imaginaria que, entre as produções, uma cartinha tão singela fosse tocar tanto o coração dela. Eram tantos pedidos, tantos bens materiais que achou graça. ''São apenas crianças!''.
Foi quando a tal cartinha chegou em suas mãos. Já de início, a saudação era no mínimo íntima : ''Querido Noel''. Uma das alunas não apenas expôs sua gratidão, como em poucas palavras, compartilhou uma história emocionante.
Contou que recém-nascida, contraiu meningite e ficou mais de um mês no hospital entre UTI e internamento. Os remédios eram caros e sua família não dispunha de condições para arcar com as despesas. O sofrimento era imenso. As sequelas, esperadas. Então nas palavras da aluna, a professora leu: ''Foi quando um homem vestido com moletom preto, de capuz, entrou no quarto e deu uma sacolinha pra minha tia. Dentro estavam os remédios que eu precisava. Minha tia e minha mãe ficaram tão felizes que esqueceram de agradecer ao homem e quando tentaram encontrá-lo, ele não estava mais lá. Minha tia procurou no hospital inteiro, perguntou a todos no corredor, na portaria e ninguém tinha visto o tal homem que minha tia descrevia. Alguns até arriscaram dizer que talvez tivessem visto alguém daquele jeito, mas só entrando no hospital. Não o viram sair de lá.''
As lágrimas vieram. A professora sabia que não havia ficado nenhuma sequela. E a aluna continou: ''Sabe Papai Noel, eu não quero pedir nada pro senhor. Tenho minha família, meu pai e mãe. Minhas irmãs. O que eu precisava, Deus já me deu! Sou uma 'Vitória'. Obrigado!''. E assinou a cartinha.
No dia seguinte, a professora pediu permissão à aluna para ler o texto em voz alta. Os outros alunos, ao final da leitura não conseguiam esboçar reação alguma. Estavam tocados. Somente olharam para a colega de turma e disseram tudo o que sentiam com os olhos. Foi um dia mágico.
Que o Natal seja isto também. O inesperado, a celebração da vida, o amor ao próximo, a solidariedade. Partilha!
Um Feliz Natal a todos!

Cláudia Poppi é professora em Rolândia