Os alunos têm entre 10 e 11 anos e chegam cheios de energia para conhecer o Espaço de Educação Ambiental disponibilizado há três anos na antiga Fazenda Santa Terezinha, que hoje faz parte do campus de pesquisa da Embrapa Soja. Há dois anos a instituição mantém parceria com a Folha Cidadania, levando conhecimento sobre educação ambiental a centenas de crianças. Na última quarta-feira, foi a vez de 25 alunos da Escola Municipal Cecília Meireles, de Cambé, conhecerem o projeto que integra o programa Embrapa & Escola.
Após um bate-papo introdutório sobre as atividades que iriam realizar, os alunos puderam conhecer a Tulha de Café, um espaço que preserva fotos históricas sobre o auge e a decadência da produção cafeeira no Paraná há cerca de 30 anos. Além disso, objetos antigos, como o ferro de passar a brasa, encerador, moringa e peneiras para abanar o café puderam ser conferidos pelos alunos.
Sob olhares atentos, o coordenador do programa Embrapa & Escola, Fábio Rogério Ortiz, falou sobre a prática da derriça do café (retirada manual dos grãos de café dos galhos), que muitas vezes chegava a ter a participação das crianças. O trabalho de limpar o café com as peneirasá - para ''abanar'' os grãos, tirando pedaços de palha e outras impurezas - pareceu fácil, mas a primeira impressão mudou logo que foram informados que era comum serem colocados de 10 a 15 quilos de café na peneira a cada vez. ''Era um trabalho difícil, esses trabalhadores tinham as mãos cheias de calos e devemos sempre lembrar que a nossa cidade e região foi construída com o esforço e dedicação dessas pessoas'', ressaltou.
Em seguida, visitaram a Casa dos Elementos, onde puderam conferir a exposição ''Pegadas da Natureza'', inaugurada este ano, com belas fotos de animais da fauna brasileira produzidas pelo fotógrafo Ronaldo Renan Rufino. Arara-azul, porco-do-mato, mico-leão-da-cara-preta, caranguejo maria-farinha e sucuri fazem parte das espécies apresentadas, com legendas explicativas. No local, também é possível conferir balcões de exposição de sementes, folhas e rochas.

Trilha ecológica
Uma das partes mais esperadas foi a da trilha ecológica interpretativa realizada pela mata que se reconstituiu espontaneamente após a área de pasto da fazenda ser desativada. Pela exuberância da vegetação, com mais de 50 espécies vegetais catalogadas, chama a atenção o quanto a natureza por si só consegue se regenerar, sem a intervenção do homem. Logo no começo da trilha, a visão de um muro de arrimo destruído mostra também o poder das águas da chuva.
Como pequenos desbravadores, observando cada detalhe, como as placas dos nomes das árvores, as teias de aranha, as borboletas do local e os fragmentos da paineira pelo chão - que lembram pedaços de algodão -, os alunos foram adentrando a mata. Nas explicações sobre a composição do solo, o resultado do efeito do intemperismo (desgaste natural das rochas sob reações químicas e físicas) e o perigo do assoreamento dos rios. O clima fresco no interior da mata também serviu de mote para falar da função reguladora da temperatura que as florestas exercem. A vegetação ainda ganhou destaque pelo importante papel de proteger o leito dos rios, denominada assim como mata ciliar.
Na parte do elemento água, informações sobre a riqueza do patrimônio hídrico da nossa região antecederam a observação da nascente que dá origem ao Ribeirão dos Cágados, que foi represado no local, e é afluente do Rio Tibagi. De forma bastante didática, ouviram sobre a inter-relação das nossas atitudes diárias com a qualidade da água que consumimos. ''As pessoas costumam dizer que temos que deixar um planeta melhor para os filhos, mas na verdade acredito que temos que deixar filhos melhores para o planeta para que preservem e cuidem do que ainda temos'', abordou Ortiz.

Sustentabilidade
Dentro do ciclo da sustentabilidade, a necessidade de haver uma relação harmônica na natureza entre os elementos construtores, consumidores e decompositores também foi destacada. ''Mesmo longe das florestas, nossas ações do dia a dia causam impacto na natureza. Precisamos fazer o destino correto do lixo, reciclar, e observar a nossa necessidade de consumo, que muitas vezes é exagerada'', pontuou para as crianças.
A visita também vai contribuir para enriquecer o trabalho de produção de texto dentro do gênero relato de experiências vivenciadas. ''É uma sequência didática do que estamos estudando e com certeza os alunos vão levar um significado muito maior de presente da natureza. O resgate histórico também foi algo bem interessante, ressignificando a importância de conhecer o passado para compreender o presente'', ressaltou a professora Vera Cleusa Pryjma, responsável pelas disciplinas de português, geografia e história. ''Eu estou maravilhada com o que vi e aprendi. Acho que todas as crianças e todos os professores deveriam conhecer o projeto'', acrescentou.
Segundo Ortiz, a intenção é ampliar o projeto para a capacitação de professores que tenham interesse na área ambiental, disponibilizando o local para o uso de mais escolas. ''A ideia principal é sensibilizar as pessoas sobre o assunto, ver a sua aplicabilidade na vida real, porque já há muita informação'', afirmou.
Após o lanche e foto oficial na entrada principal, hora de voltar para casa de ônibus escolar. No caminho, campos de plantio de soja, terra vermelha, revoada de pássaros, distribuição de kits educativos sobre o projeto - com informações didáticas, caça-palavras, quebra-cabeça - e a certeza de uma experiência na natureza bem vivida.

Serviço:
Mais informações sobre o projeto pelo tel. (43) 3371-6062