Rio - As emoções e os conflitos típicos da adolescência registrados no diário de Maria Mariana já viraram livro, peça de teatro e série de TV. Agora, 21 anos depois do sucesso de público, "Confissões de Adolescente" vai virar filme. Não importa quanto tempo passe, os dilemas enfrentados pelas quatro irmãs mostram que o sentimento não muda quando o assunto é experimentar a "primeira vez".
O diretor Daniel Filho, que trabalhou em 52 episódios da série - dirigiu 37 e produziu outros 15 -, é quem orienta as jovens atrizes Sophia Abrahão (Tina), Malu Rodrigues (Alice), Bella Camero (Bianca) e Clara Tiezzi (Karina), em parceria de longa data com Cris D’Amato. "A Cris aceitou meu convite. Temos uma ligação muito grande. Estamos nos sentido os irmãos Cohen", brinca o diretor, que falou à reportagem no set montado no Polo de Cinema, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, onde durante quatro semanas ocorreram as filmagens do longa produzido pela Lereby.
Para manter a espontaneidade das garotas em cena, ele decidiu dar o roteiro, adaptado para o cinema pelo jovem Matheus Souza, apenas momentos antes de cada gravação. "Não é um filme em que o texto é elaboração importante para se chegar ao personagem. Não pede essa profundidade, porque é a emoção que conta."
As meninas decoraram o texto na hora. Mas Sophia não reclama. "A gente recebeu o roteiro na hora, mas não tinha essa de ser exatamente o que estava escrito. Tinha liberdade pra gente." A colega de elenco, Bella, que como Sophia também atuou em uma das montagens para o teatro, concorda. "Daniel foi muito aberto às nossas opiniões. Perguntava o que a gente achava da cena, da frase."
A codiretora aprovou o método de Daniel Filho. "Não tinha que se concentrar, pensar o subtexto, porque aquele diálogo faz parte do cotidiano delas", lembra ainda Cris.
Apesar de tentar evitar similitudes com a série, o diretor manteve o núcleo familiar composto pelo pai e as quatro filhas. O chefe do clã, Paulo, é interpretado pelo ator Cássio Gabus Mendes. "A princípio, parece uma coisa meio infanto-juvenil. Mas não é. Ele traz discussões muito sérias e isso me agradou no roteiro", diz o ator. Ele faz o papel que na série foi interpretado por seu tio, o ator Luis Gustavo. "Ficou na família esse pai aí, com duas gerações diferentes", brinca.
Mas "Confissões" não seria o mesmo sem as protagonistas da cultuada série televisiva que chegou a ser indicada para o Emmy internacional. Por isso, Daniel Filho tratou de escalar Maria Mariana, Daniele Valente, Giovanna Goes e Débora Secco para o filme. Ele conta que chegou a cogitar a ideia de que o filme fosse mais ligado ao seriado e mostrasse como estariam as personagens 21 anos depois. Mas achou que o resultado não seria bom. Seus papéis são o que Cris define como "participação afetiva". Além de atuar no filme, Maria Mariana, a responsável pelo sucesso que permanece na memória de toda uma geração hoje na faixa dos 30, 40 anos, também prepara documentário sobre a trajetória de "Confissões", dos palcos à telona.
Os dilemas da adolescência presentes no roteiro da década de 1990 permanecem atuais. "Quando a gente pensa em como são os problemas de determinada idade, acaba indo em direção à mesma construção. Houve uma mudança de comportamento nesses 21 anos, mas não de sentimentos", reforça Daniel Filho. O que muda, na visão do diretor, é a acolhida que recebem os jovens de hoje, não só pela família, mas também pela sociedade. "Se toda a sociedade ficou mais tolerante ou mais compreensiva com o comportamento da parte sexual de uma garota de 15 anos, se ela tem mais liberdade ou mais apoio em casa, não mudou na menina o sentimento que ela tem do primeiro beijo, da primeira transa, do que fazer na faculdade, do relacionamento com os irmãos." O filme deve estrear ainda neste ano.